segunda-feira, 19 de abril de 2010

formas e conteúdos


       Quando perguntado sobre  a razão de seus discípulos não jejuarem como os de João Batista, Jesus deu uma resposta sintética e desconcertante. Disse que não se põe vinho novo em odres velhos.

        Muitos podem estar se perguntando sobre o sentido desta afirmação metafórica de nosso Senhor. Quero entretanto propor outra pergunta:  Por que Jesus preferiu não dar uma resposta mais direta, clara, por que preferiu construir uma resposta que deixa algo suspenso, algo a ser desvendado?

        Se ampliarmos nossos olhares sobre o ministério de Cristo vemos que esta mesma questão reverbera sobre vários outros textos. Poderíamos perguntar, por que Cristo nos diz que o Reino de Deus é como um semeador que saiu a semear? Por que não nos diz de maneira mais objetiva, qual o significado de abrir espaço para diferentes conotações possíveis?

        É certo que muitas vezes Jesus se dispôs a explicar reservadamente a seus discípulos o sentido de suas parábolas, o que nos demonstra que para aqueles que caminham com Deus é dada a benção da revelação das parábolas.

         Mas também devemos perceber que Deus na sua infinita sabedoria escolheu uma linguagem menos objetiva e mais simbólica para manifestar suas boas novas. Penso que se houvesse forma mais eficaz, mais perfeita, mais ótima de transmitir o significado verdadeiro e definitivo de seu plano eterno e de seu infinito amor certamente o teria feito. Se um cientísta recebesse a incumbência de comunicar uma descoberta revolucionária, será que o faria através de linguagem poética? Se um homem qualquer tivesse que transmitir claramente uma mensagem que poderia colocar em jogo todo o resto da existência de um ente muito amado, será que o faria através de um conto metafórico? Mas o Filho do Homem falava por parábolas.

        Voltamos ao vinho e aos odres. Jesus propôs uma relação entre as figuras, o estado de ser do odre deve acompanhar o do vinho. Novos conteúdos pedem novos formatos. Assim a manifestação do Verbo enquanto eterna boa-nova exigia um novo comportamento dos discípulos e exige constantemente um renovar de nossos odres também. Não se pode receber a novidade de vida sem reformarmos também o tabernáculo vivo de Deus em nós. Para o vinho novo, odres novos. E mais, Compreender Jesus como novidade, para além do que até agora nos foi oferecido, para além do que eclesiasticamete se tem vivido, nos leva a mudar também os formatos com os quais nos relacionamos com Deus e com o próximo. As formas interagem com os conteúdos, eles não são totalmente independentes, um altera a configuração do outro. Jesus precisava comunicar-se através de parábolas, se não o fosse ele não teria feito de outra maneira? Sua linda poesia preserva viva, atual e inteligível sua verdade eterna.

Que o Vinho novo de Deus encontre em nós odres novos também, que aceitemos o trabalhar deste tão amoroso Artesão em nos renovar e nos reinventar. E que possamos transmitir, como imitadores de Cristo, as parábolas que os homens de nossos dias precisam ouvir!

M.U.C.C.

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