Rasgue-se os títulos,
descumpra-se os contratos,
que volte a obra pronta a ser rascunho,
que o projeto volte a ser sonho,
que o vivo volte a embrião.
Solte-se dos estribos,
Perca-se pelos caminhos,
que o maduro volte a verdejar,
o universo volte a expandir novas galáxias,
que o sempre seja só por hoje,
professor seja amador.
E que ame.
M.U.C.C.
blog dedicado à publicação despretensiosa e despreocupada de pequenos textos, comentários e pitacos em geral.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
fundamentalismo ateísta
"No desvio de algum rincão do universo inundado pelo fogo de inumeráveis sistemas solares,
houve uma vez um planeta no qual os animais inteligentes inventaram o conhecimento. Este foi o
minuto mais soberbo e mais mentiroso da história universal , mas foi apenas um minuto. Depois
de alguns suspiros da natureza, o planeta congelou-se e os animais inteligentes tiveram de morrer."
SOBRE A VERDADE E A MENTIRA NO SENTIDO EXTRAMORAL Friedrich Nietzsche 1873 Tradução de Noéli Correia de Melo Sobrinho
Permitam-me, meus improváveis leitores, cometer o delito de trair o texto acima. Que isto não seja usado contra mim. Faço isso até que por alguma inspiração nietzscheana, mas o texto aqui será certamente usado pelo avesso, espero. Há, percebam, um doce sabor em usar um texto do famoso autor da frase, Deus está morto, para criticar o ateísmo militante dos dias atuais.
A produção de um conhecimento científico sobre o mundo ancorado em princípios como a racionalidade, o empirismo, a criticidade, a radicalidade e tantos outros mostrou-se até agora ser um meio útil e adequado para solução de problemas humanos. Quem pode pensar nos prejuízos trazidos pelos saberes oriundos dos meios acadêmicos deve perceber também as muitas contribuições prestadas pelos diligentes pesquisadores e pensadores do passado e dos nossos dias. A Ciência, como nós a conhecemos, foi um dos maiores legados da civilização cristã européia da era moderna que se consumou a partir do acúmulo de conhecimentos advindos de outros espaços territoriais e religiosos. Este legado compõe uma das mais belas diademas da tradição européia.
Ironicamente ela se transformou em uma instituição poderosa, produtora de "verdades" que passaram a desprezar seus genitores. O ateísmo militante que se vê crescer principalmente na Europa tem na Ciência o principal instrumento de combate da religião. O exército de macacos nús capitaniados pelo senhor Dawkins elegeu o cristianismo como bode expiatório para os problemas da humanidade. Mostram-se incapazes de perceber suas qualidades e belezas. O mundo laico ocidental é ávido em encontrar belezas em todas as culturas, tradições e religiões espalhadas pelo mundo, mas cego para reconhecer as belezas de suas próprias tradições e crenças. Acha-se linda a cultura de povos canibais e critica-se um religião que, ao menos nos discursos iniciais e fundantes, é eminentemente pacifista.
Não percebem o quão flagrante é sua filiação ao cristianismo, até nos seus procedimentos de luta. O que a militância ateísta faz é uma cruzada do bem contra o mal no melhor estilo cristão medieval. Os argumentos, a sede por ações legislativas são dotadas de um fundamentalismo que não nega os genes. Vivemos dias de fundamentalismo e intolerância inclusive nas torres de marfim da academia. Ateistas do mundo inteiro, vistam a carapuça!
As religiões são manifestações universais de humanidade, são saberes, tradições, procedimentos, sentimentos com milhares de anos de lastro. Moldadas pelas dores e tragédias, sucessos e fracassos de muitas e muitas gerações, as religiões trazem à tona os poderes de um homem profundo, plural, geracional, que não se esgota no indivíduo. As religiões trazem a sabedoria e eficácia dos homens ao longo de um muito longa caminhada. Há uma carga poderosa para além do ordinário presente nas religiões e só o desconhecimento do tema pode explicar a insensibilidade dos críticos. Soa ingênuo e estúpido para meus ouvidos essa simplificação conceitual do ateísmo militante, pior é que os faz intolerantes. Há um valor, cristão aliás, muito válido e útil para a tolerância que é a humildade. A ciência deve, por princípio fundante, duvidar, inclusive de si. E a dúvida deve ser uma janela que se abre para um diálogo, mesmo que pelo msn.
M.U.C.C.
houve uma vez um planeta no qual os animais inteligentes inventaram o conhecimento. Este foi o
minuto mais soberbo e mais mentiroso da história universal , mas foi apenas um minuto. Depois
de alguns suspiros da natureza, o planeta congelou-se e os animais inteligentes tiveram de morrer."
SOBRE A VERDADE E A MENTIRA NO SENTIDO EXTRAMORAL Friedrich Nietzsche 1873 Tradução de Noéli Correia de Melo Sobrinho
Permitam-me, meus improváveis leitores, cometer o delito de trair o texto acima. Que isto não seja usado contra mim. Faço isso até que por alguma inspiração nietzscheana, mas o texto aqui será certamente usado pelo avesso, espero. Há, percebam, um doce sabor em usar um texto do famoso autor da frase, Deus está morto, para criticar o ateísmo militante dos dias atuais.
A produção de um conhecimento científico sobre o mundo ancorado em princípios como a racionalidade, o empirismo, a criticidade, a radicalidade e tantos outros mostrou-se até agora ser um meio útil e adequado para solução de problemas humanos. Quem pode pensar nos prejuízos trazidos pelos saberes oriundos dos meios acadêmicos deve perceber também as muitas contribuições prestadas pelos diligentes pesquisadores e pensadores do passado e dos nossos dias. A Ciência, como nós a conhecemos, foi um dos maiores legados da civilização cristã européia da era moderna que se consumou a partir do acúmulo de conhecimentos advindos de outros espaços territoriais e religiosos. Este legado compõe uma das mais belas diademas da tradição européia.
Ironicamente ela se transformou em uma instituição poderosa, produtora de "verdades" que passaram a desprezar seus genitores. O ateísmo militante que se vê crescer principalmente na Europa tem na Ciência o principal instrumento de combate da religião. O exército de macacos nús capitaniados pelo senhor Dawkins elegeu o cristianismo como bode expiatório para os problemas da humanidade. Mostram-se incapazes de perceber suas qualidades e belezas. O mundo laico ocidental é ávido em encontrar belezas em todas as culturas, tradições e religiões espalhadas pelo mundo, mas cego para reconhecer as belezas de suas próprias tradições e crenças. Acha-se linda a cultura de povos canibais e critica-se um religião que, ao menos nos discursos iniciais e fundantes, é eminentemente pacifista.
Não percebem o quão flagrante é sua filiação ao cristianismo, até nos seus procedimentos de luta. O que a militância ateísta faz é uma cruzada do bem contra o mal no melhor estilo cristão medieval. Os argumentos, a sede por ações legislativas são dotadas de um fundamentalismo que não nega os genes. Vivemos dias de fundamentalismo e intolerância inclusive nas torres de marfim da academia. Ateistas do mundo inteiro, vistam a carapuça!
As religiões são manifestações universais de humanidade, são saberes, tradições, procedimentos, sentimentos com milhares de anos de lastro. Moldadas pelas dores e tragédias, sucessos e fracassos de muitas e muitas gerações, as religiões trazem à tona os poderes de um homem profundo, plural, geracional, que não se esgota no indivíduo. As religiões trazem a sabedoria e eficácia dos homens ao longo de um muito longa caminhada. Há uma carga poderosa para além do ordinário presente nas religiões e só o desconhecimento do tema pode explicar a insensibilidade dos críticos. Soa ingênuo e estúpido para meus ouvidos essa simplificação conceitual do ateísmo militante, pior é que os faz intolerantes. Há um valor, cristão aliás, muito válido e útil para a tolerância que é a humildade. A ciência deve, por princípio fundante, duvidar, inclusive de si. E a dúvida deve ser uma janela que se abre para um diálogo, mesmo que pelo msn.
M.U.C.C.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Higienópolis nº2011
Tive a idéia de escrever este texto enquanto passava o fio-dental entre os dentes hoje pela manhã. Não sei você, mas eu sinto a tentação de parar de passar o incômodo fiozinho depois de já ter limpado os dentes da frente. Resisto à tentação, vou até os quase intangíveis molares vizinhos da úvula. Dói por vezes, sobra uns fiapos, mas trata-se de um posicionamento moral.
Vivemos dias em que o que se quer não é estar limpo, mas parecer limpo. Os desodorantes verdadeiramente matam as bactérias que geram o desagradável fedor? Não, produzem um cheiro mais forte que nos impede de sentir o que não se quer. Será que realmente acreditamos nos rótulos dos produtos de higiene pessoal e suas promessas? Ou somos hipócritas ou ingênuos. Tomamos por solução a inibição dos efeitos mais evidentes. Perdoe-me se o assunto parece por demais rasteiro, meu improvável leitor, mas reforço seu caráter moral, diria político também.
Não estamos muito preocupados com os bueiros, os fundos de vale ou o açoriamento dos rios por que são como nossos últimos molares, não aparecem. O que realmente interessa à sociedade é que o espelho d'água do nosso Igapó reflita os prédios ao entardecer, as hortências estejam coloridas e os Ipés tombando flores na estação. Repito que não sei se por burrice ou hipocrisia mesmo, mas assim o é. Queremos é esconder o caos de fios por detrás da cômoda, disfarçar o calor com ar condicionado, disfarçamos o envelhecer com miríades de produtos e assim ao infinito. Estamos próximos de levar um xeque mate, mas só sabemos pensar que estamos ganhando o jogo da morte, sem querer parecer muito nórdigo.
A cidade parece brincar com ela mesma ao batizar com o nome de Higienópolis a avenida que atravessa toda esta performance maquiadora. A cidade limpa, higiênica nada mais faz do que esconder suas sujeiras. Talvez esse seja o verdadeiro ideal higienista, não ser limpo mas aparentar. Penso que a sujeira, o defeito, a feiura são as últimas fronteiras do privado, só não queremos tornar público o que fede. Tudo mais vai para o twitter, o facebook, o orkut, o msn, necessariamente nesta ordem.
Até quando aguentaremos?
M.U.C.C.
Vivemos dias em que o que se quer não é estar limpo, mas parecer limpo. Os desodorantes verdadeiramente matam as bactérias que geram o desagradável fedor? Não, produzem um cheiro mais forte que nos impede de sentir o que não se quer. Será que realmente acreditamos nos rótulos dos produtos de higiene pessoal e suas promessas? Ou somos hipócritas ou ingênuos. Tomamos por solução a inibição dos efeitos mais evidentes. Perdoe-me se o assunto parece por demais rasteiro, meu improvável leitor, mas reforço seu caráter moral, diria político também.
