quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O meu milagre da multiplicação

De tudo o que eu já estudei sobre educação, de todas as aulas de tantos historiadores, pedagogos, historiadores da pedagogia, psicopedagogos e sociólogos e sociólogos da pedagogia e todas as outras possíveis combinações entre essas palavras, restou-me a seguinte frase, não existe ensino, existe aprendizagem.
De todos os alunos que eu tive os que melhor aprenderem o que eu lhes falava, os que melhor souberam usar os conceitos, reconstruir narrativas históricas, analisar conjunturas, julgar situações-problema, me deixaram sempre com a sensação de que aprendiam sozinhos. Não que eu não tenha contribuído, mas porque talvez nada se possa ensinar verdadeiramente. Para dizer que alguém aprendeu algo é preciso que ele tome esse conhecimento das mãos de seu professor, é preciso que em algum instante aconteça um milagre, uma epifania, a tradição filosófica chamaria de intuição intelectual. Descartes dizia que essa era a assinatura divina em nossas almas.
Minha filha é uma aluna aplicada, pelo menos até agora, e faz suas tarefas com muita diligência. Muitas vezes me falta paciência e ânimo para lhe ensinar, mas ela merece toda a minha paciência e capacidade pedagógica. Hoje porém tive todas as penosas horas recompensadas ao vê-la aprender a multiplicar números, de novo não foi eu que ensinei, mas ela que olhou diferente para aqueles números em um dado momento. Dou aulas para turmas grandes, por vezes não dou conta de aprender o nome de todos os alunos, mas mesmo assim sei quando eles estão aprendendo. É sempre tão recompensador como foi com minha filha.
Há momentos dentro de uma sala de aula, em que todos param de fazer outras coisas, de falar com seus amigos, de mandar mensagens no celular e passam a olhar atentamente para o que você esta dizendo. Seus olhares mudam e parece haver uma aura diferente sobre a sala. Nessa hora minha boca se enche de palavras, há o que  Feuerstein chamaria de reciprocidade, sinto-me quase possuído por algo maior. Todo o cansaço se paga nesses momentos, minhas dúvidas sobre minha escolha profissional somem, sou feliz.
Aprender como nós humanos aprendemos, saber intuir coisas que nem as palavras dos maiores poetas podem expressar, saber o que é saudade, saber como ler um soneto, resolver um enigma, são coisas tão mágicas e tão simples. Essas são daquelas poucas coisas que chamamos de milagre.




M.U.C.C.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom professor !!! Giovana Tacla