Quero escrever, mas não se pode escrever com fome.
Devo fazê-lo, contudo não é prudente falar da comida.
Posso escrever sobre a fome, mas não sobre ela.
E de qual fome falar?
Jornais não se obrigam nem mais ao verossímil,
os sábios tudo sabem e nada dizem
Os loucos fazem o oposto.
E de qual fome falar?
Um cachorro apanha na tela.
Uma pequena morre calada.
Todos só sabem ter um Grande Amigo.
E de qual fome falar?
Boeiros pulam, prédios caem e formam-se rios em Janeiro.
As águas de março já faz muito passam mais cedo.
Há onde não chova também.
E de qual fome falar?
Ainda existem escolas?
Ouvi falar em faculdades.
Mas os poetas, pai de todos os artistas, já morreram certamente.
Desgostosos de certo.
E de qual fome falar?
Sei de nada?
Sei de mim?
Sei que sei?
O que é que é o saber?
Não sei se sabem, mas não sabem mais a resposta.
Ah, sim! Sei. Tenho Fome!
M.U.C.C.
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