segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Um brilho eterno, uma leveza insustentável, um curioso benjamin.


A felicidade é uma espécie de epifania.
Raja seus brilhos etéreos generosamente,
cintila miríades de cores que se caleidoscópicam,
nos brinda como um beijo que se recebe de surpresa.
Felicidade não é paisagem bucólica,
não tem verdejantes montanhas,
macieiras carregadas
e um longo caminho que leva a uma casinha branca com chaminé.

Felicidade nasce de um susto.
Como aquele que se tem ao tentar pôr os pés na areia do fundo do mar e não o encontra.
Como frio da barriga de montanha-russa.
Como o medo de filme de terror.
A felicidade é corajosa e desajeitada,
como o vôo da galinha,
como um amor que se declara,
como o dançar de uma criança.

Uma centelha celeste pousa em minha cabeça,
de repente, feliz.

M.U.C.C.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Música Cristã Hoje

Desde Adorno e Benjamin há um grande debate nos meios intelectuais sobre a relação entre produção artística e consumo industrial. Existem aqueles que veem a chamada Indústria Cultural como o fim de toda possibilidade de produção artística honesta, exageram penso eu. Existem os que acham essa discussão ultrapassada na medida em que não se pode pensar mais as manifestações artísticas desvinculadas da indústria, teríamos de pensar em outros termos e novos conceitos. Sinceramente, consumo muito essa tal indústria cultural e sem culpa. O Showbiss norte-americano produz entretenimento de ótima qualidade, adoro House M.D. por exemplo. Essa é uma indústria que se pode consumir sem pensar nos bezerros confinados sofrendo, nos trabalhadores chineses semi-escravizados produzindo tênis, etc.... Emite muito menos CO2 que as outras indústrias. Mas é a ideologia enlatada? Dirá você, meu improvável leitor. Ora, leia um pouco todo dia, leia os clássicos, bons livros, tenha idéias próprias, estude e você estará mais que vacinado contra as maldades que possam passar. Digo mais, tendo vida intelectual e interior saudável, você não tolerará a porcaria descartável. Para cada produto bom das prateleiras da indústria cultural existem centenas de porcarias, só com alguma solidez interior você poderá filtrar as coisas. Mas cabe também a pergunta, onde não há ideologia? Não há ideologia em Benjamin e em Adorno também? É menos ideológica a "alta cultura"? Não carecerá ela também de reflexão e filtragem? É possível ser feliz e inteligente ao mesmo tempo com alguns programas de televisão, discos, dvds, filmes produzidos pela indústrial cultural brasileira e internacional.
Entretanto, no que diz respeito a produção cultural cristã no Brasil tenho uma opinião diferente. Temos uma indústria rasteira e dinheirista que se mostra a cada dia incapaz de se deixar guiar pela qualidade e pelo conteúdo. Tudo o que me interessa nas manifestações culturais cristãs no Brasil estão à margem dessa indústria corrosiva e de mau gosto. As gravadoras....valha-me Deus! Quase nada passa ao crivo da mínima honestidade intelectual. Estão produzindo um embrutecimento e um emburrecimento atroz. Alimentam e se alimentam da ignorância e de todo tipo de predicado negativo.  É difícil achar coisas boas para se ouvir e ver entre os meios cristãos. Não é muito melhor o mercado editorial embora existam ainda boas editoras e bons escritores. Você quer ouvir boa música cristã? Vá para as margens. Descubra nomes menos conhecidos como Carlinhos Veiga, Jorge Camargo, Gladir Cabral, Baixo e Voz, Sal da Terra, sem falar no João Alexandre. Não estão no Faustão, não estão ricos, não tem contrato com a Somlivre, mas fazem boa música.     Deixo, já me despedindo, a dica do site e do blog de Gladir Cabral que traz uma série de ótimas músicas em reação às terríveis tragédias que vivemos com as chuvas neste início de ano. São de um frescor e de uma sensibilidade digna de nota. Confira, http://www.gladircabral.com.br/site/
M.U.C.C.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

5000 visitas, obrigado gente!

