terça-feira, 22 de março de 2011

SIlêncios

Estranha-me ter de chamar por silêncio tão grande variedade de coisas.  O Cristo permaneceu em silêncio. Silêncio suficiente e pedagógico. Não rebateu acusações, não se deixou afetar. Quando falou disse apenas: Tú o dizes. Não era preciso dizer o que o universo mesmo dizia. Neste caso cabe o dito, quem se justifica se condena, evidentemente vivido ao contrário. O silêncio também se presta a eloquência.
Há os que só param de falar quando se cansam. Em geral, quando isso acontece já é tarde. Já se falou mais do que o cabível, mais do que a prudência aconselha. Perdem de viver o que de melhor o silêncio tem  a oferecer. Quem silencia permite à mente respirar, permite-se sorver melhor do presente. E ninguém pode se desculpar dizendo que não se cala por ignorância, porque antes de tudo o silêncio é uma linguagem do corpo.  O sono certamente é sua manifestação mais exemplar. É preciso calar-se completamente para dormir, calar as vozes mais inaudíveis, calar os argumentos da mente e os debates da consciência. E só neste estado de silêncio nascem os sonhos, poesia que intercala os longos capítulos em prosa do dia-a-dia.
Hoje passei o dia falando, dever da profissão e de cordialidade com os amigos, mas no fundo permaneci em silêncio. O silêncio da alma. Aquela voz que sonha, projeta, ama, pulsa, se revolta, se insurge, os vocativos que proferimos em nossa própria direção permaneceram todos calados. Greve geral dos muitos eus que me compõem. Eles estão cansados dos meus mesmos erros, estão cansados de ter de pagar as faturas dos compromissos que assumo. E talvez por isso, e até por ressentimento, passaram o dia quietos. Não me deram nem se quer satisfações. Acusando o golpe e consentindo a culpa, me calei. Também.

M.U.C.C.

Um comentário:

Valdir Pimenta disse...

A ação para esses problemas, que acredite, compreendemos, deve ser aquela por onde se visita cinco bares, dez conhaques, atravessando Londrina dormindo dentro de um taxi.

abraço....