Não estamos muito preocupados com os bueiros, os fundos de vale ou o açoriamento dos rios por que são como nossos últimos molares, não aparecem. O que realmente interessa à sociedade é que o espelho d'água do nosso Igapó reflita os prédios ao entardecer, as hortências estejam coloridas e os Ipés tombando flores na estação. Repito que não sei se por burrice ou hipocrisia mesmo, mas assim o é. Queremos é esconder o caos de fios por detrás da cômoda, disfarçar o calor com ar condicionado, disfarçamos o envelhecer com miríades de produtos e assim ao infinito. Estamos próximos de levar um xeque mate, mas só sabemos pensar que estamos ganhando o jogo da morte, sem querer parecer muito nórdigo.
A cidade parece brincar com ela mesma ao batizar com o nome de Higienópolis a avenida que atravessa toda esta performance maquiadora. A cidade limpa, higiênica nada mais faz do que esconder suas sujeiras. Talvez esse seja o verdadeiro ideal higienista, não ser limpo mas aparentar. Penso que a sujeira, o defeito, a feiura são as últimas fronteiras do privado, só não queremos tornar público o que fede. Tudo mais vai para o twitter, o facebook, o orkut, o msn, necessariamente nesta ordem.
Até quando aguentaremos?
M.U.C.C.
domingo, 26 de dezembro de 2010
Memória
Jaz na equidistância entre verdade e mentira,
fato e ficção, prosa e poesia.
Traduz lembrança em saudade,
a carência em falta, vazio em nostalgia.
Não é foto, mapa, texto,
não alto nem baixo relevo,
não é de pano, de barro, nem digital.
Nem fere nem é ferida,
não come nem é comida,
nem sã nem santa.
Memória.
M.U.C.C.
fato e ficção, prosa e poesia.
Traduz lembrança em saudade,
a carência em falta, vazio em nostalgia.
Não é foto, mapa, texto,
não alto nem baixo relevo,
não é de pano, de barro, nem digital.
Nem fere nem é ferida,
não come nem é comida,
nem sã nem santa.
Memória.
M.U.C.C.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Quem disse que Vinícius de Moraes não escreveu sobre o natal?
VINÍCIUS DE MORAES
A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.
É difícil falar sobre o natal nestes dias, sinto-me meio fora de contexto. Parece-me claro que o que se está a celebrar nas ruas tem mais relação com o Lula e o chamado "espetáculo do crescimento econômico" do que com Jesus e o Cristianismo. Não é de todo ruim celebrar uma melhora nas condições gerais de consumo da população, mas todo espetáculo é antes de tudo uma farsa. Enquanto todos batemos palmas para nosso progresso econômico, vê-se um desesperador alastrar da miséria espiritual. E aqui a palavra espiritual pode ser entendida como você quiser. Se pensamos em espiritualidade religiosa, o caso é crítico. Essas relações espirituais andam promíscuas e interesseiras. Compra-se e vende-se muito nas igrejas também. Os pastores, padres e a multidão de voluntários parecem fazer treinamento de vendas nas mesmas agências dos vendedores das casas bahia ou similares. As pessoas fazem cartinhas para o "papai do céu" uma vez que ficaram grandes para mandar para o "papai noel". O Natal dos Shoppings não é muito pior do que o de muitos estabelecimentos religiosos.
Se pensarmos em espírito no sentido alemão do termo (o campo das subjetividades, do existencial, das idéias) não me parece ser muito melhor a situação. A pobreza intelectual graça por todo lado. Uma das coisas que mais me anima em ter esse blog é justamente por ver que outras pessoas, por vezes mais jovens do que eu, também se interessam por subjetividades, sentimentos, filosofia, literatura e um compartilhar gostoso de idéias. Gosto de ver outras pessoas escrevendo, melhorando seus textos, refinando suas referências, criando blogs, tumblrs, e afins. Se existe algo carente de cuidado nos dias de hoje são nossas vidas interiores, nossos canteiros de subjetividades. Gente cultivando músculos e incapazes de formar raciocínios minimamente lógicos e coerentes não falta. Mas aqui e pelas redes sociais à fora encontro sempre uma pequena corriola de seres pensantes e interessantes. Mas somos exceção, não duvide. Vivemos sim um tempo de pobres cuidados com as idéias.
Por isso o natal é um período difícil para mim, o absurdo de nossa condição parece mais evidente. Mas não podemos deixar que maltratem tanto uma passagem tão cara ao nosso mundo cristão. O Ocidente está violentando a si mesmo quando abandona suas tradições mais fundamentais. O Natal como celebração do Amor Generoso, do gesto exemplar divino, vivido e repetido ciclicamente por nós é sim uma data relevante. Se nossa sociedade rejeitar os princípios basais que a formaram ela estará se impludindo. Não é só uma questão civilizatória, o Natal em que se dá presentes ao invés de receber é também uma experiência fundamental no campo individual. Nunca ouvi falar que perdão, misericórdia e amor tenha feito mal a alguém.
Desarme-se dos preconceitos, o Natal é bonito sim!
M.U.C.C.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
O encontro
The Encounter - Escher
Encontro em preto e branco.
Saudam-se.
Dançam.
Cirandeiam dentro em mim.
Já nem mais preto nem branco.
Tudo cinza-se.
Tudo roda em uma velocidade boa.
Velocidade de sair do chão lentamente.
Vivo deste encontrar,
sou deste encontro.
Me encontro nesta roda.
Que rode!
M.U.C.C.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
O Sonho Acabou!
Sonhei. Da mais dedicada e devota maneira. Sonhava convincentemente, como sempre. Durante aquele compasso de tempo eu seria capaz de chamar aquele universo de realidade, eu existia ali durante o sonho. Só agora passado o porre de morfeu, percebo que a música que ouvia não era a única manifestação apta a ser classificada como música. Sim, havia, com quase certeza, uma música que tocava em quanto eu existia em sonho. Era o que se chama normalmente de sertanejo universitário, confesso.
Só pode ser isso. Lembro das frases emitidas por uma "sanfona" renitente, lembro-me da bateria tresloucada que sonhava, ela também, ser bateria de rock'n roll. Esqueço-me da letra, ...com certeza era sertanejo universitário. O que mais me apavora é que o complexo sonoro que nomino como sertanejo de caráter universitário, e as universidades brasileiras merecem a referência, era proveniente não da minha mente, mas deste mundo aqui, de fora do sonho. Algum vizinho devia estar a degustar auditivamente esse "quitute" musical.
Mas em minha perspectiva momentânea, aquela era uma música que eu deveria aceitar, deveria absorver seu pulso e argumento. Os sonhos são autoritários. Nos sonhos não podemos escolher para onde vamos, do que gostamos, do que amamos ou desejamos ardentemente. O sonho, venha de onde vier, não confia em nossa consciência. Em sonhos gosta-se, ama-se, deseja-se sem a menor possibilidade de crítica. Quero crer que neste mundo fora-do-sonho as coisas sejam diferentes, quero crer que sou, mesmo que debilmente, o senhor de mim, que define o bom e o ruim, o aceitável e o evitável. Que estratégia neural repugnante essa de meus sonhos. Captada a informação musical, ela que vem do fora-do-sonho e poderia me alertar da minha condição de sonhante, foi transformada, ela também, em sonho pela sagaciadade da inconsciência.
Para minha alegria atual restam duas informações. Foi a própria estridência do som dos jovens sertanejos que, passado muito tempo, me despertou do sonho. Se chamei o sonho de porre logo acima, poderia dizer que aquela música foi como banho gelado e café amargo, me fez recobrar a consciência presente. Ao acordar com a música venci a estratégia do sonho de me tornar indiferente ao externo. A segunda informação obtive através do espelho após acordar. Vi um lado de minha face tomado de sulcos e um rubor que provavelmente foram causados pela intolerância do meu travesseiro. É um dado concreto que me faz piamente crer no fora-do-sonho. Minha face no espelho é prova de que o corte narrativo que sofri à pouco, marcou a passagem de um mundo idílico para o mundo em que estou agora.
Confiando nesta visão do espelho e agarrado à ela escrevo essas parcas linhas.
M.U.C.C.
Só pode ser isso. Lembro das frases emitidas por uma "sanfona" renitente, lembro-me da bateria tresloucada que sonhava, ela também, ser bateria de rock'n roll. Esqueço-me da letra, ...com certeza era sertanejo universitário. O que mais me apavora é que o complexo sonoro que nomino como sertanejo de caráter universitário, e as universidades brasileiras merecem a referência, era proveniente não da minha mente, mas deste mundo aqui, de fora do sonho. Algum vizinho devia estar a degustar auditivamente esse "quitute" musical.
Mas em minha perspectiva momentânea, aquela era uma música que eu deveria aceitar, deveria absorver seu pulso e argumento. Os sonhos são autoritários. Nos sonhos não podemos escolher para onde vamos, do que gostamos, do que amamos ou desejamos ardentemente. O sonho, venha de onde vier, não confia em nossa consciência. Em sonhos gosta-se, ama-se, deseja-se sem a menor possibilidade de crítica. Quero crer que neste mundo fora-do-sonho as coisas sejam diferentes, quero crer que sou, mesmo que debilmente, o senhor de mim, que define o bom e o ruim, o aceitável e o evitável. Que estratégia neural repugnante essa de meus sonhos. Captada a informação musical, ela que vem do fora-do-sonho e poderia me alertar da minha condição de sonhante, foi transformada, ela também, em sonho pela sagaciadade da inconsciência.
Para minha alegria atual restam duas informações. Foi a própria estridência do som dos jovens sertanejos que, passado muito tempo, me despertou do sonho. Se chamei o sonho de porre logo acima, poderia dizer que aquela música foi como banho gelado e café amargo, me fez recobrar a consciência presente. Ao acordar com a música venci a estratégia do sonho de me tornar indiferente ao externo. A segunda informação obtive através do espelho após acordar. Vi um lado de minha face tomado de sulcos e um rubor que provavelmente foram causados pela intolerância do meu travesseiro. É um dado concreto que me faz piamente crer no fora-do-sonho. Minha face no espelho é prova de que o corte narrativo que sofri à pouco, marcou a passagem de um mundo idílico para o mundo em que estou agora.
Confiando nesta visão do espelho e agarrado à ela escrevo essas parcas linhas.
M.U.C.C.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Um presente!
Preciso escrever algo. Rápido. O mundo não espera, nada espera. Preciso rapidamente correr os dedos por este teclado já tão meu, tão eu, tão mim. Vejo as coisas mudando tanto, as surpresas, sempre elas, nos pegam primeiro do que poderíamos antever. Não consigo ver o mundo de outro modo.