Narro-me neste lugar. Faço rapsódia em prosa e verso da épica história daqueles a quem me acostumei chamar de eu. Comecei como uma espécie de terapia, coisa aliás que adoraria fazer de verdade se recursos tivesse para recompensar o trabalho do analista, mas dada a realidade me fiz contente com este blog mesmo. Nunca tive a intenção de escrever para um público, escrevia para mim. Comecei e desisti em 2008. Ano passado retomei este projeto, inicialmente escrevendo coisas que trazia já a algum tempo anotadas em uma pequena caderneta. Fui tendo outras idéias, fui escrevendo sobre outros assuntos, experimentando novos formatos de texto. Os leitores foram aparecendo, a primeira leitora foi minha esposa que até hoje lê e me ajuda a melhorar generosamente estes meus textos. Outros vieram demonstrando interesse, simpatia e até uma surpreendente fidelidade a este espaço. Me fizeram mudar de rumos e pretensões. Hoje não escrevo só por higiene mental, escrevo aos meus improváveis leitores. Faço-me público na medida do conveniente, me espalho por esta louca rede de mil redes até onde dá. E tenho gostado. Muito do que tenho lido, pesquisado e me interessando nestes últimos tempos vem daqui, nasce aqui. Eu sei que existem sites e blogs com  muito mais visitas do que este, que atingem esta marca em um único dia, mas fico admirado de contar com tantas visitas em se tratando de um blog feito basicamente de textos. O que se fala aqui não é útil, atual, importante, falo homeopaticamente sobre coisas que me afetam, interessam e transformam. Me admira saber que outros tenham se interessado também. Leiam e opinem sempre, façam deste espaço cada vez menos meu para que nosso seja. Aproveitem de minhas inutilidades porque tudo o que realmente importa é inútil. Qual a utilidade de um beijo? Qual a utilidade de um soneto? De um conto? De uma oração? Para que serve saber mais sobre história, música...? Tudo o que realmente interessa não se deixa instrumentalizar, não se faz útil a nada. Tudo o que é verdadeiro mesmo é tão evidente que não requer prova alguma!


M.U.C.C.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

reunião extraordinária.

As gavetas parecem sempre mais fundas. Temos sempre muito mais para guardar do que elas suportam receber. Nelas estou guardado. Cada pedaço de papel, bilhete, recibo, boleto, cópia, fotocópia é a fracassada tentativa de não me deixar pelo caminho. Passo os dias todos do ano me catalogando por essas gavetas, sempre penso que vou precisar voltar àquelas velhas idéias, aos projetos que não se cumpriram, àquela matéria da Folha, àquele fascículo da revista. E não volto, prossigo a vida. Quando volto, não encontro. Se encontro, não é como lembrava. Mesmo assim, voltar a essas gavetas faz viver a esperança de que em algum momento luminoso, em algum sorriso do destino haverei de achar a peça perdida do meu quebra-cabeça. Quem sabe um recado do passado, escrito a próprio punho me há de botar nos eixos, dar corda em meu relógio de parede. Abro um livro velho e releio anotações, terei sido genial? Estará aqui guardado algo de valor? Agora meu caderno de anotações, haverá de ter algo que brilhe. Um verso insinuante? Um parágrafo de criatividade? Retiro um papelete do fundo de uma pasta, agora vai! Alarme falso, era apenas uma ata de reunião.
Guardo atas de reunião. Talvez agora que me desfiz de várias, engordando o cesto do banheiro, percebo que são ainda úteis. Quase as peguei de volta. Só através desses amarrotados pedaços de papel percebo a inutilidade de boa parte de meus atos e atribuições. Me aborreci, me entristeci, me desgastei, fiquei inquieto, ancioso em nome de pouca coisa. O que de melhor fiz nesses últimos anos não cabe em minhas gavetas. O que de melhor li, ouvi, senti, aprendi não cabe em lugar nenhum além de em minha cabeça. Minhas prateleiras continuarão cheias, meus hardwares também, para que outro eu venha e as possua se quiser!


