terça-feira, 1 de março de 2011

três instâncias do ser

Somos seres complexos e com uma capacidade racional menor do que a complexidade do mundo que nos envolve. Mas se me permite tomar certo risco, meu improvável leitor, gostaria de me dedicar a essa nossa complexidade. Sem a menor pretensão de estar falando a verdade, ou sendo definitivo, ou dizendo coisas importantes, gostaria de pensar que temos três dimensões. Poderia dizer que são quatro, ou nove, mas três é mais elegante, soa cabalístico.Temos uma dimensão aparente, todos que me conhecem poderiam me descrever rapidamente com grande semelhança entre as descrições. Temos uma instância aparente também mas disfarsável. Minha barriga não é disfarçável, entra na primeira categoria, mas muitos defeitos que tenho sei disfarçar quando quero. Porém nada se disfarça para sempre. Não há chicletes que possa conter um mal hálito quando esse é crônico, há quem prefira chamar de halitose, pode? Não há sorriso que disfarce a maldade e a indiferença. Não há timidez que esconda o talento ou a beleza para sempre.

Mas há ainda uma terceira dimensão de nosso ser. Costumo pensar que somos como cebolas, ou seja, um amontoado de camadas que se forem tiradas não sobra nada. Somos um amontoado de camadas. Mas o legal nisso é que a sobreposição específica das camadas, que acontece em cada um, produz um efeito mágico de singularidade. Esta dimensão da vida tem poderosas ventosas, se você chega a conhecer alguém neste nível, cuidado! É provável que fique grudado. Não há como amar alguém superficialmente e não é possível conhecer verdadeiramente alguém sem se deixar grudar um pouco por ela. Não há como viver de fato sem estar grudado a muitas ventosas, não há também como não sofrer um pouco com isso. Mas é assim que chegamos um pouco mais perto do oceano abissal que se chama Além-de-mim.

M.U.C.C.

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