quinta-feira, 3 de março de 2011

A densidade das palavras

Quantas letras fazem uma canoa? Quantas palavras são necessárias para se erigir uma ponte que me tire da solidão do meu mim? Longos discursos não duram mais do que o tempo de secarem as lágrimas que provocaram. Grandes sermões não geram mais do que arrepios. Há, entretanto, palavras que ao entrar por nossos dutos auditivos parecem cruzar órgãos, tecidos e entranhas, são decantadas pelo tempo e viram tatuagens em nossos ossos. Continuarão falantes mesmo quando só os ossos restarem. Que se pode fazer com uma palavra? Qual o poder de nossas línguas? Todo o mistério desses seres falantes que somos não está nos códigos que trocamos, mas no que trocamos através dos códigos. A vida é presente, já houve vida e também haverá, mas o que vive é apenas o presente. O lindo é que este presente vem embrulhado nos belos tecidos e nos elegantes laços da linguagem.

M.U.C.C.

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