Usar animais como alegoria da vida é clichê eu sei, mas vou insistir na idéia sem medo de ser feliz, ou de soar como livro de auto-ajuda. Afinal os animais são ótimas fontes de inspiração, sem eles não teríamos Tom e Jerry, Papa-léguas, o ursinho Poo - esse era dispensável. O que seria das professoras infantis sem o lobo-mau, sem as raposas das fábulas de Esopo e Fedro, ou ainda como poderíamos dormir sem as ovelhas que incansáveis pulam cercas que não as separam de lugar algum? Aliás, essas ovelhas praticam hipismo?
Observar o comportamento dos animais pode ser grande fonte de reflexão se pensarmos bem. Diz-se que o sumô surgiu a partir da observação das brigas dos ursos, assim como nas técnicas de Kong-Foo da de outros animais (quem não entendeu veja: PANDA, Kong-foo. Nas melhores locadoras ou barraquinhas de filme pirata).
Ontem enquanto tomava banho tive um encontro inusitado. Vi sair do canto direito do box uma mínima lagartixa quase transparente. Ela deslocou-se rapidamente pelo chão, atravessando todo o espaço molhado em que tomava banho e se escondeu na outra extremidade. Fiquei meio espantado, seus movimentos lembram os de seus parentes répteis maiores. De repente um micro-jacaré atravessando seu banheiro é um fato meio incomum, convenhamos. O bicho se acomodou em seu novo espaço e eu continuei meu banho. Até esqueci de sua existência. Até que as meninas aqui de casa foram tomar banho... Travamos uma verdadeira cruzada contra a pequena forasteira para que os banhos terminassem.
Este evento é irrelevante e ordinário eu sei, mas algo me fez pensar. No meio da peleja contra a terrível fera ela perdeu a calda. Minha filha explicou, me fazendo lembrar o "Mundo de Beackmann", que as lagartixas fazem isso quando sentem-se extremamente encurradas. Fazem isso para confundir o predador. O estranho é que a multilação acaba levando o animal à morte. Ela não sobrevive por muito tempo depois de perder a calda. A pergunta é , por que perder a calda então? Calma biólogos, é só uma alegoria...
Essa reação é interessante. A lagartixa não faz como a abelha que como última alternativa fere seu adversário, mas também morre logo em seguida. A Abelha é como aquelas pessoas que quando percebem que vão ser jogadas na piscina não lutam para se salvar, mas para levar junto aquele que empurra. A abelha tem um quê de Kamikase. A lagartixa é diferente.
Ela percebe que não pode vencer seu opositor e ao invés de reagir passionalmente como a abelha adota uma racionalidade pragmática de retardar ao máximo o suspiro final.Se não posso vencer nem fugir ganho tempo. Ela não se entrega docilmente, nem estribucha amargurada e raivosa, ela procrastina o encontro com o pior. Retarda a dentada que a multilará, multilando-se calculadamente.
Os animais sempre criam maneiras de enfrentar a morte, além da abelha e da lagartixa, podemos pensar no cordeiro e sua aceitação estóica, no porco e sua resistência militante ou ainda no boi e sua pacividade alienada. Predadores não faltam em nossas vidas, uns vem de fora e outros crescem por dentro, será possível vencê-los todos? Se não, como você reage ? Como lagartixa, abelha, porco, boi ou cordeiro?
Confesso que nesta noite de sábado ao ver a pequena lagartixa dar seus últimos suspiros, me vi um pouco presente em seu comportamento.
M.U.C.C.
blog dedicado à publicação despretensiosa e despreocupada de pequenos textos, comentários e pitacos em geral.
domingo, 27 de junho de 2010
quinta-feira, 24 de junho de 2010
The last of my desires
Não escrevo neste blog faz muito tempo. Fazia tempo que não sentia necessidade de escrever. Fazia tempo que me sentia como se não tivesse o que falar. Escrevo aqui por necessidade sem dúvida, mas esta necessidade não se manifestou nos últimos tempos. Felizmente ela voltou! Felizmente para mim que escrevo, para você que lê não sei...
Confesso na verdade, que a vontade de escrever é maior do que a necessidade de escrever. Isto é, escrevo não por ter o que transmitir, mas por querer compartilhar algo com, sabe Deus quem...Querer não estar só.... Querer não ser uma ostra... Querer ver nascer da ostra uma borboleta, talvez mariposa seja mais macho, que passeie em frente uma multidão e chama-lhes a atenção encantadoramente.
Escrevo para me sentir mais belo. Escrever é fácil, não se pode ser interrompido. Não há conflito, dialética, réplica, tréplica....Sou só eu quem fala, e pronto! não tem mais, não tem mas, não tem ninguém que não seja eu, ou não tem ninguém que não seja meu. Ainda mais em um terreno baldio como este blog, posso falar irresponsavelmente. Posso ser tão inconseqüente como um recém-nascido que é capaz de dar um passo confiante em direção ao abismo. Posso ter a ilusão temporária da liberdade.
Não tenho que dar audiência, não tenho que agradar, não preciso ser suficiente... Posso me dar ao luxo de desejar o último dos meus desejos!
M.U.C.C.
