domingo, 19 de setembro de 2010

O melhor do mundo II

Vivemos em uma sociedade que gosta de enganar e ser enganada. Se assim não fosse, os mágicos, ilusionistas, publicitários, advogados e tantas outras categorias estariam desempregadas. Existe uma adorável alegria em pregar uma peça em alguém e assistir a vítima afundar-se na ilusão sem perceber o engodo. Ficamos sempre impressionados com as ilusões de ótica, agora tão em evidência com o 3D, que sabemos serem falsas. Porém, esta sedução pelo engano se espraia perigosamente em outros campos.

 O campo político é sem dúvida vítima deste gosto pela engambelação, mas esta é uma constatação tão óbvia que não lhe dedicarei nem mais uma palavra. Existe cada vez mais a enganação artística, gente que quer fazer arte sem saber do que se trata ou gente que quer ganhar dinheiro se aproveitando da pobreza espiritual dos outros. Mas este é um tema vasto demais, deixemos para um próximo post.

A pior enganação é a intelectual. Durante esta semana tive de passar algumas horas diante de verdadeiros ilusionistas do pensamento, uns tinham mais recursos outros não. Dentro da arte de tentar enganar existem os mister "m" 's e os mágicos de circo mambembe, mas a empulhação de ambos é deplorável. Uns apelam para a potência das cordas vocais ou dos sistemas de som, outros recorrem à citação de autores que pareçam exóticos ao público médio, mas o conteúdo de suas falas é igualmente pífio. 

Os mandraques retóricos são cada vez mais numerosos, provavelmente pelos bem sucedidos casos desta categoria. Quantos enganadores intelectuais estão ganhando polpudos cachês por proferirem palestras imbecis ou por escreverem livros inócuos. Não é difícil encontrar um exemplar desses asquerosos sofistas dando entrevistas vazias à repórteres de cera em canais de TV. E o pior é que eles fazem a cabeça de muitos. Há uma multidão incontável de devoradores de pastéis de vento.  Gritando aleluia e aplaudindo, balançando a cabeça e pagando de cult, o quadro só não é cômico porque é trágico.

Quem verdadeiramente tem algo a dizer não tem estômago para ficar fazendo publicidade pessoal. Se você quer escutar algo que preste fuja dos grandes, dos renomados, das gravatas reluzentes, dos cabelos engomados. Fuja também dos que não têm gravatas reluzentes, mas gostariam. Não tem o nome em letreiros de neon, mas sonham ter. Neste caso, o ego é corrosivo ao intelecto. 

Os artístas, pensadores e jornalistas que admiro são despojados de qualquer construção publicitária de suas imagens. Assisti o Juca Kfouri dar uma palestra fantástica em Londrina e ele chegou andando pelo meio da platéia como qualquer um, roupas amassadas, óculos preso ao pescoço e idéias legais, experiências pessoais riquíssimas, valeu a pena vê-lo. Conheça pregadores como Ariovaldo Ramos, Kivitz, Caio Fábio e você verá que: "imagem não é nada, sede é tudo, obedeça sua sede" não beba sprite, beba água. 

Na sociedade doentia de nossos dias, desconfie de toda forma de sucesso! Corro atrás de pessoas como o jovem arqueiro chinês do post passado, não estão em busca de serem reconhecidos, estão em busca de serem os melhores do mundo!

M.U.C.C.