Hoje saí para comprar um óculos novo e voltei com uma camisa. Num botequim conheci um velho bêbado que foi pianista de Nelson Gonçalves e estudou com Leminsky, e não era mentira! O nosso entorno nos muda, é inevitável. As coisas são sempre outras, sempre novas, sempre frescas. E Nenhuma idéia me parece tão absurda como as que querem prever, antecipar ou predeterminar. Eu me nego. O mundo é fresco e imprevisível. Isso é desesperador se pensarmos que não há certeza alguma diante de nossos olhos, por outro lado, a porta aberta da esperança é giratória rodopia e sempre se abre. Há sempre chance de mudar, de ser diferente, de ser outro. Fernando Pessoa dizia lindamente: nada é, tudo outra.
Lembro-me de Jorge Luis Borges que dizia, claramente se remetendo ao velho Heráclito:
Mirar el río de tiempo y agua
y recordar que el tiempo es otro río,
saber que nos perdemos como el río
y que los rostos pasan como el agua.
M.U.C.C.
Hoje saí para comprar um óculos novo e voltei com uma camisa. Num botequim conheci um velho bêbado que foi pianista de Nelson Gonçalves e estudou com Leminsky, e não era mentira! O nosso entorno nos muda, é inevitável. As coisas são sempre outras, sempre novas, sempre frescas. E Nenhuma idéia me parece tão absurda como as que querem prever, antecipar ou predeterminar. Eu me nego. O mundo é fresco e imprevisível. Isso é desesperador se pensarmos que não há certeza alguma diante de nossos olhos, por outro lado, a porta aberta da esperança é giratória rodopia e sempre se abre. Há sempre chance de mudar, de ser diferente, de ser outro. Fernando Pessoa dizia lindamente: nada é, tudo outra.
Lembro-me de Jorge Luis Borges que dizia, claramente se remetendo ao velho Heráclito:
Mirar el río de tiempo y agua
y recordar que el tiempo es otro río,
saber que nos perdemos como el río
y que los rostos pasan como el agua.
M.U.C.C.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
surpresa!
...observar com exatidão o que se cumpre em cada segundo é mais decisivo que saber de antemão o mais distante. Signos precursores, pressentimentos, sinais atravessam dia e noite nosso organismo como batidas de ondas. Interpretá-los e utilizá-los, eis a questão. [...] O dia jaz a cada manhã como uma camisa fresca sobre nossa cama; este tecido incomparavelmente fino, incomparavelmente denso, de limpa profecia, assenta-nos como uma luva. A felicidade das próximas vinte e quatro horas depende de que nós, ao acordar, saibamos como apanhá-lo. [Benjamim, Walter. madame ariadne, segundo pátio à esquerda - Rua de Mão Única]
Mesmo aquele que se esforça diciplinadamente para fazer-se saudável fica doente. Fica-se doente por fatores absolutamente explicáveis, mas pessoas expostas às mesmas condições, às mesmas bactérias podem reagir de modo diametralmente oposto. A surpresa é uma fatura que inadvertidamente entra pelo vão da porta e a Fortuna deusa intempestiva e geniosa. Um dia se está são, no outro já não mais. E uma vez doente jamais se poderá saber com certeza até quando se permanecerá neste estado. Espera-se sempre recobrar a saúde o mais brevemente, mas só quem já ficou doente sabe que no instante em que as forças se esvaem tudo é incerteza.
Tenho um olhar viciosamente voltado para o passado. É quase como um tique-nervoso para mim a reflexão retrospectiva. Irrita-me conquistar clareza sobre episódios que se foram, descobrir alternativa correta depois de já ter sido entregue o gabarito. Penso retrospectivamente. Culpa certamente de minhas muitas certezas, daquilo que me parece firme e sutentável, de muito tempo semeando preconceitos. Sim preconceitos, pré-julgamentos, tendências de uma mente treinada para tentar domar o tempo.
Nem sempre é possível reagir positivamente, as supresas, mesmo as boas, muitas vezes são inelutáveis. Mas há uma pequena fresta por onde se pode existir com razoável liberdade. Quero a astúcia de um repentista que se apraz em reconfigurar suas palavras caleidoscopicamente. Quero o timing dos grandes atletas que se rearranjam constantemente de acordo com os movimentos descritos por uma bola ou um golpe. Quero reconciliar-me como presente.
Diz a tradição, que o general romano Cipião ao desembarcar em território cartagenês, ao perceber-se em desequilíbrio e que a queda seria inevitável, abriu os braços e bradou: teneo te, terra africana! O que certamente teria representado sua ruína fez-se vitória.
Desejo ardentemente ser capaz de perceber o mundo ao meu redor como surpresa!
M.U.C.C.
Mesmo aquele que se esforça diciplinadamente para fazer-se saudável fica doente. Fica-se doente por fatores absolutamente explicáveis, mas pessoas expostas às mesmas condições, às mesmas bactérias podem reagir de modo diametralmente oposto. A surpresa é uma fatura que inadvertidamente entra pelo vão da porta e a Fortuna deusa intempestiva e geniosa. Um dia se está são, no outro já não mais. E uma vez doente jamais se poderá saber com certeza até quando se permanecerá neste estado. Espera-se sempre recobrar a saúde o mais brevemente, mas só quem já ficou doente sabe que no instante em que as forças se esvaem tudo é incerteza.
Tenho um olhar viciosamente voltado para o passado. É quase como um tique-nervoso para mim a reflexão retrospectiva. Irrita-me conquistar clareza sobre episódios que se foram, descobrir alternativa correta depois de já ter sido entregue o gabarito. Penso retrospectivamente. Culpa certamente de minhas muitas certezas, daquilo que me parece firme e sutentável, de muito tempo semeando preconceitos. Sim preconceitos, pré-julgamentos, tendências de uma mente treinada para tentar domar o tempo.
Nem sempre é possível reagir positivamente, as supresas, mesmo as boas, muitas vezes são inelutáveis. Mas há uma pequena fresta por onde se pode existir com razoável liberdade. Quero a astúcia de um repentista que se apraz em reconfigurar suas palavras caleidoscopicamente. Quero o timing dos grandes atletas que se rearranjam constantemente de acordo com os movimentos descritos por uma bola ou um golpe. Quero reconciliar-me como presente.
Diz a tradição, que o general romano Cipião ao desembarcar em território cartagenês, ao perceber-se em desequilíbrio e que a queda seria inevitável, abriu os braços e bradou: teneo te, terra africana! O que certamente teria representado sua ruína fez-se vitória.
Desejo ardentemente ser capaz de perceber o mundo ao meu redor como surpresa!
M.U.C.C.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Os malabaristas do sinal vermelho
Daqui de cima da laje
Se vê a cidade
Como quem vê por um vidro
O que escapa da mão
Uns exilados de um lado
Da realidade
Outros reféns sem resgate
Da própria tensão
Quando de noite as pupilas
Da pedra dilatam
Os anjos partem armados
Em bondes do mal
Penso naqueles que rezam
E nesses que matam
Deus e o diabo disputam
A terra do sal
Penso nos malabaristas
Do sinal vermelho
Que nos vidros fechados dos carros
Descobrem quem são
Uns, justiceiros, reclamam
O seu quinhão
Outros pagam com a vida
Sua porção
Todos são excluídos
Na grande cidade
Se vê a cidade
Como quem vê por um vidro
O que escapa da mão
Uns exilados de um lado
Da realidade
Outros reféns sem resgate
Da própria tensão
Quando de noite as pupilas
Da pedra dilatam
Os anjos partem armados
Em bondes do mal
Penso naqueles que rezam
E nesses que matam
Deus e o diabo disputam
A terra do sal
Penso nos malabaristas
Do sinal vermelho
Que nos vidros fechados dos carros
Descobrem quem são
Uns, justiceiros, reclamam
O seu quinhão
Outros pagam com a vida
Sua porção
Todos são excluídos
Na grande cidade
Não consigo pensar em nada mais lúcido para expressar o que estamos vendo acontecer no Rio que a frase “todos são excluídos na grande cidade”. Trata-se de uma tragédia anunciada e por tempos procrastinada, sem perspectivas muito concretas de fim. Achar que a ocupação pelas forças de repressão do estado resolverá o problema é ingenuidade, os malabaristas do sinal vermelho e os anjos armados andam perto demais uns dos outros. A violência e nossas debilidades sociais têm uma ligação inegável. Só se resolve um resolvendo ou ao menos atenuando o outro. Os vidros fechados dos carros, ora minimamente abertos, voltarão a se fechar? Penso nesses que rezam e nesses que matam pelos morros do Rio. Não sei se é possível abrir um largo sorriso ou quem sabe gargalhar enquanto cotidianamente cruzar com esses meninos e meninas que encontramos fortuitamente pelos sinais fechados e esquinas escuras. Não sei se é possível me orgulhar de uma nação, refiro-me ao povo e não ao estado, que faz de uma polícia como o BOPE uma espécie de Batman da vida real. Gostei de assistir os dois tropa de elite, me fizeram pensar, me deixaram falando sozinho enquanto os letreiros subiam. Mas fico horrorizado com as platéias do filme. AS pessoas são capazes de uma admiração quase fascista por uma polícia que joga o jogo do bandido, o prazer e as gargalhadas, atração pela manifestação da força física e os bordões repetidos exaustivamente nas mais diferentes circunstâncias são pavorosos. Também me horroriza ver como nas favelas existe uma louvação da criminalidade e da violência e penso que deste lado da moeda as escusas são tão injustificáveis como do outro. Falo isso por ter tido contado real com jovens assim, não me parecem menos errados do que as boçais platéias do cinema. Assisti tropa de elite com lágrimas nos olhos, pensava sinceramente no Brasil real. As lágrimas voltaram!
M.U.C.C.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
viagem
Em Campo Mourão pude ver o horizonte. Ele me pareceu mais curto do que o horizonte londrinense. Não sei qual a explicação geográfica....melhor não falar alto, geógrafos gostam de explicar tudo! O fato é que o horizonte em Campo Mourão era bem mais curto do que o daqui. O problema é que em Londrina não há mais horizonte, só prédios e problemas sempre tão altos. Gosto muito de olhar o horizonte, me conforta, me relaxa. Aqui em Londrina quando tenho a oportunidade de olhar o horizonte abuso da oportunidade. É delicioso olhar a terra encontrando o céu, eu por vezes prefiro bater um papo com o horizonte do que com outras pessoas. Mas minhas janelas não tem horizontes. Acho que sei porque eu gosto do horizonte, me sinto longe, o mais longe possível de mim mesmo.
M.U.C.C.
