É raro, mas vez ou outra sinto a vida como uma grande queda-livre. O chão tira o corpo fora, não há caules ou raízes em que se possa segurar. Tudo não é mais que um tapa na cara. Só nessas horas é que conheço a solidão, a solidão da queda-livre. Das pessoas restaram as vozes zombeteiras, me acusam, riem-se. Não levo magoa, o que mais eu queria? O que mais eu poderia chamar de liberdade? Nada mais me prende e por isso caio. Liberdade talvez seja um nome de guerra da queda. Minha alma chega a tocar o céu da boca, sinto náusea de mim mesmo. E tudo é insuportavelmente banal como a gota d'água do chuveiro, cai e explode no ralo como um sem número de outras. Não resta nem a vanglória da excepcionalidade, sou só o fruto necessário da gravidade das coisas. Pensei que seria poeta, pensei que seria um abutre negro pastando almas daninhas, mas sou só queda. Restou-me o grito destas linhas, de horror e medo ao ver-me no espelho, ao ver a queda, ao respirar o nada, ao não saber o que mais devo fazer com os pés. Só restou as palavras. Mas hoje em dia elas não valem nada.
M.U.C.C.
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