Ela põe as mãos entre as pernas e ergue levemente os ombros, toma o ar com força e tem um semblante penitente. Depois o café e um bolo se houver. Faz do gesto um ritual, como quem traça a cruz na fronte ou se ajoelha em reverência. Lança o instante no infinito, se deixa atravessar pelo passado, repete o gesto de gerações. Nunca morou no campo, nunca cingiu o peito da lida, mas traz num movimento a memória corpórea de um Brasil que quase não mais existe.
M.U.C.C.
Um comentário:
Lendo seu verso lembrei de uma crônica da Clarice Lispector, onde ela conta seu ritual de tomar seu café matinal em frente a janela de seu apartamento no Rio . ( Deveria ser uma puta janela, daquelas que dão de cara para o Cristo Redentor, já que Clarice morava em Botafogo). Aí ela conta que um dia recebeu um telefonema de um admirador secreto: um vizinho, que a admirava todo santo dia. Após o telefonema ela disse que ficou intimidada e acuada a seguir seu ritual, pois como era de manhã cedo ela o fazia com sua camisola de renda branca.
Mas, mesmo assim ela continuou, para alegria do vizinho. :)
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