M.U.C.C.
só resta a palavra
Estou escrevendo à contra-gosto. Meu texto se voltou contra mim. Eu leio minhas frases, meus maneirismos, meus macetes em textos que não são meus. Ou são meus? não sei dizer mais. Ver no outro um pedaço de si é sempre bom, a menos que isto se volte contra si mesmo. Você quer machucar alguém, ataque-o com suas próprias armas. Vai doer como nunca. Meus textos são meus refúgios, eles não podem se voltar contra mim.Os meus textos não parecem meus e os que não são meus parecem me pertencer. Mas eu e eles estamos brigando. Leitores me desculpem, mas não estou escrevendo para vocês, estou escrevendo para meus textos e meus fragmentos de textos enxertados em outros. Voltem pra mim, concordem comigo, pelo menos vocês.
M.U.C.C.
M.U.C.C.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
chuva
Minha vó gosta muito de dias de chuva. Ao notar os primeiros indícios, uma nuvem que escurece, um ruído trovejante, ela abre um belo sorriso e recupera sensivelmente seu humor. Desde que percebi isto passei a observar como ela é uma pessoa interessada nos movimentos da natureza. É como se tentasse ler as pistas dadas pelo céu, pelos pássaros, pelo vento, tentando decifrar o criptograma dado matinalmente pela natureza. Ela nasceu em um Brasil ainda rural, onde as condições naturais eram mais evidentemente importantes para as pessoas. Naquele Brasil caipira chover era como ver o saldo da conta-corrente no azul, sinal de que a provisão estava em vias de se consumar. Chover era como pagar uma nota promissória, da qual nem sempre se tem fundos e o avalista é um ser intempestivo. Por isso, eu não acho inútil conversar sobre o tempo. Sabe aquele papo de taxista, de elevador, de salão de beleza, meninas, trata-se de um tema relevante que deve ser discutido e exercitado.
Eu também gosto de chuva, mas não como minha vó. Eu gosto de chuva por causa do cheiro, da temperatura, da mudança das cores, da umidade. É uma afinidade sensorial e estética. Não sou uma pessoa que gosta de refrões, prefiro as estrofes. Um dia de sol é tão obviamente mais belo, é tão louro, tão exuberante que eu acabo alimentando um apreço pela chuva. Parece-me como uma preparação, ninguém merece um sol no verão sem tomar umas chuvas por ai. É como torcer para o time mais fraco, eu não sei explicar, mas se me pego assistindo uma partida de qualquer coisa, quando dou por mim estou torcendo por aqueles que me parecem inferiores ou que estão em desvantagem no marcador. Eu gosto de chuva também porque me sinto um cara chuvoso, eu jamais seria aquele entardecer bronze em Copacabana, ou um dia de sol à pino em Porto de Galinhas. Eu sou um dia chuvoso e com alguns trovões de vez em quando. Quando vejo as gotas de chuva formarem um espécie de névoa ou quando forma-se uma densa neblina, sinto-me em casa. Pode ser calma, leve, rápida, intempestiva, persistente elas sempre me parecem familiares.
Droga! Parou de chover!
M.U.C.C.
Eu também gosto de chuva, mas não como minha vó. Eu gosto de chuva por causa do cheiro, da temperatura, da mudança das cores, da umidade. É uma afinidade sensorial e estética. Não sou uma pessoa que gosta de refrões, prefiro as estrofes. Um dia de sol é tão obviamente mais belo, é tão louro, tão exuberante que eu acabo alimentando um apreço pela chuva. Parece-me como uma preparação, ninguém merece um sol no verão sem tomar umas chuvas por ai. É como torcer para o time mais fraco, eu não sei explicar, mas se me pego assistindo uma partida de qualquer coisa, quando dou por mim estou torcendo por aqueles que me parecem inferiores ou que estão em desvantagem no marcador. Eu gosto de chuva também porque me sinto um cara chuvoso, eu jamais seria aquele entardecer bronze em Copacabana, ou um dia de sol à pino em Porto de Galinhas. Eu sou um dia chuvoso e com alguns trovões de vez em quando. Quando vejo as gotas de chuva formarem um espécie de névoa ou quando forma-se uma densa neblina, sinto-me em casa. Pode ser calma, leve, rápida, intempestiva, persistente elas sempre me parecem familiares.
Droga! Parou de chover!
M.U.C.C.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
O homem diante das ovelhas
"Observa o rebanho que pasta diante dos teus olhos: ele não sabe o que significa nem o ontem nem o hoje; ele pula, pasta, repousa, digere, pula novamente, e assim da manhã à noite, dia após dia, estritamente ligado a seu prazer e à sua dor, ao impulso do instante, não conhecendo por esta razão nem melancolia nem a tristeza. Este é um espetáculo duro para um homem, este mesmo homem que vê o animal do alto de sua humanidade, mas que inveja por outro lado a felicidade dele - pois este homem só deseja isto: viver como animal, sem tristeza e sem sofrimento; mas ele o deseja em vão, pois não pode desejar isto como o faz o animal." (Nietzsche)
Devo confessar que me identifico com este homem. Tenho mais que uma pontinha de inveja das ovelhas. A memória e toda a estrutura da consciência que dela emana são, quem sabe, o núcleo mais denso de mim mesmo, o mais verossímil elemento de uma suposta essência que me contém.
Pensar o meu tempo dói e pensar temporalmente a mim mesmo também.
Os finíssimos grãos de areia que escorregam rumo ao outro lado da ampulheta parecem atravessar uma estrutura capilar ainda mais fina de minha alma, fartamente conectada à infindáveis terminações nervosas. Nervos que trabalham como formigas para me fazer lembrar, me fazer lembrança.
Sinto o tempo, me sinto nele, me faço tempo. Vivo-me.
O fluxo temporal incessante nutre o homem que habita em mim.
M.U.C.C.
Devo confessar que me identifico com este homem. Tenho mais que uma pontinha de inveja das ovelhas. A memória e toda a estrutura da consciência que dela emana são, quem sabe, o núcleo mais denso de mim mesmo, o mais verossímil elemento de uma suposta essência que me contém.
Pensar o meu tempo dói e pensar temporalmente a mim mesmo também.
Os finíssimos grãos de areia que escorregam rumo ao outro lado da ampulheta parecem atravessar uma estrutura capilar ainda mais fina de minha alma, fartamente conectada à infindáveis terminações nervosas. Nervos que trabalham como formigas para me fazer lembrar, me fazer lembrança.
Sinto o tempo, me sinto nele, me faço tempo. Vivo-me.
O fluxo temporal incessante nutre o homem que habita em mim.
M.U.C.C.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
ego, ergo sum!
cólera no Haiti
os EUA vão mal
o Brasil....não se fala
as bombas do Irã
as colinas de golã
arrastão em Copa
...
Mas, meus dilemas são bem maiores!
M.U.C.C.
os EUA vão mal
o Brasil....não se fala
as bombas do Irã
as colinas de golã
arrastão em Copa
...
Mas, meus dilemas são bem maiores!
M.U.C.C.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Juro que queria muito ser um artista de verdade!
De tudo o que tenho pra dizer, não conheço melhor maneira que a arte! Se houvesse outra forma eu usaria, sinto-me livre e preso a ela!
pela arte foge-se da dura realidade, pela arte encontro-me com meu eu exclusivo. Pela arte sou eu mesmo e fujo de quem não mais quero ser!
queria uma vida onde pudesse viver os sonhos na mesma intensidade da vida real!
ou ainda viver mais os sonhos!
na arte se pode escolher que parte de si se quer ser e que parte não se quer mais!
o artista é um altista que se reconciliou esteticamente com o mundo
M.U.C.C.
pela arte foge-se da dura realidade, pela arte encontro-me com meu eu exclusivo. Pela arte sou eu mesmo e fujo de quem não mais quero ser!
queria uma vida onde pudesse viver os sonhos na mesma intensidade da vida real!
ou ainda viver mais os sonhos!
na arte se pode escolher que parte de si se quer ser e que parte não se quer mais!
o artista é um altista que se reconciliou esteticamente com o mundo
M.U.C.C.
descomplicar!
Alguns dias atrás escrevi sobre a dificuldade de ser leve, e continuo me sentindo enredado no mesmo problema.
Por que será que não podemos ser simples e leves? Por que criamos inúmeros mecanismos que complicam o que seria fácil e rápido?
existem coisas que não são simples, a estas dediquemos nossos esforços no sentido de lidar com suas complexidades.
Mas no que for possível tratar com precisão e simplicidade, prefiro que seja assim.
Só o que é preciso pensar quero pensar.
Quero ser simples e leve!
M.U.C.C.
Por que será que não podemos ser simples e leves? Por que criamos inúmeros mecanismos que complicam o que seria fácil e rápido?
existem coisas que não são simples, a estas dediquemos nossos esforços no sentido de lidar com suas complexidades.
Mas no que for possível tratar com precisão e simplicidade, prefiro que seja assim.
Só o que é preciso pensar quero pensar.
Quero ser simples e leve!
M.U.C.C.
cultura e natureza
fome e apetite
cru e cozido
sexo e amor
raiva e rancor
está condenada a cultura a obedecer à natureza e a natureza limitada pela cultura?
M.U.C.C.
cru e cozido
sexo e amor
raiva e rancor
está condenada a cultura a obedecer à natureza e a natureza limitada pela cultura?
M.U.C.C.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
A maior de todas as distâncias.
Vazo os olhos edipiante.
Não me absolvo, é minha a culpa.
Melhor é assim pensar, sem terceirizar.
Como foi que aqui cheguei?
Por quais vias me fiz agora?
Quer saber, não respondo essa pergunta.
Não há maior tortuosidade, não há caminho mais sinistro,
não há maior distância, do que o peito e a razão!
M.U.C.C.
Não me absolvo, é minha a culpa.
Melhor é assim pensar, sem terceirizar.
Como foi que aqui cheguei?
Por quais vias me fiz agora?
Quer saber, não respondo essa pergunta.
Não há maior tortuosidade, não há caminho mais sinistro,
não há maior distância, do que o peito e a razão!
M.U.C.C.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Exceção, resenha, crueldade, tudo, diferente....
palavras orbitam minha mente
rodam paranóicas
gravitam sob condições pretéritas
palavras lindas, palavras secas
verdadeiras ou não
relevantes talvez
bombas sonoras, torpedos gráficos
vagueam clandestinas renitentemente
insistem em espasmos nauseabundos
se pretendo me desfazer delas?
lançar fora em retrolavagem?
só se fosse louco, elas são minhas melhores amigas
M.U.C.C.
rodam paranóicas
gravitam sob condições pretéritas
palavras lindas, palavras secas
verdadeiras ou não
relevantes talvez
bombas sonoras, torpedos gráficos
vagueam clandestinas renitentemente
insistem em espasmos nauseabundos
se pretendo me desfazer delas?
lançar fora em retrolavagem?
só se fosse louco, elas são minhas melhores amigas
M.U.C.C.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
kelly key e a crueldade da beleza
Travestida pela banalidade a maldade se potencializa. De tudo o que é ruim, cruel, desumano, sua medida se avoluma a partir do momento que não é mais capaz de nos causar náuseas. Convivemos cotidianamente com atrocidades rasteiras, com mentiras hipócritas, com maus-tratos profundos, que simplesmente carregamos a tiracolo. Vez ou outra nos damos ao direitos de manuseá-los até.
