segunda-feira, 26 de julho de 2010

Nunca se entra duas vezes no mesmo RIO!

Heráclito de Éfeso dizia que a única constância presente nas coisas é a inconstância. Tudo muda o tempo todo, só não muda o mudar. Dizia também que a mudança tem origem na polemos, ou seja no conflito, na guerra. São os opostos criados pela guerra que levam as coisas a mudar. O elemento que representaria melhor essa idéia era o fogo segundo Heráclito. Fui ao Rio de Janeiro e me lembrei de Heráclito.

Interessante é que se atribui a Heráclito a frase: "Não se entra duas vezes no mesmo rio". Esta seria uma metáfora explicativa da teoria de Heráclito. Se tudo está mudando o tempo todo, então o rio seria uma boa figura pois ele é uma corrente, um fluir constante. Mas talvez o rio a que se referia Heráclito não fosse o aquele fenômeno hidrográfico (potamos), mas o Rio de Janeiro.

Garanto que a metáfora tornar-se-ia ainda mais rica. Pois se o que gera a mundança de Heráclito é o conflito, este é muito mais abundante no Rio que nos rios em geral. O Rio de Janeiro "vem-a-ser" o que "vem-a-ser" pela  gritante oposição dos contratos. Por favor, não reduzam o que estou falando a luta de classes!!!!!! As oposições são muitas e muito além daquela que existe entre a zona sul e a zona norte.

Há um Rio que encanta e um Rio que espanta, um das fadas outro das bruxas, se um abençoa o outro joga praga, um hipnotiza o outro paraliza.

Vi um Rio idílico e edênico no Jardim Botânico. As árvores se contorciam pareciando posar para fotos que não podia tirar, não levei máquina e meu celular malemá manda mensagem. As palmeiras-imperiais perfilavam-se em continência para que eu, tomado de constrangimento no meio delas, passasse como que recebendo uma homenagem. As orquídeas, as bromélias, as costas do Cristo lá no alto... Ele apesar de estar de costas passeia exibido no meio de tanta exuberância.  Mas é só dar um passo para fora do jardim que a selva de pedras e asfalto volta a imperar insana de tantos carros, ônibus e uma miríade de outras coisas. A cidade volta a se tornar cronicamente inviável, incaptável, inexprimível. Seus Baudelaires, Benjamins e outros reportadores calam-se.

Há um Rio onde tudo parece novela, cheguei a olhar para os lados para flagrar alguma falha do cenário. Cheguei a esperar pela vinheta que anuncia o intervalo, achei que iria encontrar com alguma Helena de Manuel Carlos. As pessoas tem voz de artista, as senhoras negras vestidas de branco balançam contentes os filhos louros do leblon em belos parques. Mas há também o Rio em que os sotaques vão mudando o charme e o glamour dão lugar a crueza e ao pragmatismo cotidiano e sem frescura. Há garotas de Ipanema, mas há também as pobres garotas (de programa) de Copacabana.

Poderia me alongar em muitas outras imagens e impressões, poderia repetir a fórmula dos últimos dois parágrafos por mais vinte ou trinta, mas basta. Voltemos ao velho Heráclito. O que dizer do Rio? Não se entra nele duas vezes. Não é um, não tem identidade, não se repetirá. Por isso mesmo voltarei logo que puder, não a este (que já nem é mais), mas a um outro próximo, quem sabe!?

M.U.C.C.

Os maestros dos futebol

Estou vivendo tempos interessantes. As coisas parecem fora de lugar, o mundo anda nonsense.

Fui a um concerto do Festival de Música de Londrina e fiquei pensando em futebol.

Um silêncio absoluto, confortável e raro. O maestro se prepara, a orquestra o obedece, o som rompe o silêncio e a música nasce.

Um concerto é um acontecimento extremamente estimulante, coloca meus ouvidos para pensar. Não consigo perder um minuto. Sem perceber, toda minha mente se põe a dançar.

Toda a cabeça se movimenta ao ver e ouvir a orquestra argumentar notas e mais notas com firmeza e eloquência. Debulho-me em epifanias e orgasmos intelectuais, tentando não me distanciar demais do próprio concerto.

Em um dado momento me lembrei do futebol.

