O Brasil parece para um observador mais rabugento um país torto. Um retrato sem foco ou um quadro que ameaça cair da parede e só permanece preso por uma das extremidades. Como já afirmou um intelectual certa vez, um país onde as idéias parecem sempre fora de lugar. Fomos o país da independência feita para manter os vínculos com a família real portuguesa, o país do parlamentarismo às avessas, dos liberais que agiam como conservadores e dos conservadores que agiam como liberais, o país da república oligárquica. Somos o país da esquerda que quer parecer direita e da direita que quer parecer esquerda, não sabemos se somos o país mais pobre entre os ricos ou o mais rico entre os pobres. Somos o país do carnaval, autoproclamada maior festa popular do mundo, da nudez e do turismo sexual, mas também somos um país onde país e filhos dificilmente tocam neste assunto sem que um deles deixe transparecer sua vergonha no rubor das faces.
Mais olhando com mais doçura e simpatia poderíamos também dizer que somos um país da curva. Não me refiro unicamente às curvas do corcovado, das formas de Niemayer, das obras de aleijadinho, das mulatas de Di e até das calçadas de Copacabana, para completar o clichê. Penso em uma curva que não termina, que não deixa revelar seu fim, que gera em nós um leve desconforto centrífugo, que não nos traz seguranças, mas não nos mata a esperança totalmente. Ela, a esperança, permanece dormindo sono inquieto, ora ronca longamente, ora ressona suavemente, por vezes parece sorrir provavelmente sonhando e de vez em quando resmunga.
M.U.C.C.