quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Uma volta no Lago.

Faz algum tempo que fiz das margens do Lago II meu espaço de exercícios, senão diários, habituais. Você pode estar pensando: você e a torcida do Corinthians. Mas eu discordo desse pensamento. Em cada nova caminhada fica mais claro para mim que a maioria das pessoas não vai caminhar, correr, mas vão se fazer visíveis. Parece com as praças das cidades do interior, só que sob o verniz da fit-life. Nas cidades menores as pessoas parecem estar menos acostumadas a mentir, vão para praça e se apresentam, se manifestam interessadas. Homens andam em um sentido e as mulheres no outro, sem dúvida facilita o flerte, fica a dica para o prefeito e para a câmara quem sabe um projeto de lei pode nascer daí. Aqui não é assim, faz-se cara de sério, mau, distante, tem que suar, ou pelo menos quase. Se aparentemente o mercado dos desejos por aqui parece mais reprimido, a linguagem corporal desmente a tese. Os corpos estão todos premeditadamente à amostra, premeditadamente favorecido por esta ou aquela fibra elástica sinteticamente desenvolvida. Pessoas saltitam, esticam-se, sofrem em muitos casos vendendo-se. Os corpos pulsantes do lago são obras de publicidade. Cabe a pergunta: o que não é obra de publicidade nos dias atuais? Chegará o dia em que compraremos anúncios?

Em tempos quentes o mercado de carne anda cheio, por isso tenho andado pelo caminho de dentro (feito de pedriscos) para desespero do meu tênis.

Você, meu improvável leitor, pode estar se perguntando o porquê deste meu texto. Moralismo? Rancor? Ressentimento? Mau humor? O que me inquieta diante deste fenômeno não é fato das pessoas estarem ali lançando suas redes pra ver se o mar tá pra peixe, vendendo o almoço pra comprar a ceia, mas a falta de consciência com que o fazem. Aposto que boa parte dos transeuntes do lago II acreditam que estão ali por ser saudável. É fato que também estão ali por isto, mas por que não andam no decadente zerão, no artur tomas, no cabrinha (talvez fique longe para alguns)?

Há uma necessidade crescente em nós de sermos percebidos, isso vale para as caminhadas, mas vale para nós twitteiros, blogueiros, facebookers, orkuteiros. Ninguém quer cair no esquecimento, nem o Beto Barbosa recém ressurreto na campanha da Skol, todos queremos ser relevantes. A pergunta é o que em nós chama a atenção dos outros? Se queremos abrir nossas intimidades para atrair atenção, qual parte de nós deve ser mostrada?

M.U.C.C.

4 comentários:

123 disse...

hahaha, realmente isso tudo é uma verdade kkkkk ;D bom texto!!

Valdir Pimenta disse...

olá senhor diabético. por acaso descobri essa página, que vindo de vc só poderia revelar coisas interessantes....agora podemos nos comunicar e bisbilhotar e palpitar por aki tbm....rs. forte abraço marcão.

Unknown disse...

O que me deixa mais confuso em meio a essa realidade é que, a meu ver, algumas pessoas (talvez a maioria) parecem enganar a si próprias, não admitindo consigo de uma forma direta, que fazem isso a fim de aparecerem. Pra você que gosta de House, Marcão, é possível fazer uma analogia ao o que estou tentando dizer com os dois últimos episódios da quinta temporada, onde o vício toma controle dele, fazendo com que ele mesmo se engane com a realidade através das alucinações. Achei esses episódios fantásticos.
Belo texto professor! Abraço!

André Casaroli disse...

brilhante, professor! é por isso que eu nem passo por lá, assumindo meu sedentarismo de alto impacto. abs