M.U.C.C.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Cristal

Do choro da carpideira,

da viúva que ora grita.

Nasce um cravo

e morre o pranto.


De dentro da pedreira

brota bruta pedra brita.


Brado, bravo!

Brilha branco,

onde toda cor habita.

Morre-se a dor da sexta-feira

quando o Verbo ressuscita.

Toda dor tem seu compasso,

todo sucesso seu fracasso,

de onde quando em nunca nasce um cristal!




M.U.C.C.

Café pequeno.

Sou amargo com café.

E ainda nem tenho seu perfume.

Da cana faz-se o mel.

Só Mel mesmo pra me adoçar.

M.U.C.C.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Deus é um.

Síntese é um atributo divino.

Do mesmo pó viemos todos.

Do pó de Adão, Eva.

Montecchios e Capuletos para o mesmo voltaram.

Do mesmo fel faz-se veneno e antídoto.

Doença e vacina.

A mesma droga que sana, adoece.

Afeto e ódio.

De muitas carícias chega-se quase a agressão,

de muitas armas faz-se paz,

Ação das polícias e a ação do ladrão.

De toda lei o amor.


M.U.C.C.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Gosto é gosto e não se discute? tentando entender jazz!

Jazz é o nome de um gênero musical nascido nos EUA no início do século passado, originado do encontro de raízes musicais africanas e de tradições musicais européias. Hoje o jazz se desdobrou em tantas vertentes e diferentes manifestações que a fronteira entre o que é ou não jazz já não se pode perceber nitidamente. Entretanto, há alguns elementos que são característicos deste gênero musical, que estiveram presentes desde seus primórdios e permanecem compondo as estruturas do que se costuma chamar de jazz. Um desses elementos é o improviso. Quando vemos um guitarrista "solando", como se diz, ou seja, improvisando frases musicais em um show de Rock talvez não nos damos conta, mas esse é um elemento oriundo do jazz. O improviso é a criação musical se dando no instante de sua execução, o músico ao improvisar torna-se interprete e autor de certo modo, ele cria, recria, constrói e desconstrói a música que está sendo executada. Normalmente o improviso se dá mantendo elementos da música pré-existente, como sua harmonia e seu andamento rítmico, e novos elementos são introduzidas, novas melodias ou figuras rítmicas.
Neste vídeo, por exemplo, nos primeiros vinte e três segundos os músicos apresentam o que se chama de tema, ou seja, a música pré-existente. Você pode visualizar os acordes e a melodia, mesmo sem ler partitura da para ter uma idéia. Até o trigésimo quinto segundo temos a repetição do mesmo tema. A partir daí o saxofonista John Coltrane, um dos maiores nomes do gênero, passa a inventar frases musicais, temos portanto o momento do improviso. Aos três minutos e cinco segundos o piano é que passa a improvisar sobre o mesmo tema. Coltrane volta a improvisar aos três minutos e 54 segundos. Durante o improviso do piano nota-se o número 14 e depois 48 na partitura, são os compassos em que o pianista improvisa, ou seja há uma contagem constante dos compassos que controla o tempo que cada músico permanece improvisando. O músico ao mesmo tempo que deve imaginar as frases musicais e executá-las deve também permanecer contando os compassos para saber em que momento seu improviso termina ou começa. Controlando os compassos ele tem de pensar em como fechar as idéias musicais que propôs, um improviso tem começo, meio e fim e assim o músico cria frases, as modifica, retorna a elas para dar essa sensação. Aos quatro minutos e vinte segundos Coltrane retorna ao tema do início para encerrar a música.
Agora veja o próximo vídeo e tente identificar os mesmos elementos!


M.U.C.C.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Discussão

Ela quer discutir a relação.

Dizer o indizível.

Fala!

Os sentimentos não se deixam narrar.

Chora!

Conta o pranto.

"Ele sempre quer ter razão"!




M.U.C.C.

O fracasso das palavras

O casal grita.

A criança se desespera,

não sabe dar nome aos bois.

Não sabe ainda que o nome é o nome e os bois são os bois.

