sábado, 29 de outubro de 2011

Distância e Proximidade

Um genocídio de formigas não fará manchetes de jornal. Nem levará gerações de historiadores a refletir sobre suas origens e consequências. Assim também a beleza de um ser não se pode conhecer verdadeiramente antes de se aproximar dele a mais ou menos um palmo. Sentimos numa relação de aproximação e afastamento. Gostar, amar, apiedar-se é chegar mais perto.

Não há situação mais clara para representar isso do que cruzar a calçada para não encontrar alguém ou para provocar o encontro. Quando era aluno, me habituava a ver meus professores à uma certa distância. Normalmente eu sentava no fundo, não por comportamento, mas por tamanho mesmo, e de lá eles tinham uma determinada proporção e suas expressões eram reinterpretadas por mim de uma certa maneira. Era muito curioso que quando eles se aproximavam para olhar a tarefa ou coisas assim eu percebia que eles não eram como eu imaginava. A textura da pele, o contorno dos olhos e as expressões mudavam muito. Eles passavam a ter outro significado depois que se aproximavam.

Assim também hoje com meus alunos, não há como estar próximo de todos , mas sempre existem aqueles que são mais corajosos, atirados, ou que pelo passar natural do tempo vamos nos tornado mais próximos. Esses deixam de ser alunos, passam a ser amigos. Gostaria de ser assim com todos, mas não há como. Entre os doze apóstolos de Jesus Pedro, Thiago e João pareciam mais próximos. E eram apenas doze. Resta-nos, ao vê-los formados, sonhar que voarão e serão felizes.

Pode ser que se desenvolva afeto por pessoas sem a menor proximidade. Mas nada que se compare a estar a um palmo de distância. Só se conhece a verdade dos grandes pintores quando podemos esquecer suas imagens e só ver as pinceladas. Só conhecemos de fato um compositor quando nos arrogamos a tarefa de tentar executá-lo. Os planos abertos são bonitos no cinema, mas o amor é sempre um close.







M.U.C.C.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Submundo



Este domingo acordei tarde e tive que almoçar sozinho. Fico pensando que os almoços não foram feitos para a solidão, quando o inventaram pensavam em pessoas que por já ter alcançado algum progresso civilizatório estariam cercados por uma família, grei, comunidade e fariam daquele momento algo mais do que nutrição pragmática. O almoço celebra a vida urbana, sedentária, comemora a cultura no sentido mais original que esta palavra pode ter.

A própria ideia de restaurante já indica que o que se fará naquele lugar é mais do que simplesmente nutrir-se, mas hoje as pessoas comem como se fossem carros em um posto de gasolina. Fui a uma lanchonete chamada Subway. Nada contra esta empresa (olha o medo do processo), que oferece produtos em qualidade superior aos seus concorrentes e que é sem dúvida útil às pessoas em seus agitados cotidianos. Mas o nome do recinto me fez pensar. Me parece que estamos escolhendo o caminho de baixo e não o caminho das coisas elevadas. Preferimos regredir em nossas relações sociais em nome de um suposto avanço tecno-cultural. Literalmente deixamos de usar os garfos e voltamos a comer com as mãos, enfiamos barbaramente a cara no sanduíche e nos digladiamos com a presa indefesa.

Se o consumo nos barbariza existem outras dimensões deste pântano. Aprendemos  a cultuar o underground sem nos darmos conta do que isso significa. Há um apreço pela marginalidade, pela autodestruição, pelo vazio moral e pela malandragem, que rejeita o que talvez haja de mais valioso em nossos padrões sociais que é o aperfeiçoamento ético-moral. De repente ficou bonitinho posar de bad e fazer caras e bocas.  Hoje o que mais ouço nas fúteis entrevistas de celebridades é a asquerosa frase: "não me arrependo de nada". E todos batem palmas! Será muito perceber que uma afirmação deste tipo ou aponta para um quadro de psicose ou para uma duplicidade moral em que se diz uma coisa e se sente outra? O mal é sempre o outro, o sistema, a PQP, mas nunca se pensa em um caminho de aperfeiçoamento próprio. Pelo contrário, orgulhosamente ostentamos nossos defeitos como medalhas, lambemos nossas feridas diante da nuvem WWW.




M.U.C.C.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sopa de letrinhas

Procuro frases minhas em uma sopa de letrinhas qualquer. Enquanto procuro, penso que talvez seja mesmo só uma sopa.

Não tive chance de falar quando ainda planejava lhe dizer algumas coisas. Foi-se com o frescor, que levou também as brumas da manhã. Veio o sol, o girassol e a noite. Ficamos eu e o retrovisor procurando por esquinas e transversais, sempre em vão é claro. Mas se pudesse o que diria? Tudo ou nada? Só mais um Chá(t) ou um café?

Sou assim, eu e espelho. Julgando futuros, matando passados, correndo presentes. Pensei em me arrepender, o que seria a melhor coisa a fazer, sempre é, mas ainda não me dei esse luxo. Pensei, e já me dei por satisfeito.




M.U.C.C.

Olimpo




Por quem choram os deuses do olimpo?
Será que são capazes de compaixão?
Amariam eles a morte como nós amamos a vida?
Desejariam o imperfeito como nós a perfeição?
Ou seriam só deuses mesmo?





M.U.C.C.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A moça chamada Liberdade

Não sei se mancha, não sei se mata, não sei se é manha ou se é manhã, não sei.

Juro, não sei nem mesmo a cor. Se branco que intimida, se preto que esconde ou se vermelho...bem, se for vermelho basta.

Que gire, que seja, que voe!

Que a liberdade tenha um sorriso amplo de felicidade, um longo cabelo e longas tranças e baixe no corpo de uma atriz. E que ela viva todos os nossos papéis desgraçados e que os subverta em alegria e leveza.

E se manchar que manche e se borrar que borre e que venha a manhã e o novo dia.




M.U.C.C.