Como artesãos de maldades somos criativos e eficientes, somos capazes de produzi-las a partir das mais diferentes fontes de matérias-primas, sob as mais adversas circunstâncias e nos mais inesperados momentos. Tem coisa ruim pra todo gosto e hora, não falta oferta desse bem tão abundante.
Mas há uma maldade que surpreende para além da média. Pela sutileza e refino no preparo, passa até por coisa boa e bem-vinda, quando se dá conta do engodo normalmente já é tarde. É a maldade que se faz da beleza ou a partir de coisas boas. Lembrei-me da banal Kelly Key e do seu inesquecível, infelizmente, "baba baby, baby baba"! Como há crueldade nesta frase, sinto-me como Tarantino analisando "Like a virgin", valer-se de seus, digamos, talentos para oprimir é um requinte de crueldade para além do ordinário.
Tenho visto pessoas que valem-se de seu reconhecimento como artistas para impor valores e idéias que pareceriam frágeis sem a autoridade de seu reconhecimento. Usam o encantamento causado em seus admiradores para lhes manipular, paradigma do baba baby! Poderia-se afirmar em defesa da senhora Key que agia em legitima defesa, sua crueldade era uma vingança, um acerto de contas. Mas ainda resta o imperativo da generosidade, a melhor forma de vingança não seria não responder na mesma moeda? Só se é livre do opressor quando não lhe devolvemos os maus-tratos.
A beleza é para o bem, o sublime para a liberdade.
M.U.C.C.
Como artesãos de maldades somos criativos e eficientes, somos capazes de produzi-las a partir das mais diferentes fontes de matérias-primas, sob as mais adversas circunstâncias e nos mais inesperados momentos. Tem coisa ruim pra todo gosto e hora, não falta oferta desse bem tão abundante.
Mas há uma maldade que surpreende para além da média. Pela sutileza e refino no preparo, passa até por coisa boa e bem-vinda, quando se dá conta do engodo normalmente já é tarde. É a maldade que se faz da beleza ou a partir de coisas boas. Lembrei-me da banal Kelly Key e do seu inesquecível, infelizmente, "baba baby, baby baba"! Como há crueldade nesta frase, sinto-me como Tarantino analisando "Like a virgin", valer-se de seus, digamos, talentos para oprimir é um requinte de crueldade para além do ordinário.
Tenho visto pessoas que valem-se de seu reconhecimento como artistas para impor valores e idéias que pareceriam frágeis sem a autoridade de seu reconhecimento. Usam o encantamento causado em seus admiradores para lhes manipular, paradigma do baba baby! Poderia-se afirmar em defesa da senhora Key que agia em legitima defesa, sua crueldade era uma vingança, um acerto de contas. Mas ainda resta o imperativo da generosidade, a melhor forma de vingança não seria não responder na mesma moeda? Só se é livre do opressor quando não lhe devolvemos os maus-tratos.
A beleza é para o bem, o sublime para a liberdade.
M.U.C.C.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
To live and let die!
Tudo que é belo, evidentemente belo, inelutavelmente belo, indiscutivelmente belo, desconcertantemente belo, me paralisa. Fico como que anestesiado, é único. Mas beleza não é coisa que se encontra em qualquer esquina, beleza é a desconstrução de todo o resto. Lembro-me de Michelangelo que dizia que para esculpir o seu Davi bastava retirar da pedra tudo o que não era Davi.
O que fazer diante da beleza? Render-se, percebê-la e desfrutar. Certo desde o princípio, entretanto, que ela rapidamente passará!
M.U.C.C.
O que fazer diante da beleza? Render-se, percebê-la e desfrutar. Certo desde o princípio, entretanto, que ela rapidamente passará!
M.U.C.C.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
leveza insustentável.
Escrevo na ilusão de ser capaz de sustentar o peso da minha cabeça. Ela pesa horrores. Não costumo usar este espaço para reclamar, mas é real. Não pesa por ser muito cheia, nem por ser dotada de grande quantidade de massa cinzenta, minha cabeça pesa porque é incapaz de ser leve.
Existem pessoas muito leves, são constituídas de uma matéria sensivelmente menos densa. Elas operam em outra frequência, suas cabeças giram em outra rotação. Não sou capaz de conhecer existencialmente essas pessoas para saber se são mais felizes, alegres, satisfeitas ou realizadas, mas parecem.
Quero levitar! Como não tenho conseguido, escrevo.
M.U.C.C.
Existem pessoas muito leves, são constituídas de uma matéria sensivelmente menos densa. Elas operam em outra frequência, suas cabeças giram em outra rotação. Não sou capaz de conhecer existencialmente essas pessoas para saber se são mais felizes, alegres, satisfeitas ou realizadas, mas parecem.
Quero levitar! Como não tenho conseguido, escrevo.
M.U.C.C.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Aceto Balsâmico!
Nunca gostei de vinagre. O troço me travava toda a boca descendo para a garganta, me lembrava o gosto das anestesias do dentista. Desgosto total era ter que encarar aquela salada nadando no vinagre, comer aquilo era um parto para mim. Um dia, sem perceber exatamente quando, passei a gostar de vinagre. Hoje adoro, ajuda a comer salada, uma redução de aceto balsâmico com um pouco de mel é coisa muito boa. como vinagre com prazer hoje em dia, quase bebo..brincadeira.
Lembrei agora dessa história e fiquei pensando que se me perguntassem a respeito de vinagre alguns minutos antes de mudar meu paladar, diria que não gostava, não suportava, detestava o tal tempero.
Não devemos nutrir verdades absolutas, prontas e acabadas sobre nós mesmos. É um convite a traição, diria à auto-traição. Quem sou eu? pergunta boba! idéia besta! Talvez seja mais plausível tentar responder, quem eu tenho sido ultimamente.
Se gosto de vinagre? tenho gostado sabe.
M.U.C.C.
Lembrei agora dessa história e fiquei pensando que se me perguntassem a respeito de vinagre alguns minutos antes de mudar meu paladar, diria que não gostava, não suportava, detestava o tal tempero.
Não devemos nutrir verdades absolutas, prontas e acabadas sobre nós mesmos. É um convite a traição, diria à auto-traição. Quem sou eu? pergunta boba! idéia besta! Talvez seja mais plausível tentar responder, quem eu tenho sido ultimamente.
Se gosto de vinagre? tenho gostado sabe.
M.U.C.C.
domingo, 31 de outubro de 2010
alegria singela.
um verdadeiro amigo
carinho dos filhos
comida da mãe
corrida e i-pod
insight legal
amar bem juntinho
água pra sede
manhã de domingo
M.U.C.C.
carinho dos filhos
comida da mãe
corrida e i-pod
insight legal
amar bem juntinho
água pra sede
manhã de domingo
M.U.C.C.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
fim das eleições!
Tenho ouvido pelas redes sociais à fora várias manifestações de exaustão em relação a essas eleições. Pessoas que não querem mais ouvir falar em política ou em qualquer assunto que indiretamente se relacione com o tema.
Creio que o que devemos fazer é exatamente o contrário. Temos que fugir da sazionalidade temática, tão comum entre nós no Brasil e nos meios de imprensa. Isto é, política é um tema de sempre, deve ser pauta constante, não unicamente em período eleitoral.
A eleição inclusive atrapalha o desenvolvimento de debates políticos honestos. O que se viu neste segundo turno deixa isso bem claro. Os candidatos apresentaram elevados graus de esquizofrenia ideológica, psicoses das mais variadas espécies. Isto tudo torna o ambiente muito desfavorável para debates políticos Produtivos. Aborto, casamento gay, liberdade de imprensa são polêmicas que envolvem e mobilizam questões de fundo que não devem ser discutidas como se fossem problemas partidários.
Os eleitores também se deixam levar pelas paixões e suprimem temporariamente, espero, suas faculdades intelectuais. Vimos artistas, pensadores, escritores descendo do salto, rodando as tamancas e batendo bumbo em nome de pretensas verdades, certezas "absolutas" e "fatos" inquestionáveis. A lucidez tirou férias ao que parece entre os meios intelectuais brasileiros, os ódios se acirraram além do esperado.
Espero ansiosamente o debate desta noite, não para ver a exposição de idéias, isto não vai acontecer, mas para ver chegar ao fim uma campanha eleitoral grotesca, mais grotesca que o normal. Espero pelo Brasil de Dilma ou de Serra, não por esperança, mas por tédio!
M.U.C.C.
Creio que o que devemos fazer é exatamente o contrário. Temos que fugir da sazionalidade temática, tão comum entre nós no Brasil e nos meios de imprensa. Isto é, política é um tema de sempre, deve ser pauta constante, não unicamente em período eleitoral.
A eleição inclusive atrapalha o desenvolvimento de debates políticos honestos. O que se viu neste segundo turno deixa isso bem claro. Os candidatos apresentaram elevados graus de esquizofrenia ideológica, psicoses das mais variadas espécies. Isto tudo torna o ambiente muito desfavorável para debates políticos Produtivos. Aborto, casamento gay, liberdade de imprensa são polêmicas que envolvem e mobilizam questões de fundo que não devem ser discutidas como se fossem problemas partidários.
Os eleitores também se deixam levar pelas paixões e suprimem temporariamente, espero, suas faculdades intelectuais. Vimos artistas, pensadores, escritores descendo do salto, rodando as tamancas e batendo bumbo em nome de pretensas verdades, certezas "absolutas" e "fatos" inquestionáveis. A lucidez tirou férias ao que parece entre os meios intelectuais brasileiros, os ódios se acirraram além do esperado.
Espero ansiosamente o debate desta noite, não para ver a exposição de idéias, isto não vai acontecer, mas para ver chegar ao fim uma campanha eleitoral grotesca, mais grotesca que o normal. Espero pelo Brasil de Dilma ou de Serra, não por esperança, mas por tédio!
