quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Eu, meu filho e o motoboy

Um homem saiu apressado de uma clínica de saúde. Motoboy. O capacete nas mãos, cor de laranja.  Poeira sobre tudo. Rosto vermelho de sol ou de cachaça. Surrado dos pés à ponta da alma. Não me viu, não via nada. Acionou a motocicleta com agilidade. Trocou ríspidas palavras com alguém. O sinal abriu. Passei eu, ele depois.

Antes disso eu vinha em reunião com minha gerente do banco, meu patrão, filósofos e escritores do passado, possibilidades do futuro, próximos meses e suas nebulosidades, meus filhos davam pitacos e também o rádio. A organização mundial da saúde queria me convencer sobre o que comer, um batalhão de nutricionistas e outros "doutores" balançavam a cabeça alegremente em concordância, fiquei com medo de um vírus qualquer, pensei em passar na farmácia. Vinhamos todos aflitos, inutilmente é claro. Até encontrar o estafeta no cruzamento.

As cidades que construímos para dentro e para fora de nós nos brutaliza. Nos vandaliza. Saqueamos e pilhamos nossas próprias almas, cuspimos em nossas próprias faces cotidianamente. Por favor senhores, não vamos culpar as máquinas, o modo de produção, a divisão social do trabalho. Não vamos jogar a fatura no débito automático do coletivo, porque o coletivo não existe. Existo eu, existe você. O coletivo não fala, não anda, não mata, não trai, não se droga, o coletivo, senhores, não existe.

Meu filho quis tomar banho comigo. Era o calor. Enquanto sentado esfrega-lhe as costas, ele segurou meu rosto sorriu para mim e me deu um abraço. Chorei discretamente.

Pensei em não ter a face daquele motoboy.

M.U.C.C.

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