segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Fome Zero?

Quero escrever, mas não se pode escrever com fome.
Devo fazê-lo, contudo não é prudente falar da comida.
Posso escrever sobre a fome, mas não sobre ela.
E de qual fome falar?

Jornais não se obrigam nem mais ao verossímil,
os sábios tudo sabem e nada dizem
Os loucos fazem o oposto.
E de qual fome falar?

Um cachorro apanha na tela.
Uma pequena morre calada.
Todos só sabem ter um Grande Amigo.
E de qual fome falar?

Boeiros pulam, prédios caem e formam-se rios em Janeiro.
As águas de março já faz muito passam mais cedo.
Há onde não chova também.
E de qual fome falar?

Ainda existem escolas?
Ouvi falar em faculdades.
Mas os poetas, pai de todos os artistas, já morreram certamente.
Desgostosos de certo.
E de qual fome falar?

Sei de nada?
Sei de mim?
Sei que sei?
O que é que é o saber?
Não sei se sabem, mas não sabem mais a resposta.

Ah, sim! Sei. Tenho Fome!


M.U.C.C.

A distância entre as palavras

Só   Rio
Sou  Risos
SoL   Rio
Soul    Risos
SouR    Rising



M.U.C.C.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Assiduidade


Poucas sempre, mas intensas as visitas da Ternura. Vem sempre sem avisar, diz que não gosta de incomodar. São sempre muito rápidas também. Tem um outro compromisso, diz, mas duvido. Não ficou nem pro cafezinho, antes que a água fervesse já juntou suas coisas, deu uma rápida olhadela no espelho, afagou levemente o cabelo, desculpou-se culpando verdadeiramente o tempo e foi. 
Conversamos pouco é claro, mas o tema central da visita trazia nos olhos. As conversas dos olhos acontecem muito mais rapidamente. Foram eles que disseram que já não lhe restam muitos a quem visitar. Confunde-na com a Sr. Pieguisse de quem tem medo os elegantes, ou com a Dona Fraqueza a quem todos temem. A grande turba de gentes entretanto não a confundem, antes fosse pois já não a reconhecem.
Eu mesmo envergonhei-me com a notícia. De tantos fundos de poço, de tantas paredes de labirinto, de tantas escamas e tantos calos me deixei esquecê-la. Não disse isso a ela, talvez os olhos o tenham feito. Quem conhece ternura não deveria tolerar outra companhia, não devia abrir as portas de sua casa a qualquer outro visitante.
Logo veio e foi embora, restou-me dizer já pela porta que aprecio suas visitas, que não incomoda e que nada exijo a não ser assiduidade.



M.U.C.C.