Olhos detidos por alguns instantes, do tamanho de todas as eras, em frente a uma pessoa já não mais viva. Estou parado ali até agora. Ali morrem todas as perguntas. Ali ficam todas as coisas. Nada passa daquele caixão. É vida e depois é morte. Não estou fazendo considerações metafísicas, pós-metáficas, ontológicas ou existenciais, estou dizendo o que me disseram meus olhos. Ninguém precisou me dizer que estou vivo, ninguém precisou dizer mais nada. Não quero ser Descartes, só quero continuar.
Um querido senhor um pouco antes de morrer pediu para ver o sol, o levaram, ele olhou por alguns segundos, agradeceu, o levaram para o leito, horas depois morreu. Meu avô já muito adoentado encontrava algum alento cantando e acho que cantarolando e batucando enfrentou o fim. Não sei medo, não sem sorver o hálito frio e acre da morte, mas cantou. Amarraram El Cid Campeador ao seu cavalo e a sua armadura quando já estava morto e sua imagem, mesmo morta, venceu a batalha.
Quero uma vida com um sentido que atravessasse a morte como o Campeador. Mas o espelho anda implacável. Não sei o que mais. A morte me emudece. Queria ter mais a dizer às pessoas nessas horas. Mas não tenho o que dizer nem a mim mesmo. É vida e depois é morte. Não quero que minha morte chegue logo, mas quero saber até lá se vou querer ver o Sol, ou batucar uma canção, ou se vou pedir para me amarrarem no meu cavalo.
M.U.C.C.
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