Meu escritório mental anda um caos. Os papéis estão jogados por todos os cantos, o cesto de lixo transborda de projetos abandonados sob a forma de bolinhas de papel. Em minha boca segue o gosto de quem apostou no cavalo errado e agora o vê cada vez mais distante da linha de chegada. Assino à mesa enlouquecidamente documentos onde reconheço em firma a culpa por todos os meus fracassos e derrotas, "sim, a culpa é minha" - repete-se a frase folha à folha. Entretanto, prefiro o fracasso. Talvez só exista verdade na fraqueza. Que a areia movediça me leve cada vez mais para meu lugar de origem e que eu seja um bom filho ao retornar ao lar.
Comer do pó, lamber seu sal e tremer com o frio da alma.
No meio deste cenário pouco ameno, o escrivão Raciocínio é aparentemente o mais agitado, corre atrás do que havia pensado ainda à pouco e já não sabe mais onde enfiou aquela ideia da noite anterior. O Sr. Lucidez deve estar doente pois já fazem alguns dias que não dá as caras, deve ser essas viroses. Dona Consciência está ao telefone em busca de conselhos, as linhas todavia parecem ocupadas. O chefe da repartição, apelidado pelo Dr. Freud de Ego, toca violão em sua mesa. Parece tranquilo, mas é sua forma própria de representação do desespero. Enquanto isso na sala de reuniões, que fica ao lado, todos falam ao mesmo tempo, argumentos e contra-argumentos são interrompidos por ofensas pessoais e velhas querelas. Não parecem convergir em nada.
Comer do pó, lamber seu sal e tremer com o frio da alma.
Todos na verdade aguardam a chegada das gerentes Fé e Esperança. Com algum medo é bem verdade, pois não sabem se vem para comunicar o fechamento definitivo do escritório, férias coletivas, demissões, ou se realmente trazem boas-novas. Os funcionários desse escritório resistem sempre à chegada da Esperança e ainda mais do seu colega Otimismo, dizem que é procedimento padrão, "trata-se de precaução metodológica", "é praxe aqui da empresa". Elas ficaram de aparecer por esse fim de semana, o pessoal resolveu fazer até serão. Enquanto não voltam....
Comer do pó, lamber seu sal e tremer com o frio da alma.
M.U.C.C.
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