Daqui de cima da laje
Se vê a cidade
Como quem vê por um vidro
O que escapa da mão
Uns exilados de um lado
Da realidade
Outros reféns sem resgate
Da própria tensão
Quando de noite as pupilas
Da pedra dilatam
Os anjos partem armados
Em bondes do mal
Penso naqueles que rezam
E nesses que matam
Deus e o diabo disputam
A terra do sal
Penso nos malabaristas
Do sinal vermelho
Que nos vidros fechados dos carros
Descobrem quem são
Uns, justiceiros, reclamam
O seu quinhão
Outros pagam com a vida
Sua porção
Todos são excluídos
Na grande cidade
Se vê a cidade
Como quem vê por um vidro
O que escapa da mão
Uns exilados de um lado
Da realidade
Outros reféns sem resgate
Da própria tensão
Quando de noite as pupilas
Da pedra dilatam
Os anjos partem armados
Em bondes do mal
Penso naqueles que rezam
E nesses que matam
Deus e o diabo disputam
A terra do sal
Penso nos malabaristas
Do sinal vermelho
Que nos vidros fechados dos carros
Descobrem quem são
Uns, justiceiros, reclamam
O seu quinhão
Outros pagam com a vida
Sua porção
Todos são excluídos
Na grande cidade
Não consigo pensar em nada mais lúcido para expressar o que estamos vendo acontecer no Rio que a frase “todos são excluídos na grande cidade”. Trata-se de uma tragédia anunciada e por tempos procrastinada, sem perspectivas muito concretas de fim. Achar que a ocupação pelas forças de repressão do estado resolverá o problema é ingenuidade, os malabaristas do sinal vermelho e os anjos armados andam perto demais uns dos outros. A violência e nossas debilidades sociais têm uma ligação inegável. Só se resolve um resolvendo ou ao menos atenuando o outro. Os vidros fechados dos carros, ora minimamente abertos, voltarão a se fechar? Penso nesses que rezam e nesses que matam pelos morros do Rio. Não sei se é possível abrir um largo sorriso ou quem sabe gargalhar enquanto cotidianamente cruzar com esses meninos e meninas que encontramos fortuitamente pelos sinais fechados e esquinas escuras. Não sei se é possível me orgulhar de uma nação, refiro-me ao povo e não ao estado, que faz de uma polícia como o BOPE uma espécie de Batman da vida real. Gostei de assistir os dois tropa de elite, me fizeram pensar, me deixaram falando sozinho enquanto os letreiros subiam. Mas fico horrorizado com as platéias do filme. AS pessoas são capazes de uma admiração quase fascista por uma polícia que joga o jogo do bandido, o prazer e as gargalhadas, atração pela manifestação da força física e os bordões repetidos exaustivamente nas mais diferentes circunstâncias são pavorosos. Também me horroriza ver como nas favelas existe uma louvação da criminalidade e da violência e penso que deste lado da moeda as escusas são tão injustificáveis como do outro. Falo isso por ter tido contado real com jovens assim, não me parecem menos errados do que as boçais platéias do cinema. Assisti tropa de elite com lágrimas nos olhos, pensava sinceramente no Brasil real. As lágrimas voltaram!
M.U.C.C.