segunda-feira, 11 de abril de 2011

fotografia

Haverá um dia em que a única coisa que restará desse mundo que conhecemos é uma fotografia. Uma fotografia tirada em um dia qualquer, de uma festa banal quando os salgadinhos já estavam frios e os refrigerantes quentes. Você não sabia, mas estava deixando ali o último registro, o ultimo legado de toda a humanidade que existiu em si. Eu já fui menino, já sorri sem os dentes da frente, já corri da monga, já sonhei ser grande e descobri o amor da minha vida da última semana. Hoje minha filha não tem dentes, eu não tenho muito cabelo. É triste pensar na série lógica de raciocínio que termina quando virarei fotografia. Um dia serei só fotografia. Talvez também por isso escreva aqui, tenho vontade de viver mais um pouco, mesmo que só na memória dos outros. Mas sonhar em ser inesquecível é um surto que não deve tomar conta da cabeça de ninguém, a sede por estar em livros e catálogos só faz surgir Napoleões, Hitlers, Getúlios entre outros. Saibam que o que vai sobrar é provavelmente aquela foto mais ordinária de um dia sem paixão. Por isso quero amar o ordinário. A festinha desanimada, o calor desmilinguante, a frase sem beleza, tudo é vida e tudo vive ainda em mim. É um erro viver a vida com enfado, pense na fotografia. Um dia só haverá fotografia. Somos treinados para querer a glória, os louros, as grandes aventuras, os grandes romances, eu quero a minha vida. Mas a vida será só nascer, crescer, casar, ter filhos e depois morrer, pergunta você, sim, e já não está bom? Não quero deixar que a sombra dos grandes sonhos me faça tratar com desprezo essa vida real. A minha vida do jeito como está já é complexa demais, excitante demais, misteriosa demais, sagrada demais para que eu fique olhando-a com cara feia. Penso muito na morte, já pensei em antecipá-la algumas vezes, mas é bobagem rasteira. Bom mesmo é rir da própria desgraça, rir da própria piada e dar um abraço em quem estiver passando do lado. Bom mesmo foi sofrer tudo o que sofri, e sofro até hoje, e com o tempo ir percebendo a dor diminuir, a cicatriz se concretizar e voltar a ver as cores do dia-dia voltarem ao normal. Elas sempre voltam. Mas penso muito na morte, não com medo nem superstição, mas como um aluno que se apressa em completar a prova na medida que o relógio anda. É preciso sabedoria para não deixar questões em branco sem deixar de dispensar o tempo de reler as questões, reescrevê-las se possível. Sempre gostei de tragédias, mas hoje tive que escrever esse texto positivo. Tive que olhar o copo meio cheio, e ver as coisas pelo seu lado mais bonito. Não se acostumem, improváveis leitores. Só quero poder dizer xis na hora da minha fotografia!

M.U.C.C.

3 comentários:

Anônimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=y7JcAsaPM20&feature=related

VOCE E O BRUNO LINDO DISCUTINDO A RELAÇAO HAHAHA RACHO O BICO VENDO ESSE VIDEO E LEMBRANDO DA CARA DE VOCES,HAHAHA
MEU VOCE E IGAUL ESSE CARA MEU ,NAO TEM OQUE DISCORDA E DO BRUNO MUITO MENOS ESSE FILME FOI FEITO POR VOCES NAO FOI?PODE CONTAR ! HAHAHA ABRAÇO MARCAO TO2

Hanna Tatsuta disse...

Nossa, professor... acho que foi o texto mais lindo que eu li nesta semana... queria deixar um elogio legal aqui, mas estou meio sem palavras... quase chorei enquanto lia o post.

Marcão disse...

pô hannah,

que lindo, que lindo!!!!!! eu é que fico sem palavras!!!