"Observa o rebanho que pasta diante dos teus olhos: ele não sabe o que significa nem o ontem nem o hoje; ele pula, pasta, repousa, digere, pula novamente, e assim da manhã à noite, dia após dia, estritamente ligado a seu prazer e à sua dor, ao impulso do instante, não conhecendo por esta razão nem melancolia nem a tristeza. Este é um espetáculo duro para um homem, este mesmo homem que vê o animal do alto de sua humanidade, mas que inveja por outro lado a felicidade dele - pois este homem só deseja isto: viver como animal, sem tristeza e sem sofrimento; mas ele o deseja em vão, pois não pode desejar isto como o faz o animal." (Nietzsche)
Devo confessar que me identifico com este homem. Tenho mais que uma pontinha de inveja das ovelhas. A memória e toda a estrutura da consciência que dela emana são, quem sabe, o núcleo mais denso de mim mesmo, o mais verossímil elemento de uma suposta essência que me contém.
Pensar o meu tempo dói e pensar temporalmente a mim mesmo também.
Os finíssimos grãos de areia que escorregam rumo ao outro lado da ampulheta parecem atravessar uma estrutura capilar ainda mais fina de minha alma, fartamente conectada à infindáveis terminações nervosas. Nervos que trabalham como formigas para me fazer lembrar, me fazer lembrança.
Sinto o tempo, me sinto nele, me faço tempo. Vivo-me.
O fluxo temporal incessante nutre o homem que habita em mim.
M.U.C.C.
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