M.U.C.C.
sábado, 2 de outubro de 2010
Carta aos advogados
Aqui no Brasil a advocacia é uma das profissões de maior reconhecimento e prestígio social. Também pudera, desde os tempos coloniais, quando ainda não havia universidades no Brasil, os filhos das melhores famílias buscavam nas faculdades de direito do velho mundo formação intelectual que lhes distinguisse dos pés-rapados tupiniquins. Filhos de gente tão bem estabelecida em suas conquistas financeiras, é razoável pensar que os jovens estudantes vissem na advocacia mais uma oportunidade de livrar-se do cheiro de esterco de suas botas do que um chamado vocacional verdadeiro. Os pais mandavam os filhos para seus exílios voluntários não por convicções ético-morais, mas para ostentar sua superioridade cultural. Desde muito cedo em nossa História aprendemos a chamar os advogados de doutores, admiramos seus cabelos engomados e batemos palma para seus termos latinos e seus maneirismos lingüísticos. Presenteamos-lhes com as melhores cadeiras do senado, com muitos mandatos presidenciais, com muito espaço nas mídias e tantas outras regalias e honrarias. A advocacia parecia, e ainda parece, representar na cabeça da maioria dos brasileiros um sinal de progresso civilizatório. É como se ao receber o diploma, o jovem bacharel se tornasse um pouco menos brasileiro, um pouco menos rude, bárbaro, incivilizado.
É triste perceber no entanto, como o implacável passar dos séculos só fez agravar a situação que já não se apresentava exitosa. Hoje o prestígio profissional atribuído socialmente permanece grande, as famílias permanecem orgulhosas de seus bacharéis e os profissionais da área cada vez mais ciosos de seu importante papel para o adequado funcionamento do estado de direito. As incontáveis faculdades de direito distribuem com indispensável pompa diplomas que atestam indiscutível proeficiência dos brilhantes advogados serialmente produzidos por aqui.
Porém, o Direito é matéria complexa. Visto que tem de consumar na aplicação particular da regra geral o próprio princípio instituinte do Estado de Direito. O advogado, o jurista, o juíz, o jurisconsulto têm de visitar as celas mais recônditas dos pactos sociais, têm de caminhar sobre as fronteiras dos contratos constituídos e submeter ao mais alto nível crítico a materialidade textual das normas. E ainda fazer isto amparado em conceitos abstratos e subjetivos, para não dizer relativos, como justiça, equidade, proporcionalidade e isonomia.
Deve ser desesperador para um jovem sedento por sucesso descobrir tardiamente a utilidade das intermináveis aulas de Filosofia, Sociologia, História e, em alguns casos, Gramática. O que fazer diante disso?
Muitos se entregam ao pragmatismo profissional, ao exercício de uma prática forense rasteira, cheia de vícios, pequenas malícias e oportunismos. Muitos fazendo isso encontram um relativo sucesso. Mas condenam o ambiente dos tribunais à uma atmosfera tóxica que exala a podridão do gênero humano. Muitas universidades e muitos professores não percebem o cesto cheio de víboras que alimentam. Mas há saída. Aos que foi concedido o dom de pensar devem exercer sua atividade orientados pelos mais nobres valores ético-morais, não devem tomar a maioria como modelo e exercer dignamente seu pape social. Aos menos privilegiados, cabe o conselho do grande Paulo Vanzolini: "reconhece a queda, levanta, sacode a poeira e da volta por cima"! Afinal, vestibular tem todo ano!
M.U.C.C.
É triste perceber no entanto, como o implacável passar dos séculos só fez agravar a situação que já não se apresentava exitosa. Hoje o prestígio profissional atribuído socialmente permanece grande, as famílias permanecem orgulhosas de seus bacharéis e os profissionais da área cada vez mais ciosos de seu importante papel para o adequado funcionamento do estado de direito. As incontáveis faculdades de direito distribuem com indispensável pompa diplomas que atestam indiscutível proeficiência dos brilhantes advogados serialmente produzidos por aqui.
Porém, o Direito é matéria complexa. Visto que tem de consumar na aplicação particular da regra geral o próprio princípio instituinte do Estado de Direito. O advogado, o jurista, o juíz, o jurisconsulto têm de visitar as celas mais recônditas dos pactos sociais, têm de caminhar sobre as fronteiras dos contratos constituídos e submeter ao mais alto nível crítico a materialidade textual das normas. E ainda fazer isto amparado em conceitos abstratos e subjetivos, para não dizer relativos, como justiça, equidade, proporcionalidade e isonomia.
Deve ser desesperador para um jovem sedento por sucesso descobrir tardiamente a utilidade das intermináveis aulas de Filosofia, Sociologia, História e, em alguns casos, Gramática. O que fazer diante disso?
Muitos se entregam ao pragmatismo profissional, ao exercício de uma prática forense rasteira, cheia de vícios, pequenas malícias e oportunismos. Muitos fazendo isso encontram um relativo sucesso. Mas condenam o ambiente dos tribunais à uma atmosfera tóxica que exala a podridão do gênero humano. Muitas universidades e muitos professores não percebem o cesto cheio de víboras que alimentam. Mas há saída. Aos que foi concedido o dom de pensar devem exercer sua atividade orientados pelos mais nobres valores ético-morais, não devem tomar a maioria como modelo e exercer dignamente seu pape social. Aos menos privilegiados, cabe o conselho do grande Paulo Vanzolini: "reconhece a queda, levanta, sacode a poeira e da volta por cima"! Afinal, vestibular tem todo ano!
M.U.C.C.
domingo, 19 de setembro de 2010
O melhor do mundo II
Vivemos em uma sociedade que gosta de enganar e ser enganada. Se assim não fosse, os mágicos, ilusionistas, publicitários, advogados e tantas outras categorias estariam desempregadas. Existe uma adorável alegria em pregar uma peça em alguém e assistir a vítima afundar-se na ilusão sem perceber o engodo. Ficamos sempre impressionados com as ilusões de ótica, agora tão em evidência com o 3D, que sabemos serem falsas. Porém, esta sedução pelo engano se espraia perigosamente em outros campos.
O campo político é sem dúvida vítima deste gosto pela engambelação, mas esta é uma constatação tão óbvia que não lhe dedicarei nem mais uma palavra. Existe cada vez mais a enganação artística, gente que quer fazer arte sem saber do que se trata ou gente que quer ganhar dinheiro se aproveitando da pobreza espiritual dos outros. Mas este é um tema vasto demais, deixemos para um próximo post.
A pior enganação é a intelectual. Durante esta semana tive de passar algumas horas diante de verdadeiros ilusionistas do pensamento, uns tinham mais recursos outros não. Dentro da arte de tentar enganar existem os mister "m" 's e os mágicos de circo mambembe, mas a empulhação de ambos é deplorável. Uns apelam para a potência das cordas vocais ou dos sistemas de som, outros recorrem à citação de autores que pareçam exóticos ao público médio, mas o conteúdo de suas falas é igualmente pífio.
Os mandraques retóricos são cada vez mais numerosos, provavelmente pelos bem sucedidos casos desta categoria. Quantos enganadores intelectuais estão ganhando polpudos cachês por proferirem palestras imbecis ou por escreverem livros inócuos. Não é difícil encontrar um exemplar desses asquerosos sofistas dando entrevistas vazias à repórteres de cera em canais de TV. E o pior é que eles fazem a cabeça de muitos. Há uma multidão incontável de devoradores de pastéis de vento. Gritando aleluia e aplaudindo, balançando a cabeça e pagando de cult, o quadro só não é cômico porque é trágico.
Quem verdadeiramente tem algo a dizer não tem estômago para ficar fazendo publicidade pessoal. Se você quer escutar algo que preste fuja dos grandes, dos renomados, das gravatas reluzentes, dos cabelos engomados. Fuja também dos que não têm gravatas reluzentes, mas gostariam. Não tem o nome em letreiros de neon, mas sonham ter. Neste caso, o ego é corrosivo ao intelecto.
Os artístas, pensadores e jornalistas que admiro são despojados de qualquer construção publicitária de suas imagens. Assisti o Juca Kfouri dar uma palestra fantástica em Londrina e ele chegou andando pelo meio da platéia como qualquer um, roupas amassadas, óculos preso ao pescoço e idéias legais, experiências pessoais riquíssimas, valeu a pena vê-lo. Conheça pregadores como Ariovaldo Ramos, Kivitz, Caio Fábio e você verá que: "imagem não é nada, sede é tudo, obedeça sua sede" não beba sprite, beba água.
Na sociedade doentia de nossos dias, desconfie de toda forma de sucesso! Corro atrás de pessoas como o jovem arqueiro chinês do post passado, não estão em busca de serem reconhecidos, estão em busca de serem os melhores do mundo!
M.U.C.C.
M.U.C.C.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
O melhor do mundo
Em uma quase esquecida aldeia do interior profundo da China havia um jovem arqueiro que sonhava em ser o melhor do mundo. Seu talento impressionava, era rápido e frio, intuitivamente calculava centenas de variáveis simultaneamente, os ventos e suas mudanças, as flechas e suas sutis diferenças, a gravidade, a velocidade...
Dizem que ele cruzou sua terra, passou pelos mais ínfimos vilarejos, contornou cordilheiras, redescobriu trilhas fechadas pelo tempo, abateu bestas sorrateiras e livrou-se de feiticeiros sagazes para encontrar-se com um velho mestre cuja reputação era a de ser o mais douto arqueiro entre os viventes.
O mestre de fala mansa, mas imponente, mostrou-se pouco amistoso e só aceitou treinar o jovem ao ver seu incomum talento e estilo. Foram anos de infindáveis repetições de exercícios, os limites foram cotidianamente ultrapassados, o estado de exaustão foi o companheiro mais presente do jovem arqueiro, que não abriu sua boca ou exprimiu qualquer movimento que representasse relutância ou insubordinação às ordens do velho mestre.
Numa fria manhã, o mestre dispensou o aprendiz dizendo-lhe que estava pronto. Presenteou-lhe com um inédito abraço, ainda que discreto, sorriu levemente e deu-lhe as costas. O jovem conformado pegou se arco e suas flechas e partia quando sentiu um frio cortando-lhe a espinha e um leve deslocamento de vento em sua direção. Rapidamente sacou uma flecha, posicionou-a no arco e, sem ter tempo de fazer mira, lançou-a na direção do mestre. As duas flechas se encontraram perfeitamente, partiram-se mutuamente e repousaram na relva ainda úmida. O mestre agora ria largamente...
Refazendo o caminho de volta o jovem chegou novamente em sua terra. Porém, antes que pudesse encontrar alguém que lhe perguntasse sobre seu treinamento e lhe pedisse demonstração, o jovem atirou suas flechas para o alto e depois quebrou o arco em várias partes. Para todos os efeitos ele nunca esteve com o mestre e nunca, mas nunca mais mesmo voltou a segurar em uma flecha.
posso parar por aqui?
M.U.C.C.