É estranho como de uns anos pra cá os técnicos passaram a ser tratados como maestros. É mais estranho ainda perceber como muitos vestiram a carapuça. Cada vez mais vemos técnicos que só faltam entrar em campo de fraque, carregando batuta debaixo do braço, nariz angulado em 45º ou mais.

Na tradição da música erudita o maestro é realmente a figura central nas orquestras. A música de concerto é toda estruturada, da composição à performance, a partir desta hierarquia. Nesta forma de arte não há improviso, variação ou adaptação de momento, tudo deve se passar conforme previamente planejado pelo Maestro.

Esta idéia porém, não cabe no futebol. Em uma sinfonia não pode haver drible, o spalla não pode sair improvisando melodias. Tudo deve ser feito conforme o ensaiado. Se é isso que querem do futebol, me avisem para eu mudar de esporte.

Futebol bom mesmo é dos técnicos discretos, quase imperceptíveis como os bons árbitros. Nos terreiros, campos ou "soccer cities", futebol é arte de se fazer na hora, ao gosto do momento, no calor da peleja ou ao som das vuvuzelas. Boa lição deu o técnico da Espanha. Ele fala? Ele ri? Está triste? Gostou da Larissa Riquelme? Ninguém sabe e nem quer saber. Na Espanha o assunto é Casilhas e sua namorada, Iniesta, Fábregas,....

Os verdadeiros maestros do futebol brasileiro foram Didi, Ademir da Guia, Pelé, Gerson, Rivelino, Zico, Sócrates, Rivaldo.... e se tiver que colocar na lista algum técnico que seja o Bernardinho!

M.U.C.C.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobre o meu texto II

Quase sempre quando vou utilizar este espaço, sinto-me pressionado a cumprir corretamente as regras de nossa língua.

Ingenuidade minha, a linguagem nasceu antes da gramática!

M.U.C.C.

domingo, 11 de julho de 2010

Enfim, 15 dias vivendo como um eupátrida!!!!!

Hoje quando acordei tive vontade de escrever um texto aqui. Um texto que fosse nojento, que chocasse o leitor, que lhe causasse um desconforto como andar com o tênis molhado ou ficar com a mão melada e não ter onde lavar. Fiquei compondo metáforas escatológicas, pensei em usar palavrões, falar desavergonhadamente coisas que fariam Dercy Gonçalves corar. Pensei em escrever uma (micrô)nica de terror, víceras...feridas...sangue...grosélia...ketchup....

Você, meu improvável leitor, pergunta, mas a troco do quê? A troco de nada, sô! Violência simbólica gratuita! Vontade de fazer o papel do bandido, vontade de ser lobo-mau. Vontade de não receber apoio, de não ser compreendido, queria ser mal-interpretado! Tá chocada, bem? Está me estranhando?

Com um pouco de sinceridade intelectual você concordará comigo, isso não é tão raro. Não se trata de idiossincrasia minha. O que fazia lotar as arenas e coliseus de Roma? O que faz subir a audiência do BBB em dia de eliminação? O que nos faz rir das videocassetadas? Qual a origem do sucesso dos vídeos de autópsias na internet? E o gosto pelas fofocas? Quanto mais cabeluda, quanto maior o infortúnio, a vergonha, tanto melhor!

Essa maldade latente a mim parece uma espinha. Nasce de nossos problemas e desordens internas, crescem de nossa incapacidade de nos livrar das toxinas que absorvemos no dia-dia. A vida ordinária nos obriga a engulir tanta porcaria que chega uma hora que já não podemos mais as expelir. Produzimos então a espinha da alma, a maldade banal. O prazer em pisar o inseto encurralado, a risada depois da queda de uma senhora debilitada, o gosto pela ofensa, o palavrão, o difamar. É uma manifestação feia que de tão recorrente se torna transparente para nosso juízo moral. A maldade cotidiana no fluir da vida passa a não parecer má. 

Esse texto, espero que você tenha percebido, de certa forma matou a minha vontade matinal. Domada a maldade, atenuada sua adstringência, ela até que serviu a um bom fim. Penso que a tendência é diminuírem minhas espinhas nos próximos 15 dias, começou hoje minhas férias!!!!!!!!!

M.U.C.C.