quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O melhor do mundo

Em uma quase esquecida aldeia do interior profundo da China havia um jovem arqueiro que sonhava em ser o melhor do mundo. Seu talento impressionava, era rápido e frio, intuitivamente calculava centenas de variáveis simultaneamente, os ventos e suas mudanças, as flechas e suas sutis diferenças, a gravidade, a velocidade...

Dizem que ele cruzou sua terra, passou pelos mais ínfimos vilarejos, contornou cordilheiras, redescobriu trilhas fechadas pelo tempo, abateu bestas sorrateiras e livrou-se de feiticeiros sagazes para encontrar-se com um velho mestre cuja reputação era a de ser o mais douto arqueiro entre os viventes.

O mestre de fala mansa, mas imponente, mostrou-se pouco amistoso e só aceitou treinar o jovem ao ver seu incomum talento e estilo. Foram anos de infindáveis repetições de exercícios, os limites foram cotidianamente ultrapassados, o estado de exaustão foi o companheiro mais presente do jovem arqueiro, que não abriu sua boca ou exprimiu qualquer movimento que representasse relutância ou insubordinação às ordens do velho mestre.

Numa fria manhã, o mestre dispensou o aprendiz dizendo-lhe que estava pronto. Presenteou-lhe com um inédito abraço, ainda que discreto, sorriu levemente e deu-lhe as costas. O jovem conformado pegou se arco e suas flechas e partia quando sentiu um frio cortando-lhe a espinha e um leve deslocamento de vento em sua direção. Rapidamente sacou uma flecha, posicionou-a no arco e, sem ter tempo de fazer mira, lançou-a na direção do mestre. As duas flechas se encontraram perfeitamente, partiram-se mutuamente e repousaram na relva ainda úmida. O mestre agora ria largamente...

Refazendo o caminho de volta o jovem chegou novamente em sua terra. Porém, antes que pudesse encontrar alguém que lhe perguntasse sobre seu treinamento e lhe pedisse demonstração, o jovem atirou suas flechas para o alto e depois quebrou o arco em várias partes. Para todos os efeitos ele nunca esteve com o mestre e nunca, mas nunca mais mesmo voltou a segurar em uma flecha.

posso parar por aqui?

M.U.C.C.

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