segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Submundo



Este domingo acordei tarde e tive que almoçar sozinho. Fico pensando que os almoços não foram feitos para a solidão, quando o inventaram pensavam em pessoas que por já ter alcançado algum progresso civilizatório estariam cercados por uma família, grei, comunidade e fariam daquele momento algo mais do que nutrição pragmática. O almoço celebra a vida urbana, sedentária, comemora a cultura no sentido mais original que esta palavra pode ter.

A própria ideia de restaurante já indica que o que se fará naquele lugar é mais do que simplesmente nutrir-se, mas hoje as pessoas comem como se fossem carros em um posto de gasolina. Fui a uma lanchonete chamada Subway. Nada contra esta empresa (olha o medo do processo), que oferece produtos em qualidade superior aos seus concorrentes e que é sem dúvida útil às pessoas em seus agitados cotidianos. Mas o nome do recinto me fez pensar. Me parece que estamos escolhendo o caminho de baixo e não o caminho das coisas elevadas. Preferimos regredir em nossas relações sociais em nome de um suposto avanço tecno-cultural. Literalmente deixamos de usar os garfos e voltamos a comer com as mãos, enfiamos barbaramente a cara no sanduíche e nos digladiamos com a presa indefesa.

Se o consumo nos barbariza existem outras dimensões deste pântano. Aprendemos  a cultuar o underground sem nos darmos conta do que isso significa. Há um apreço pela marginalidade, pela autodestruição, pelo vazio moral e pela malandragem, que rejeita o que talvez haja de mais valioso em nossos padrões sociais que é o aperfeiçoamento ético-moral. De repente ficou bonitinho posar de bad e fazer caras e bocas.  Hoje o que mais ouço nas fúteis entrevistas de celebridades é a asquerosa frase: "não me arrependo de nada". E todos batem palmas! Será muito perceber que uma afirmação deste tipo ou aponta para um quadro de psicose ou para uma duplicidade moral em que se diz uma coisa e se sente outra? O mal é sempre o outro, o sistema, a PQP, mas nunca se pensa em um caminho de aperfeiçoamento próprio. Pelo contrário, orgulhosamente ostentamos nossos defeitos como medalhas, lambemos nossas feridas diante da nuvem WWW.




M.U.C.C.

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