Dizem que ele cruzou sua terra, passou pelos mais ínfimos vilarejos, contornou cordilheiras, redescobriu trilhas fechadas pelo tempo, abateu bestas sorrateiras e livrou-se de feiticeiros sagazes para encontrar-se com um velho mestre cuja reputação era a de ser o mais douto arqueiro entre os viventes.
O mestre de fala mansa, mas imponente, mostrou-se pouco amistoso e só aceitou treinar o jovem ao ver seu incomum talento e estilo. Foram anos de infindáveis repetições de exercícios, os limites foram cotidianamente ultrapassados, o estado de exaustão foi o companheiro mais presente do jovem arqueiro, que não abriu sua boca ou exprimiu qualquer movimento que representasse relutância ou insubordinação às ordens do velho mestre.
Numa fria manhã, o mestre dispensou o aprendiz dizendo-lhe que estava pronto. Presenteou-lhe com um inédito abraço, ainda que discreto, sorriu levemente e deu-lhe as costas. O jovem conformado pegou se arco e suas flechas e partia quando sentiu um frio cortando-lhe a espinha e um leve deslocamento de vento em sua direção. Rapidamente sacou uma flecha, posicionou-a no arco e, sem ter tempo de fazer mira, lançou-a na direção do mestre. As duas flechas se encontraram perfeitamente, partiram-se mutuamente e repousaram na relva ainda úmida. O mestre agora ria largamente...
Refazendo o caminho de volta o jovem chegou novamente em sua terra. Porém, antes que pudesse encontrar alguém que lhe perguntasse sobre seu treinamento e lhe pedisse demonstração, o jovem atirou suas flechas para o alto e depois quebrou o arco em várias partes. Para todos os efeitos ele nunca esteve com o mestre e nunca, mas nunca mais mesmo voltou a segurar em uma flecha.
posso parar por aqui?
M.U.C.C.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
metáfora das eleições
A maneira como esquerda de tradição marxista vê o capitalismo é semelhante à de um médico diante do vício de fumar, é um mal letal, cruel e inexorável. Diante disso, podemos dizer que o Plínio de Arruda representa o médico que ordena o fim imediato do consumo de cigarros. A Dilma é aquela que estabelece um cronograma para a redução do número de cigarros por dia até o fim total. A Marina aderiu à ideia da redução de danos, ou seja, "se não vai parar mesmo, que fume um light" (ou talvez seja um "paieiro"). E o Serra é aquele que diz... "ah, todo mundo morre um dia!"
M.U.C.C.
M.U.C.C.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Uma volta no Lago.
Faz algum tempo que fiz das margens do Lago II meu espaço de exercícios, senão diários, habituais. Você pode estar pensando: você e a torcida do Corinthians. Mas eu discordo desse pensamento. Em cada nova caminhada fica mais claro para mim que a maioria das pessoas não vai caminhar, correr, mas vão se fazer visíveis. Parece com as praças das cidades do interior, só que sob o verniz da fit-life. Nas cidades menores as pessoas parecem estar menos acostumadas a mentir, vão para praça e se apresentam, se manifestam interessadas. Homens andam em um sentido e as mulheres no outro, sem dúvida facilita o flerte, fica a dica para o prefeito e para a câmara quem sabe um projeto de lei pode nascer daí. Aqui não é assim, faz-se cara de sério, mau, distante, tem que suar, ou pelo menos quase. Se aparentemente o mercado dos desejos por aqui parece mais reprimido, a linguagem corporal desmente a tese. Os corpos estão todos premeditadamente à amostra, premeditadamente favorecido por esta ou aquela fibra elástica sinteticamente desenvolvida. Pessoas saltitam, esticam-se, sofrem em muitos casos vendendo-se. Os corpos pulsantes do lago são obras de publicidade. Cabe a pergunta: o que não é obra de publicidade nos dias atuais? Chegará o dia em que compraremos anúncios?
Em tempos quentes o mercado de carne anda cheio, por isso tenho andado pelo caminho de dentro (feito de pedriscos) para desespero do meu tênis.
Você, meu improvável leitor, pode estar se perguntando o porquê deste meu texto. Moralismo? Rancor? Ressentimento? Mau humor? O que me inquieta diante deste fenômeno não é fato das pessoas estarem ali lançando suas redes pra ver se o mar tá pra peixe, vendendo o almoço pra comprar a ceia, mas a falta de consciência com que o fazem. Aposto que boa parte dos transeuntes do lago II acreditam que estão ali por ser saudável. É fato que também estão ali por isto, mas por que não andam no decadente zerão, no artur tomas, no cabrinha (talvez fique longe para alguns)?
Há uma necessidade crescente em nós de sermos percebidos, isso vale para as caminhadas, mas vale para nós twitteiros, blogueiros, facebookers, orkuteiros. Ninguém quer cair no esquecimento, nem o Beto Barbosa recém ressurreto na campanha da Skol, todos queremos ser relevantes. A pergunta é o que em nós chama a atenção dos outros? Se queremos abrir nossas intimidades para atrair atenção, qual parte de nós deve ser mostrada?
M.U.C.C.
Em tempos quentes o mercado de carne anda cheio, por isso tenho andado pelo caminho de dentro (feito de pedriscos) para desespero do meu tênis.
Você, meu improvável leitor, pode estar se perguntando o porquê deste meu texto. Moralismo? Rancor? Ressentimento? Mau humor? O que me inquieta diante deste fenômeno não é fato das pessoas estarem ali lançando suas redes pra ver se o mar tá pra peixe, vendendo o almoço pra comprar a ceia, mas a falta de consciência com que o fazem. Aposto que boa parte dos transeuntes do lago II acreditam que estão ali por ser saudável. É fato que também estão ali por isto, mas por que não andam no decadente zerão, no artur tomas, no cabrinha (talvez fique longe para alguns)?
Há uma necessidade crescente em nós de sermos percebidos, isso vale para as caminhadas, mas vale para nós twitteiros, blogueiros, facebookers, orkuteiros. Ninguém quer cair no esquecimento, nem o Beto Barbosa recém ressurreto na campanha da Skol, todos queremos ser relevantes. A pergunta é o que em nós chama a atenção dos outros? Se queremos abrir nossas intimidades para atrair atenção, qual parte de nós deve ser mostrada?
M.U.C.C.
domingo, 5 de setembro de 2010
O contemporâneo cristianismo pop-sufi
Existe um ramo do islamismo que é conhecida como sufismo. Considerados pela maioria dos muçulmanos como heréticos, são perseguidos em muitos países do mundo árabe e resistem a esta situação à séculos. Os sufis são marcados por sua estreita relação com a música e a dança. Dentro dos rituais sufis os religiosos são envolvidos em um ambiente musical peculiar, há uma redundância de sonoridades, um pulso rítmico afirmado constantemente e cantos repetidos inúmeras vezes. Os participantes do ritual dançam de uma maneira bastante característica também, abrindo os braços até a altura do ombro e inclinando levemente a cabeça giram sobre o próprio eixo constantemente fazendo suas sais elevarem-se formando grandes círculos.
Video: Música sufi en Turquía - WebIslam.comA origem do termo "sufi" é discutível, mas a maioria dos estudiosos concordam que ele signifique "santo". Muitos sufis praticam uma religiosidade monástica, isolam-se acreditando que assim estão livres da pecaminosidade da vida cotidiana. O próprio exercício dos rituais sufis têm essa caraterística, ao dançar o sufi se aliena do mundo ao seu redor em busca de uma experiência mística que o leva, segundo crêem, ao encontro de Deus. Os sufis entendem que a única maneira de se relacionar com Ala é através do extase alcançado a partir da dança. Os giros, a música, as repetições, levam-os à experiência do divino.
É bastante interessante percebermos como há uma espécie de sufismo se abatendo dentro do mercado musical evangélico já a algum tempo.
M.U.C.C.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
As curvas do violão brasileiro: brevíssima genealogia do violão brasileiro.
O Brasil parece para um observador mais rabugento um país torto. Um retrato sem foco ou um quadro que ameaça cair da parede e só permanece preso por uma das extremidades. Como já afirmou um intelectual certa vez, um país onde as idéias parecem sempre fora de lugar. Fomos o país da independência feita para manter os vínculos com a família real portuguesa, o país do parlamentarismo às avessas, dos liberais que agiam como conservadores e dos conservadores que agiam como liberais, o país da república oligárquica. Somos o país da esquerda que quer parecer direita e da direita que quer parecer esquerda, não sabemos se somos o país mais pobre entre os ricos ou o mais rico entre os pobres. Somos o país do carnaval, autoproclamada maior festa popular do mundo, da nudez e do turismo sexual, mas também somos um país onde país e filhos dificilmente tocam neste assunto sem que um deles deixe transparecer sua vergonha no rubor das faces.
Mais olhando com mais doçura e simpatia poderíamos também dizer que somos um país da curva. Não me refiro unicamente às curvas do corcovado, das formas de Niemayer, das obras de aleijadinho, das mulatas de Di e até das calçadas de Copacabana, para completar o clichê. Penso em uma curva que não termina, que não deixa revelar seu fim, que gera em nós um leve desconforto centrífugo, que não nos traz seguranças, mas não nos mata a esperança totalmente. Ela, a esperança, permanece dormindo sono inquieto, ora ronca longamente, ora ressona suavemente, por vezes parece sorrir provavelmente sonhando e de vez em quando resmunga.
M.U.C.C.
Choro N° 1 (Heitor Villa-Lobos) - Turibio Santos
Villa-Lobos deu a luz a um violão com auto-estima e orgulho próprio. Nos aceitamos brasileiros e violeiros.
M.U.C.C.
M.U.C.C.
Baden Powell - "Samba da Benção" - Programa Ensaio
Baden tem qualquer coisa divino, é um João Gilberto Banto.
M.U.C.C.
M.U.C.C.
Toquinho improvisando
toquinho toca um violão "boa gente", sempre de melodias doces e claras. Foi autor de canções que estão arquivadas na cabeça de quase todos os brasileiros.
M.U.C.C.
M.U.C.C.
Moraes Moreira - Brasil Pandeiro ( A História dos Novos Baianos e Outros...
outro que merece seu quinhão nesta genealogia é moraes moreira e pepeu gomes (bem representado neste vídeo pelo filho de moreira Davi Moraes), fizeram uma música antropofagicamente brasileira.
M.U.C.C.
M.U.C.C.
Sergio and Odair Assad - Andante/Allegro from "Tango Suite"
Badi teve a quem puxar, seus irmãos Sérgio e Odair fazem do violão um garanhão puro-sangue absolutamente domado que marcha elegantemente e é capaz dos mais belos saltos.
M.U.C.C.
M.U.C.C.
Ai Que Saudade D'ocê - (Impossible vocal)!
e tem gente no Brasil que não sabe quem é Badi Assad!
