Travestida pela banalidade a maldade se potencializa. De tudo o que é ruim, cruel, desumano, sua medida se avoluma a partir do momento que não é mais capaz de nos causar náuseas. Convivemos cotidianamente com atrocidades rasteiras, com mentiras hipócritas, com maus-tratos profundos, que simplesmente carregamos a tiracolo. Vez ou outra nos damos ao direitos de manuseá-los até.
Como artesãos de maldades somos criativos e eficientes, somos capazes de produzi-las a partir das mais diferentes fontes de matérias-primas, sob as mais adversas circunstâncias e nos mais inesperados momentos. Tem coisa ruim pra todo gosto e hora, não falta oferta desse bem tão abundante.
Mas há uma maldade que surpreende para além da média. Pela sutileza e refino no preparo, passa até por coisa boa e bem-vinda, quando se dá conta do engodo normalmente já é tarde. É a maldade que se faz da beleza ou a partir de coisas boas. Lembrei-me da banal Kelly Key e do seu inesquecível, infelizmente, "baba baby, baby baba"! Como há crueldade nesta frase, sinto-me como Tarantino analisando "Like a virgin", valer-se de seus, digamos, talentos para oprimir é um requinte de crueldade para além do ordinário.
Tenho visto pessoas que valem-se de seu reconhecimento como artistas para impor valores e idéias que pareceriam frágeis sem a autoridade de seu reconhecimento. Usam o encantamento causado em seus admiradores para lhes manipular, paradigma do baba baby! Poderia-se afirmar em defesa da senhora Key que agia em legitima defesa, sua crueldade era uma vingança, um acerto de contas. Mas ainda resta o imperativo da generosidade, a melhor forma de vingança não seria não responder na mesma moeda? Só se é livre do opressor quando não lhe devolvemos os maus-tratos.
A beleza é para o bem, o sublime para a liberdade.
M.U.C.C.
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