O filósofo se explica gesticulante,

entendo os gestos.

A criança dorme.

A cabeça do filósofo coça,

vacila, parece quer dizer..., sabio, se silencia.

Da briga do casal o que sobra são os gestos, a saliva, as intenções das sobrancelhas.

Da palavra à vida um abismo,

do desejo ao dito uma galáxia.

No princípio o verbo.


M.U.C.C.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Gosto é gosto e não se discute? reconhecendo elementos da interpretação musical

Por muitas vezes eu já me vi discutindo sobre música em vários espaços da vida social. É comum que digam que gosto é gosto e que não se deve, portanto, criticar os artistas e respeitar o gosto alheio. De fato todos devem ter o direito de gostar do que quiserem e há sem dúvida uma questão de gosto, de preferências, de noções estéticas que são absolutamente pessoais. Mas isso não significa que não se possa emitir julgamentos e que não existam critérios que possam ser utilizados para se, digamos, ler uma canção. Deveríamos ter aulas de música na escola, sem dúvida. Há muito claramente uma grande dificuldade das pessoas em entenderem a música como linguagem e expressão artística. Pensando nisso decidi fazer uma pequena experiência a partir do youtube. Utilizando uma das grandes obras-primas da obra de Tom Jobim, Luiza, pensemos um pouco sobre interpretação musical. Ou seja, vamos nos atentar para a maneira como o artista executa uma determinada peça musical, quais elementos ele incorpora à peça e quais as sensações que tenta provocar. Específicamente vamos tratar do instrumento que mais me interessa, o violão.

VÍDEO 1
Neste primeiro vídeo veremos a canção Luiza sendo interpretada por seu autor. Poderemos nos familiarizar com   a melodia e a letra a partir do canto de Tom Jobim  e deveremos perceber também a harmonia ( os acordes simplificando) sendo executada ao piano.

VÍDEO 2
Neste segundo vídeo veremos a interpretação de um dos maiores nomes do violão brasileiro, Rafael Rabello. Este grande artista transitava muito bem entre a música chamada erudita e a popular. Gravou várias obras de Villa-lobos e Radamés Gnattali, foi um grande intérprete de choros de todos os grandes nomes do gênero e dedicou um disco inteiro às composições de Tom Jobim. No youtube você poderá encontrar versões em que  Rabello interpreta a música acompanhado de outros músicos como Leo Gandelmann e Paulo Moura. Neste vídeo, no entanto ele se apresenta sozinho. Preste atenção na maneira como a melodia da música e sua harmonia se encontram no violão, veja como ele vai enfatizando determinadas notas e acordes. Também deve-se perceber como Rabello acrescenta à música novos elementos na introdução, entre as estrofes e no encerramento.

VÍDEO 3
Veja neste terceiro vídeo a interpretação de Denien Arcoleo a partir do arranjo de Paulo Belinatti. Veja como o artista preferiu executar a música de modo mais lento. As pausas são maiores, as notas e os acordes apresentados com mais lentidão. Esta execução em um andamento mais lento é proposital, o artista quiz, ao meu ver, dar preferência à nitidez, à limpeza do som do que a outros elementos. Destaque para o trabalho da mão direita do músico que fica bastante evidente no vídeo. E da utilização dos chamados harmônicos, que são as notas emitidas apertando-se as cordas de maneira bem sutil emitindo um som bastante característico e delicado.

VÍDEO 4
Veremos a interpretação de Daniel Ring. Você verá em muitos momentos que há notas que são emitidas de maneira imprecisa, a corda não fica bem presa e o som não são com nitidez. Poderá perceber  que as frases melódicas são mais simples que as emitidas nos vídeos anteriores. Me parece que a própria insegurança do artista transparece em seu violão.

Existem ainda muitos outros vídeos que podem ser vistos no youtube interpretando Luiza por artistas nacionais ou estrangeiros, há versões com quartetos de cordas, piano, clarinete e tantos outros instrumentos. Divirta-se e dê mais atenção aos interpretes!

