sexta-feira, 20 de agosto de 2010

As curvas do violão brasileiro: brevíssima genealogia do violão brasileiro.

O Brasil parece para um observador mais rabugento um país torto. Um retrato sem foco ou um quadro que ameaça cair da parede e só permanece preso por uma das extremidades. Como já afirmou um intelectual certa vez, um país onde as idéias parecem sempre fora de lugar. Fomos o país da independência feita para manter os vínculos com a família real portuguesa, o país do parlamentarismo às avessas, dos liberais que agiam como conservadores e dos conservadores que agiam como liberais, o país da república oligárquica. Somos o país da esquerda que quer parecer direita e da direita que quer parecer esquerda, não sabemos se somos o país mais pobre entre os ricos ou o mais rico entre os pobres. Somos o país do carnaval, autoproclamada maior festa popular do mundo, da nudez e do turismo sexual, mas também somos um país onde país e filhos dificilmente tocam neste assunto sem que um deles deixe transparecer sua vergonha no rubor das faces.

Mais olhando com mais doçura e simpatia poderíamos também dizer que somos um país da curva. Não me refiro unicamente às curvas do corcovado, das formas de Niemayer, das obras de aleijadinho, das mulatas de Di e até das calçadas de Copacabana, para completar o clichê. Penso em uma curva que não termina, que não deixa revelar seu fim, que gera em nós um leve desconforto centrífugo, que não nos traz seguranças, mas não nos mata a esperança totalmente. Ela, a esperança, permanece dormindo sono inquieto, ora ronca longamente, ora ressona suavemente, por vezes parece sorrir provavelmente sonhando e de vez em quando resmunga.

Este país curvo só podia ter se apaixonado musicalmente pelo violão e suas corcovas. Desde Villa-Lobos que o transformou em coisa séria, instrumento digno, "feitiço decente", até Lenine que o faz soar como Guitarra, temos uma longa e rica genealogia de violonistas brasileiros. Convido você a descobrir ou relembrar  alguns desses curvilíneos artistas brasileiros em uma pequena sequência de vídeos, uma pequena genealogia youtubeana. Assista, comente, acrescente e discorde!

M.U.C.C.

Choro N° 1 (Heitor Villa-Lobos) - Turibio Santos


Villa-Lobos deu a luz a um violão com auto-estima e orgulho próprio. Nos aceitamos brasileiros e violeiros.

M.U.C.C.

João Gilberto - Sampa


joão.

M.U.C.C.

Baden Powell - "Samba da Benção" - Programa Ensaio


Baden tem qualquer coisa divino, é um João Gilberto Banto.

M.U.C.C.

Águas de Março


O malabarista da voz e a escola de samba em duas mãos ao violão, João Bosco.

M.U.C.C.

Toquinho improvisando


toquinho toca um violão "boa gente", sempre de melodias doces e claras. Foi autor de canções que estão arquivadas na cabeça de quase todos os brasileiros.

M.U.C.C.

Moraes Moreira - Brasil Pandeiro ( A História dos Novos Baianos e Outros...


outro que merece seu quinhão nesta genealogia é moraes moreira e pepeu gomes (bem representado neste vídeo pelo filho de moreira Davi Moraes), fizeram uma música antropofagicamente brasileira.

M.U.C.C.

Raphael Rabello - Samba do Avião!


O pelé do violão brasileiro! Raphael Rabello

M.U.C.C.

Sergio and Odair Assad - Andante/Allegro from "Tango Suite"


Badi teve a quem puxar, seus irmãos Sérgio e Odair fazem do violão um garanhão puro-sangue absolutamente domado que marcha elegantemente e é capaz dos mais belos saltos.

M.U.C.C.

Yamandu Costa - Disparada

Yamandú é o Leviatã do violão brasileiro!

M.U.C.C.

Ai Que Saudade D'ocê - (Impossible vocal)!



e tem gente no Brasil que não sabe quem é Badi Assad!
Badi é violão brasileiro tipo exportação, musica brasileira multinacional!
M.U.C.C.

Lenine - "Magra"


fim de linha da genealógica. Lenine - urbano, metropolitano, pernambucano.
M.U.C.C.

domingo, 8 de agosto de 2010

Domingo

Tenho muita saudade dos meus anos de estudante.

Tenho saudade porque levava a vida como o time do Santos, os ditos meninos da vila, minha vida era "futebol moleque".

Naquele tempo, não faz tanto tempo assim vai, eu não contava piadas, eu vivia piadas. Raramente falava sério, raramente levava algo a sério e raramente me levava a sério. Por isso ia mal no colégio? Na faculdade? Não. A vida só era menos densa, parecia mais fácil levitar. As músicas, como as piadas, pareciam sair de dentro de mim.

Eu era matéria tão volátil que ao cantarolar uma música dos Beatles virava temporariamente astro inglês do Rock'n Roll. Já fui tropicalista, fundei o clube da esquina, organizei Woodstock, resisti à ditadura, enganei a censura, fui exilado em seatle onde virei grunge, pero no mucho. Toquei guitarras e mais guitarras imaginárias e fiz muito sucesso.

 Também fui intelectual renomado, livros traduzidos, conceitos repetidos pela boca de inúmeras jovens universitárias lindas, que não sabiam do que estavam falando, evidentemente. Dei muitos depoimentos em programas de televisão, assumi cargos importantes e refugiei-me em uma pequena chácara recôndita.Vi meu time campeão mundial dezenas de vezes, fui perseguido pela imprensa, odiava os paparazzi.

Há um momento em que a Imaginação se quebra, de um lado fica a imagem e do outro a ação. Hoje sou cada vez coisas demais para poder sonhar ser outras. De um lado ficaram as imagens, as projeções, idealizações, do outro a ação, a vida, a prática, a realidade. Não é que a imaginação acabou, ela só não me convence com a mesma frequência.

Bom ou ruim? Não se trata disso. Só toquei nesse assunto porque hoje é domingo, esse dia me faz ficar nostáugico.

M.U.C.C.