Quantas letras fazem uma canoa? Quantas palavras são necessárias para se erigir uma ponte que me tire da solidão do meu mim? Longos discursos não duram mais do que o tempo de secarem as lágrimas que provocaram. Grandes sermões não geram mais do que arrepios. Há, entretanto, palavras que ao entrar por nossos dutos auditivos parecem cruzar órgãos, tecidos e entranhas, são decantadas pelo tempo e viram tatuagens em nossos ossos. Continuarão falantes mesmo quando só os ossos restarem. Que se pode fazer com uma palavra? Qual o poder de nossas línguas? Todo o mistério desses seres falantes que somos não está nos códigos que trocamos, mas no que trocamos através dos códigos. A vida é presente, já houve vida e também haverá, mas o que vive é apenas o presente. O lindo é que este presente vem embrulhado nos belos tecidos e nos elegantes laços da linguagem.
M.U.C.C.
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