Confesso na verdade, que a vontade de escrever é maior do que a necessidade de escrever. Isto é, escrevo não por ter o que transmitir, mas por querer compartilhar algo com, sabe Deus quem...Querer não estar só.... Querer não ser uma ostra... Querer ver nascer da ostra uma borboleta, talvez mariposa seja mais macho, que passeie em frente uma multidão e chama-lhes a atenção encantadoramente.
Escrevo para me sentir mais belo. Escrever é fácil, não se pode ser interrompido. Não há conflito, dialética, réplica, tréplica....Sou só eu quem fala, e pronto! não tem mais, não tem mas, não tem ninguém que não seja eu, ou não tem ninguém que não seja meu. Ainda mais em um terreno baldio como este blog, posso falar irresponsavelmente. Posso ser tão inconseqüente como um recém-nascido que é capaz de dar um passo confiante em direção ao abismo. Posso ter a ilusão temporária da liberdade.
Não tenho que dar audiência, não tenho que agradar, não preciso ser suficiente... Posso me dar ao luxo de desejar o último dos meus desejos!
M.U.C.C.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Guarde a sandália dela / História de um valente
detalhe importante: junto com Germano Matias neste vídeo, está Raul de Souza grande trombonista brasileiro!!!!!!
M.U.C.C.
Lembranças Protagonistas!
Existem, em minhas memórias, lembranças banais. Coisas que aconteceram, provavelmente, e que não servem para mais do que dar alguma linearidade aos retalhos que guardo no baú das reminiscências. Seriam como um diálogo rápido entre dois figurantes em uma peça de teatro que serve apenas para dar a deixa para a entrada dos protagonistas.
Mas existem lembranças que protagonizam meu passado. Existem momentos que escrevem as manchetes das memórias. Acontecimentos que brilham em meio a um amontoado de recordações cinzentas. Foi assim quando assisti Paulo Autran em "O Avarento" de Molière, praticamente última montagem do artista. Até hoje me recordo da luminosidade daquele dia. O Painel de Portinari na entrada do teatro Cultura Artística, toda a graça, a leveza da obra de Molière, a energia de Autran e todo elenco.
Existem momentos que rompem a monotonia do cotidiano e surpreendem, tornam-se inesperadamente eternos. Como no dia em que assisti sozinho "A lista de Schindler" no sofá de minha casa em uma tarde ordinária e fria muitos anos após o lançamento do filme. Nunca tinha chorado assistindo um filme, mas de repente romperam-se os diques dos meus olhos, chorei como uma criança, chorei assistindo os extras do DVD.
Ontem fui ao show de Germano Matias, SESC Mariana em São Paulo, saí com a nítida impressão de ter vivido mais um desses momentos. Temo não ter a oportunidade de ver este representante de uma cultura brasileira que quase não mais existe outra vez. Germano tem 76 anos, eu vou poucas vezes a São Paulo. Por isso passei o show interior consciente desta condição, sorvendo cada acorde, cada nota do trombone, cada piada. Não preciso ver novamente.
Somos seres muito breves. Morremos muito novos, isso vale até para aqueles que superam a idade do próprio Germano Matias. A cultura é o que se perpetua. Carregada e reproduzida nos lombos de muitas gerações, a cultura é o canal pelo qual nos conectamos com uma longa linha de conhecimentos, emoções e comportamentos que compõem a humanidade.
Que muitos outros momentos como este eu ainda possa viver, que você também muito improvável leitor tenha os sete buracos da sua cabeça abertos para a cultura brasileira.
M.U.C.C.
Mas existem lembranças que protagonizam meu passado. Existem momentos que escrevem as manchetes das memórias. Acontecimentos que brilham em meio a um amontoado de recordações cinzentas. Foi assim quando assisti Paulo Autran em "O Avarento" de Molière, praticamente última montagem do artista. Até hoje me recordo da luminosidade daquele dia. O Painel de Portinari na entrada do teatro Cultura Artística, toda a graça, a leveza da obra de Molière, a energia de Autran e todo elenco.
Existem momentos que rompem a monotonia do cotidiano e surpreendem, tornam-se inesperadamente eternos. Como no dia em que assisti sozinho "A lista de Schindler" no sofá de minha casa em uma tarde ordinária e fria muitos anos após o lançamento do filme. Nunca tinha chorado assistindo um filme, mas de repente romperam-se os diques dos meus olhos, chorei como uma criança, chorei assistindo os extras do DVD.
Ontem fui ao show de Germano Matias, SESC Mariana em São Paulo, saí com a nítida impressão de ter vivido mais um desses momentos. Temo não ter a oportunidade de ver este representante de uma cultura brasileira que quase não mais existe outra vez. Germano tem 76 anos, eu vou poucas vezes a São Paulo. Por isso passei o show interior consciente desta condição, sorvendo cada acorde, cada nota do trombone, cada piada. Não preciso ver novamente.
Somos seres muito breves. Morremos muito novos, isso vale até para aqueles que superam a idade do próprio Germano Matias. A cultura é o que se perpetua. Carregada e reproduzida nos lombos de muitas gerações, a cultura é o canal pelo qual nos conectamos com uma longa linha de conhecimentos, emoções e comportamentos que compõem a humanidade.
Que muitos outros momentos como este eu ainda possa viver, que você também muito improvável leitor tenha os sete buracos da sua cabeça abertos para a cultura brasileira.
M.U.C.C.
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