VINÍCIUS DE MORAES
A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.
É difícil falar sobre o natal nestes dias, sinto-me meio fora de contexto. Parece-me claro que o que se está a celebrar nas ruas tem mais relação com o Lula e o chamado "espetáculo do crescimento econômico" do que com Jesus e o Cristianismo. Não é de todo ruim celebrar uma melhora nas condições gerais de consumo da população, mas todo espetáculo é antes de tudo uma farsa. Enquanto todos batemos palmas para nosso progresso econômico, vê-se um desesperador alastrar da miséria espiritual. E aqui a palavra espiritual pode ser entendida como você quiser. Se pensamos em espiritualidade religiosa, o caso é crítico. Essas relações espirituais andam promíscuas e interesseiras. Compra-se e vende-se muito nas igrejas também. Os pastores, padres e a multidão de voluntários parecem fazer treinamento de vendas nas mesmas agências dos vendedores das casas bahia ou similares. As pessoas fazem cartinhas para o "papai do céu" uma vez que ficaram grandes para mandar para o "papai noel". O Natal dos Shoppings não é muito pior do que o de muitos estabelecimentos religiosos.
Se pensarmos em espírito no sentido alemão do termo (o campo das subjetividades, do existencial, das idéias) não me parece ser muito melhor a situação. A pobreza intelectual graça por todo lado. Uma das coisas que mais me anima em ter esse blog é justamente por ver que outras pessoas, por vezes mais jovens do que eu, também se interessam por subjetividades, sentimentos, filosofia, literatura e um compartilhar gostoso de idéias. Gosto de ver outras pessoas escrevendo, melhorando seus textos, refinando suas referências, criando blogs, tumblrs, e afins. Se existe algo carente de cuidado nos dias de hoje são nossas vidas interiores, nossos canteiros de subjetividades. Gente cultivando músculos e incapazes de formar raciocínios minimamente lógicos e coerentes não falta. Mas aqui e pelas redes sociais à fora encontro sempre uma pequena corriola de seres pensantes e interessantes. Mas somos exceção, não duvide. Vivemos sim um tempo de pobres cuidados com as idéias.
Por isso o natal é um período difícil para mim, o absurdo de nossa condição parece mais evidente. Mas não podemos deixar que maltratem tanto uma passagem tão cara ao nosso mundo cristão. O Ocidente está violentando a si mesmo quando abandona suas tradições mais fundamentais. O Natal como celebração do Amor Generoso, do gesto exemplar divino, vivido e repetido ciclicamente por nós é sim uma data relevante. Se nossa sociedade rejeitar os princípios basais que a formaram ela estará se impludindo. Não é só uma questão civilizatória, o Natal em que se dá presentes ao invés de receber é também uma experiência fundamental no campo individual. Nunca ouvi falar que perdão, misericórdia e amor tenha feito mal a alguém.
Desarme-se dos preconceitos, o Natal é bonito sim!
M.U.C.C.
Um comentário:
Nas palavras de Chaplin "O homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar." Logo, estaria o homem se suicidando a cada natal?
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