sábado, 5 de fevereiro de 2011

Futebol: uma triste metáfora brasileira

Gosto de futebol desde sempre. Lembro fragmentariamente do entusiasmo do meu pai na copa de 1990. Vestimos camisa amarela, nos apertávamos em frente a um pequeno televisor, lembro da tristeza depois do gol da Argentina. Guardo com carinho a sensação ainda fresca de me sentir campeão com o meu time, de vibrar com jogadas lindas e das figurinhas dos grandes craques. Fui, já bem mais tarde, assistir o Palmeiras em nosso estádio, me senti em casa. Minha história com o futebol não é incomum certamente, nesses pouco mais de cem anos de sua história no Brasil tornou-se paixão e elemento indissociável da identidade nacional. Mais do que isso, faz-se hoje como triste metáfora de nossa condição.
Se você quer entender o que estou falando assista um jogo da liga inglesa, ou italiana, ou espanhola, ou portuguesa, ou francesa, ou alemã e depois assista a qualquer jogo brasileiro. É vergonhoso perceber com entre nós este espetáculo é maltratado. E não pense que estou tratando de trivialidades, nada pode ser mais flagrantemente simbólico de nossos defeitos. Se em outras áreas poderíamos culpar a má formação dos profissionais, como no caso do desempenho da educação, no caso do futebol o que não falta é qualidade. Temos ótimos jogadores, técnicos, fisiologistas, fisioterapeutas, preparadores físicos. Além disso temos mercado para o futebol, o que não falta no Brasil é gente disposta a gastar com sua paixão futebolística, em todas as classes existem fanáticos, ninguém pode dizer que futebol no Brasil não dá dinheiro. No entanto, por incompetência e só por incompetência mesmo não se tem um só gramado que possa se comparar ao dos estádios europeus. Mesmo com grandes emissoras cobrindo o evento as transmissões são inúmeras vezes inferiores. E os estádios...não merecem nem nota.
Não há desculpa, não nos falta nada. Os campeonatos se tornaram chatos, o futebol horroroso, as transmissões sonolentas à ponto de apesar de sermos o país com mais títulos mundiais, nossos campeonatos passam batido para os torcedores do mundo todo. Fiquei pensando nisso quando tentei passar pelo interminável pontilhão da famigerada avenida Airton Senna nas proximidades do Shopping Catuaí. Uma obra de quantos anos? Não ficará pronta nunca? Se fosse em região afastada se diria que é por descaso com os menos favorecidos, mas no filé mignon da high socity não cabe o argumento. Tem o lobby do Shopping, das faculdades, das construtoras, tem a necessidade da rodovia e mesmo assim não chega ao fim. Há uma questão logística envolvendo a sanepar, mas para o inferno...são quantos anos de obra? Só há a ineficácia da gestão como resposta! É como o cada vez pior campeonato brasileiro.
A pior constatação é a de que a maioria das pessoas encara com normalidade. Passo mal assistindo ao futebol europeu e pensando que merecíamos algo melhor, mas os brasileiros na sua maioria não conseguem pensar em outra coisa a não ser se seu time ganhou ou perdeu, se o Ronaldo isso ou aquilo. Não temos dimensão de nossa condição medíocre. As pessoas passam por aquele pontilhão, pelos buracos e crateras do asfalto, pelas escolas sucateadas, pelas universidades paquidérmicas com uma normalidade irritante. Estamos muito felizes com essa cultura do puxadinho, vai dando um jeito aqui e ali, tapa um buraco aqui, compra uma extensão para a instalação elétrica ali, um imposto novo para suprir o velho que é desviado, e assim ao infinito. Em um país decente não se admitiria que as repartições públicas tivessem o aspecto improvisado que tem aqui, são montanhas de cabos enrolados uns nos outros, máquinas velhas, paredes descascadas. Se o estado se deixa representar assim, o que se pode esperar do resto? Acabei! peço desculpas por estar tão ranzinza, meu improvável leitor, mas o Brasil merece!


M.U.C.C.

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