Pensando o casamento não como o relacionamento que se desenvolve entre duas pessoas, mas como o ritual que se encena em um dia específico e em um lugar específico, este parece ser uma das metáforas mais poderosas que se projeta sobre os homens e mulheres ainda contemporaneamente. Uma metáfora resistente ao tempo, que se transforma se moderniza e aparentemente preserva sua relevância. (soou careta, mas...)
Pense em quantos filmes e novelas você já viu terminando em casamento, quantas vezes já chorou ou pelo menos se arrepiou ao ver uma noiva rompendo alva, sorridente e chorosa os corredores de uma igreja. Existem outros rituais tão significativos quanto o casamento que perderam a força na sociedade contemporânea. Quem tem ido a batizados? Quando chega o Natal e a Páscoa, quais são os rituais praticados pelas famílias? Assistir a missa do Galo? Um filme sobre Jesus na sessão da tarde? Os casamentos continuam importantes.
Quem já se pegou nervoso nos preparativos de uma colação de grau? Quem já se emocionou com as paradas militares do sete de setembro? Quem passou um dia inteiro em um spa se preparando para o alistamento no exército?
Mas o casamento é transtorno que acomete a toda uma vasta parentela de gentes que não se esgotam. É impressionante como as vidas se convulsionam com a eminência do evento, o casamento suga a atenção os planos e o esforço de pessoas quase no limiar da exaustão. O gasto financeiro implicado é distribuído em estrutura piramidal dos noivose seus pais até os convidados mais modestos, todos gastam com um casamento seja para não repetir a gravata ou o vestido ou comprar uma geladeira. Empresas e mais empresas refestelam-se em grandes montantes de lucros obtidos com serviços prestados aos noivos para a realização do ritual.
O mais curiosos porém, é que as pessoas se comportam como se estivessem diante de um ovo de páscoa. Pois, assim como é o caso desta calórica guloseima, o casamento parece importar mais pela casca do que pelo que há em seu interior. Eu não me lembro de encontrar uma noiva que em conversas dias antes do casamento queixe-se da incerteza da vida à dois, ou que confesse estar nervosa por encarar novas responsabilidades. As aflições referem-se ao buffet, a floricultura, o vestido, os convites, .... O caso é tão bizarro como seria se um vestibulando se preparasse para o vestibular unicamente comprando canetas ou apontando lápis.
Ao mesmo tempo que se observa esta histeria coletiva em relação ao casamento como mise en scène, esta hipertrofia de luzes e brilhos, esta espetacularização do rito de passagem. O casamento como aliança, concórdia, compartilhamento de si se esvazia cada vez mais. Talvez a própria hipertrofia do rito seja uma medida compensatória da atrofia do fenômeno relacional. Esta é a metáfora do casamento comtemporâneo, passamos a amar o símbolo e a desprezar o seu significado. Admiramos a dentadura, sua brancura, brilho e simetria, mas já não temos boca. Limpamos a casa, compramos móveis novos, camas de rei, banheiras de princesas e passamos o dia fora trabalhando como escravos!
Mais uma psicosociopatia contemporânea.
M.U.C.C.
Um comentário:
Apesar de aparentemente, numa primeira opinião discordar de seu argumento, tenho que ceder e dizer que o rito referido tem o glamour de um dia... e o rosto sem maquiagem de todos os outros
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