segunda-feira, 25 de julho de 2011

Diários Austrais: 9 de Julho

Não conseguiria chamar de cidade um lugar onde não pudesse ouvir o barulho dos ônibus. Desde pequeno dormia embalado pelos roncos de seus motores. O barulho provocado pelo alongar das marchas entrava lentamente nos meus sonhos e se perdia em um infinito de interioridades. Por isso me senti em casa em Buenos Aires. Suas ruas largas, as pessoas enformigadas, a visão que se enturva pelas muitas luzes me trouxeram conforto. Eu vivi boa parte da infância na zona rural, gosto do campo, do rústico, mas sempre em caráter transitório e propositalmente descontextualizado. Sou definitivamente um homo urbanus. Buenos Aires, e sua hipérbole a avenida 9 de Julho, me receberam calorosamente.



Já disseram que o espaço urbano é o espaço do feminino. Diria, para além, que as cidades são como mães das quais nunca abandonamos as tetas. Ou, em se tratando especificamente de cidades que conhecemos à passeio, que são como namoradas. Conhecemos, flertamos, nos familiarizamos, desfrutamos longamente para depois, tristes, vivermos um afastamento dolorido. Aqui em Buenos Aires me senti assim, tiro fotos vorazmente, encantado com suas belas curvas e reentrâncias. Deixo-me perder por suas longas alamedas e exploro suas galerias, maravilhado por sua beleza e novidade.



Sonho um dia poder encontrar uma cidade com a qual eu possa me casar e só a ela me entregarei. Ou não. Por hoje penso em Buenos Aires com desejo e lembro ternamente da minha humilde mãe, Londrina.




Buenos Aires, 19 de julho de 2011

M.U.C.C.

3 comentários:

Anônimo disse...

Compartilho em gênero, número e grau o seu encantamento por cidades e, especialmente, por BsAs. Talvez num tom menos edípico (hehe, piadinha psicanalítica), sinto sempre saudades e vontade de voltar! Veve.

Marcão disse...

Devido a sua ressalva psicanalítica, deveríamos dizer então que compartilhamos em número e grau, mas não em gênero! rsrsrs

Anônimo disse...

hahaha! Muito perspicaz! Ve.