sábado, 11 de junho de 2011

Caminho de Emaús.

Medi meus passos enquanto andava pela calçada, assim meio de canto de olho. Faço isso encanto me divirto andando pelo centro da cidade, principalmente quando não tenho para onde ir. É difícil ter a medida de si mesmo. Calcular o tamanho de nossas pegadas não é apenas um problema métrico, é um  problema crônico. As  vozes múltiplas que vem de dentro são sempre muito ruidosas, são sempre muito eloquentes e fazem desta tarefa sempre um desafio. Penso que, mesmo com toda essa dificuldade, todo ser humano que faz por merecer o nome, humano, deve analisar suas pegadas, se possível cotidianamente. Deixar brotar de si uma conversa honesta, franca e positiva. De que vale a vida sem perceber sua dimensão?
Acho que é por isso que sempre gostei de caminhadas, deleito-me em minha própria companhia, carrego um armazém de bobagens, às vezes me controlo para não rir sozinho.  Planos nascem, ideias e ideais, a vida se refresca, a mente se entope de novidades. É clichê, eu sei, já vi até o Chico Buarque (nada pode ser mais clichê que o chico) falando sobre o tema, mas é tão verdade que me dou a esse direito, se você não se incomodar improvável leitor. Correr é bom também, mas atrapalha um pouco o pensamento, o prazer é mais físico do que intelectual. Andar é como assistir uma palestra dada por si mesmo, podendo ainda perder-se em tantos temas, abrir e fechar janelas de bate papo consigo. Não era em vão que Aristóteles dava suas aulas andando, um dia chego lá.
Tive grandes caminhadas na chuva, no frio, na praia, em estradas de terra, no calçadão, ainda  de petit pave, e principalmente nas margens do lago. O Igapó é feio eu sei, quando chove parece toddy de tanto assoreameto, muitas vezes exala cheiros incômodos, mas é o lago que passa em minha aldeia, se é que Pessoa permite o trocadilho. Vi o céu se pintar de todas as cores, já vi dia, manhã e noite, andei menino, rapaz e homem. Andei, ando e andarei por lá. Caminhada é uma espécie de metalinguagem da existência. É uma narrativa de si sobre si. Caminho, trajeto, pegada são, nesse caso, palavras de duplo sentido.
Há também a caminhada em que ao vascular suas entranhas se pode encontrar com algo externo, absolutamente outro. A Este chamamos Deus. Me lembro de Tê-lo encontrado uma vez subindo a rua Guararapes, outra ainda descendo as escadas do Edifício Alaska, me lembro de passear ao Seu lado nos carreadores do São Rafael. Essa é a Estrada do Emaús, curioso é que já vivi perto à uma estrada que chamava-se Emaús em referência ao trecho biblíco e também andei por lá ainda menino. A Estrada do Emaús é o ponto onde solitário se pode encontrar com Deus. Não é uma experiência coletiva, nem que se faz conduzir por outrem, é um estar só, pero-no-mucho. Não vou muito à Igrejas, não tenho um rótulo religioso mais, não converso muito sobre o tema, não gosto muito da maioria das pessoas religiosas que conheço, mas caminho. Gosto muito de estar em Emaús.


M.U.C.C.

Um comentário:

William Bonner disse...

Boa noite.