Quando o sol começa a se esconder as florestas tornam-se especialmente amedrontadoras. Os ruídos dos animais aumentam em frequência, volume e estridência. As cores se misturam. As árvores crescem. O céu fica mais distante. O chão fica incerto. Os caminhos menos evidentes. Sou um homem urbano porque morro de medo das noites nas florestas.
Gosto das placas azuis que dizem os nomes das ruas. Gosto dos postes iluminando as noites da minha cidade. Gosto de ouvir os barulhos de brigas de famílias. Gosto menos das músicas que saem de dentro dos carros. Me lembro da sensação confortadora de ouvir longínquos os motores de ônibus alongando marchas para depois trocá-las. É tão bonita a cor da sala quando só resta a luz do sinaleiro. Ora verde, amarelo e já vermelho. Ou a cor da televisão, muda e sem sinal, a projetar formigas na parede.
Só assim sou forte o suficiente para aceitar que um denso silêncio me oprima a alma e traga o sono. O silêncio também traz sonhos. Por vezes depois do sono e então é tarde para lembrar-me deles na manhã seguinte. Mas muitas vezes os sonhos chegam antes do sono. Desses sonhos sou escravo por dias. Tomam conta de mim por tempo demais. Tomam de mim a maior de todas as riquezas, a normalidade.
Amo a noite de minha cidade. Amo meus sonhos. Amo ainda mais os frustrados, interrompidos, não realizados e não realizáveis. São como motosserras que destroem a mata selvagem que vive dentro de mim. A pior de todas as florestas escuras é aquela da qual nunca me apartei. Só meus sonhos, e o escudo destas linhas desbravam-na. Quero sonhar nesta noite com a urbanização da minha alma.
M.U.C.C.
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