M.U.C.C.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

conte o conto ou aumente um ponto

Deixe aqui os comentários, palpites, impressões, sobre o conto Desenganado e Desencanado! Qualquer impressão é legal. Ficou longo, curto, não gostou, tem opiniões e dúvidas? participe!

M.U.C.C.

domingo, 2 de janeiro de 2011

A síndrome do tromba-tromba.

Há entre nós um estranho gosto pelo choque. As crianças vibram ao entrar naqueles quadrados metálicos, colocar em movimento aquelas gambiarras automobilisticas para ficar trombando e rindo fartamente. Os homens adultos gostam de boxe, ou de vale-tudo, ou ainda daqueles espetáculos de carros que se destroem mutuamente. As senhoras vibram ao ver duas mulheres literalmente arrancando seus cabelos nas novelas. Isso para não falar no elegantérrimo teste de DNA regularmente promovido no programa do Ratinho. Os conflitos são inevitáveis. As famílias, especialmente, são como um tromba-tromba, por mais que você tente evitar os choques acontecem, talvez gerando menos risadas e diversão. Mas o motivo deste texto não é esta inexorabilidade dos conflitos, mas o gosto pelo conflito, a opção deliberada pela discórdia.
Vendo ontem o Lula discursando em frente a sua casa em São Bernardo me ocorreu isso. Absolutamente consagrado, um governo de aprovação internacional, nos braços do povo, ele fez um discurso de conflito. Parecia ainda estar em frente a uma fábrica exigindo reposições salariais. Os malditos yankees, os malditos yuppies, a elite, todos os ricos contra seu heroismo, seu verdadeiro patriotismo, seu apego ao povo e aos sofredores. Poderia ter olhado por cima, poderia ter voado mais alto, falado de valores universais, princípios inegociáveis, conquistas maravilhosas, poderia ter feito uma metáfora espalhafatosa, falado do centenário do Curintcha, mas não. Ele no fundo gosta da briga, com um casal de velhos parece ter prazer em expor os defeitos um do outro frente as visitas, só para dar corda no motor.
Não muito tempo atrás eu dava aulas a um pequeno grupo de jovens pobres em situação de risco, ficava admirado em perceber como eles gostavam de provocar o conflito pelo conflito. Paz era sinônimo de tédio para eles. Fui percebendo que a violência e o conflito tinha se apoderado em primeiro lugar de suas linguagens e suas relações. Eram indiferentes ao carinho, o cuidado e afeto, até suas relações amorosas eram violentas e conflitivas. Os conflitos de Lula existem primeiramente em sua linguagem também. Ele não foi melhor para os pobres do que foi para a elite, o Lula deixou muitos tubarões mais gordos e satisfeitos. Mas a linguagem da violência se apodera de seu raciocínio, de suas narrativas e assim por diante. Muitos casais são assim também, parece haver uma opção deliberada por resolver as coisas gritando e brigando.
Nesses casos a violência tornou-se uma questão estética. Seja a estética do machão, do sindicalista ou do candidato a chefe da boca-de-fumo, as pessoas desejam ser os napoleões triunfantes de suas vidas. Acordo, concórdia, negociações bilaterais, diplomacia não satisfaz nestes casos, querem afirmar seu poder a todo custo. Talvez pior que viver em um tromba-tromba seja viver naquelas motos que giram em torno de si, a monotonia seria insuportável. Mas eu prefiro acreditar que é possível haver um convívio construtivo entre os diferentes.

M.U.C.C.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Eis a questão.

Quando a vida começa?
Quando ela termina?
Dois filhos vi nascer, muitos queridos vi morrer, não me disseram nada!
Fui ter com os biológos, fui ter com os teólogos, não me disseram nada!
Fico tentando buscar em mim,
uma só minha resposta,
que só em mim servirá.
Como o terno de um alfaiate que um dia vestirei.
Os gritos neonatálicos da prole, os batuques e assovios de meu avô doente sugerem:
O espaço/tempo do vivo é o período em que há música,
depois/antes silêncio.

M.U.C.C.