quinta-feira, 17 de março de 2011

A ressaca de Bukowski

Eu não me considero uma pessoa conservadora, nem no sentido ideológico nem no sentido comportamental. Tive sempre em minha, ainda curta e medíocre, biografia uma pitada de transgressão, inconformismo e um apreço pelas marginalidades estéticas. Se não o fora, não teria cursado História, para o latente escândalo dos que me cercavam. Teria feito direito, ADM, ou outras óbvias opções que me assediavam. Exatamente por ter esse gosto por deixar o cabelo descabelar, a roupa furar, a barba crescer (a barriga cresceu movida por outras forças) estou cada vez mais seduzido pelos conservadores. Não os compro totalmente, não me sinto um deles, não consigo aliás me sentir parte de nenhum bloco ideológico monolítico. Seria como virar uma estátua. Mas eles é que passaram a representar a rebeldia dentro do campo cultural brasileiro. A cultura brasileira abraçou uma sofisticação de verniz, um apreço pelo popular (mantido à distância evidentemente), uma vanguardice comportada fazendo tudo soar mais falso que sorriso de Miss. O futuro-natimorto-tropipilantra blog da Bethânia é, neste sentido, paradigmático.
Exatamente por esta náusea que se turba em meus ventres cotidianamente, resolvi falar do Paulo Briguet. Gosto do briguet porque além de escrever muito bem, tem a coragem de ser um fora-de-moda e dizer coisas que soarão cafona nos meios em que transita. Ele é um outsider do eixo Marx-foucault-GLS-canabis-etc....e isso já é considerado delito nos meios culturais brasileiros atuais. O que traz uma nódoa transgressora aos seus textos. E a arte deve ser sempre transgressora! Não penso exagerar sinceramente. Discordo de Briguet na afirmação de que não deva haver verba pública para a cultura. (leia aqui o artigo em questão) As favelas precisam de bibliotecas e projetos que as tornem realmente úteis, precisam de espaços para teatro, cinema e rádio. Não só as favelas, mas entenda a figura de linguagem que proponho. Mas também acho que espetáculo não deve ter verba pública. Artistas do mundo inteiro, se virem para tornar-se viáveis. Se há capital valorizado nestes dias é o da espetacularidade. Sempre houve arte de vanguarda, marginal ....e o escambau, sem que tivesse que passar o chapéu diante da classe política. Aliás, quem é marginal mesmo, vanguarda mesmo, muderninho mesmo, deveria ter asco de verba pública. Deveriam se sentir comprados pelas forças propagandísticas do estado. Quem diria que um autor católico pudesse soar provocador e Charles Bokowski soar obediente!

M.U.C.C.

4 comentários:

Jana disse...

Roberto Da Matta em Carnavais, Malandros e Heróis analisou a sociedade contemporânea dizendo que o capital de hoje em dia fica guardado, de maneira segura, nos cofres dos nossos revolucionários de ontem e acescenta dizendo que provavelmente podem ser os nosso reacionários de amanhã. Isso não é regra, mas acontece. Bethânia é um exemplo, e a nossa Ministra Ana de Hollanda também. A sociedade sente muito.

Marcão disse...

Acho que você e o Da Matta sintetizaram bem a questão. Todos sentimos muito mesmo, jana.

Paulo Briguet disse...

Obrigado. Voltarei sempre ao blog.

Marcão disse...

Volte sempre mesmo!O blog é nosso!