Badi é violão brasileiro tipo exportação, musica brasileira multinacional!
M.U.C.C.
M.U.C.C.
domingo, 8 de agosto de 2010
Domingo
Tenho muita saudade dos meus anos de estudante.
Tenho saudade porque levava a vida como o time do Santos, os ditos meninos da vila, minha vida era "futebol moleque".
Naquele tempo, não faz tanto tempo assim vai, eu não contava piadas, eu vivia piadas. Raramente falava sério, raramente levava algo a sério e raramente me levava a sério. Por isso ia mal no colégio? Na faculdade? Não. A vida só era menos densa, parecia mais fácil levitar. As músicas, como as piadas, pareciam sair de dentro de mim.
Eu era matéria tão volátil que ao cantarolar uma música dos Beatles virava temporariamente astro inglês do Rock'n Roll. Já fui tropicalista, fundei o clube da esquina, organizei Woodstock, resisti à ditadura, enganei a censura, fui exilado em seatle onde virei grunge, pero no mucho. Toquei guitarras e mais guitarras imaginárias e fiz muito sucesso.
Também fui intelectual renomado, livros traduzidos, conceitos repetidos pela boca de inúmeras jovens universitárias lindas, que não sabiam do que estavam falando, evidentemente. Dei muitos depoimentos em programas de televisão, assumi cargos importantes e refugiei-me em uma pequena chácara recôndita.Vi meu time campeão mundial dezenas de vezes, fui perseguido pela imprensa, odiava os paparazzi.
Há um momento em que a Imaginação se quebra, de um lado fica a imagem e do outro a ação. Hoje sou cada vez coisas demais para poder sonhar ser outras. De um lado ficaram as imagens, as projeções, idealizações, do outro a ação, a vida, a prática, a realidade. Não é que a imaginação acabou, ela só não me convence com a mesma frequência.
Bom ou ruim? Não se trata disso. Só toquei nesse assunto porque hoje é domingo, esse dia me faz ficar nostáugico.
M.U.C.C.
Tenho saudade porque levava a vida como o time do Santos, os ditos meninos da vila, minha vida era "futebol moleque".
Naquele tempo, não faz tanto tempo assim vai, eu não contava piadas, eu vivia piadas. Raramente falava sério, raramente levava algo a sério e raramente me levava a sério. Por isso ia mal no colégio? Na faculdade? Não. A vida só era menos densa, parecia mais fácil levitar. As músicas, como as piadas, pareciam sair de dentro de mim.
Eu era matéria tão volátil que ao cantarolar uma música dos Beatles virava temporariamente astro inglês do Rock'n Roll. Já fui tropicalista, fundei o clube da esquina, organizei Woodstock, resisti à ditadura, enganei a censura, fui exilado em seatle onde virei grunge, pero no mucho. Toquei guitarras e mais guitarras imaginárias e fiz muito sucesso.
Também fui intelectual renomado, livros traduzidos, conceitos repetidos pela boca de inúmeras jovens universitárias lindas, que não sabiam do que estavam falando, evidentemente. Dei muitos depoimentos em programas de televisão, assumi cargos importantes e refugiei-me em uma pequena chácara recôndita.Vi meu time campeão mundial dezenas de vezes, fui perseguido pela imprensa, odiava os paparazzi.
Há um momento em que a Imaginação se quebra, de um lado fica a imagem e do outro a ação. Hoje sou cada vez coisas demais para poder sonhar ser outras. De um lado ficaram as imagens, as projeções, idealizações, do outro a ação, a vida, a prática, a realidade. Não é que a imaginação acabou, ela só não me convence com a mesma frequência.
Bom ou ruim? Não se trata disso. Só toquei nesse assunto porque hoje é domingo, esse dia me faz ficar nostáugico.
M.U.C.C.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Nunca se entra duas vezes no mesmo RIO!
Heráclito de Éfeso dizia que a única constância presente nas coisas é a inconstância. Tudo muda o tempo todo, só não muda o mudar. Dizia também que a mudança tem origem na polemos, ou seja no conflito, na guerra. São os opostos criados pela guerra que levam as coisas a mudar. O elemento que representaria melhor essa idéia era o fogo segundo Heráclito. Fui ao Rio de Janeiro e me lembrei de Heráclito.
Interessante é que se atribui a Heráclito a frase: "Não se entra duas vezes no mesmo rio". Esta seria uma metáfora explicativa da teoria de Heráclito. Se tudo está mudando o tempo todo, então o rio seria uma boa figura pois ele é uma corrente, um fluir constante. Mas talvez o rio a que se referia Heráclito não fosse o aquele fenômeno hidrográfico (potamos), mas o Rio de Janeiro.
Garanto que a metáfora tornar-se-ia ainda mais rica. Pois se o que gera a mundança de Heráclito é o conflito, este é muito mais abundante no Rio que nos rios em geral. O Rio de Janeiro "vem-a-ser" o que "vem-a-ser" pela gritante oposição dos contratos. Por favor, não reduzam o que estou falando a luta de classes!!!!!! As oposições são muitas e muito além daquela que existe entre a zona sul e a zona norte.
Há um Rio que encanta e um Rio que espanta, um das fadas outro das bruxas, se um abençoa o outro joga praga, um hipnotiza o outro paraliza.
Vi um Rio idílico e edênico no Jardim Botânico. As árvores se contorciam pareciando posar para fotos que não podia tirar, não levei máquina e meu celular malemá manda mensagem. As palmeiras-imperiais perfilavam-se em continência para que eu, tomado de constrangimento no meio delas, passasse como que recebendo uma homenagem. As orquídeas, as bromélias, as costas do Cristo lá no alto... Ele apesar de estar de costas passeia exibido no meio de tanta exuberância. Mas é só dar um passo para fora do jardim que a selva de pedras e asfalto volta a imperar insana de tantos carros, ônibus e uma miríade de outras coisas. A cidade volta a se tornar cronicamente inviável, incaptável, inexprimível. Seus Baudelaires, Benjamins e outros reportadores calam-se.
Há um Rio onde tudo parece novela, cheguei a olhar para os lados para flagrar alguma falha do cenário. Cheguei a esperar pela vinheta que anuncia o intervalo, achei que iria encontrar com alguma Helena de Manuel Carlos. As pessoas tem voz de artista, as senhoras negras vestidas de branco balançam contentes os filhos louros do leblon em belos parques. Mas há também o Rio em que os sotaques vão mudando o charme e o glamour dão lugar a crueza e ao pragmatismo cotidiano e sem frescura. Há garotas de Ipanema, mas há também as pobres garotas (de programa) de Copacabana.
Poderia me alongar em muitas outras imagens e impressões, poderia repetir a fórmula dos últimos dois parágrafos por mais vinte ou trinta, mas basta. Voltemos ao velho Heráclito. O que dizer do Rio? Não se entra nele duas vezes. Não é um, não tem identidade, não se repetirá. Por isso mesmo voltarei logo que puder, não a este (que já nem é mais), mas a um outro próximo, quem sabe!?
M.U.C.C.
Interessante é que se atribui a Heráclito a frase: "Não se entra duas vezes no mesmo rio". Esta seria uma metáfora explicativa da teoria de Heráclito. Se tudo está mudando o tempo todo, então o rio seria uma boa figura pois ele é uma corrente, um fluir constante. Mas talvez o rio a que se referia Heráclito não fosse o aquele fenômeno hidrográfico (potamos), mas o Rio de Janeiro.
Garanto que a metáfora tornar-se-ia ainda mais rica. Pois se o que gera a mundança de Heráclito é o conflito, este é muito mais abundante no Rio que nos rios em geral. O Rio de Janeiro "vem-a-ser" o que "vem-a-ser" pela gritante oposição dos contratos. Por favor, não reduzam o que estou falando a luta de classes!!!!!! As oposições são muitas e muito além daquela que existe entre a zona sul e a zona norte.
Há um Rio que encanta e um Rio que espanta, um das fadas outro das bruxas, se um abençoa o outro joga praga, um hipnotiza o outro paraliza.
Vi um Rio idílico e edênico no Jardim Botânico. As árvores se contorciam pareciando posar para fotos que não podia tirar, não levei máquina e meu celular malemá manda mensagem. As palmeiras-imperiais perfilavam-se em continência para que eu, tomado de constrangimento no meio delas, passasse como que recebendo uma homenagem. As orquídeas, as bromélias, as costas do Cristo lá no alto... Ele apesar de estar de costas passeia exibido no meio de tanta exuberância. Mas é só dar um passo para fora do jardim que a selva de pedras e asfalto volta a imperar insana de tantos carros, ônibus e uma miríade de outras coisas. A cidade volta a se tornar cronicamente inviável, incaptável, inexprimível. Seus Baudelaires, Benjamins e outros reportadores calam-se.
Há um Rio onde tudo parece novela, cheguei a olhar para os lados para flagrar alguma falha do cenário. Cheguei a esperar pela vinheta que anuncia o intervalo, achei que iria encontrar com alguma Helena de Manuel Carlos. As pessoas tem voz de artista, as senhoras negras vestidas de branco balançam contentes os filhos louros do leblon em belos parques. Mas há também o Rio em que os sotaques vão mudando o charme e o glamour dão lugar a crueza e ao pragmatismo cotidiano e sem frescura. Há garotas de Ipanema, mas há também as pobres garotas (de programa) de Copacabana.
Poderia me alongar em muitas outras imagens e impressões, poderia repetir a fórmula dos últimos dois parágrafos por mais vinte ou trinta, mas basta. Voltemos ao velho Heráclito. O que dizer do Rio? Não se entra nele duas vezes. Não é um, não tem identidade, não se repetirá. Por isso mesmo voltarei logo que puder, não a este (que já nem é mais), mas a um outro próximo, quem sabe!?
M.U.C.C.
Os maestros dos futebol
Estou vivendo tempos interessantes. As coisas parecem fora de lugar, o mundo anda nonsense.
Fui a um concerto do Festival de Música de Londrina e fiquei pensando em futebol.
Um silêncio absoluto, confortável e raro. O maestro se prepara, a orquestra o obedece, o som rompe o silêncio e a música nasce.
Um concerto é um acontecimento extremamente estimulante, coloca meus ouvidos para pensar. Não consigo perder um minuto. Sem perceber, toda minha mente se põe a dançar.
Toda a cabeça se movimenta ao ver e ouvir a orquestra argumentar notas e mais notas com firmeza e eloquência. Debulho-me em epifanias e orgasmos intelectuais, tentando não me distanciar demais do próprio concerto.
Em um dado momento me lembrei do futebol.
É estranho como de uns anos pra cá os técnicos passaram a ser tratados como maestros. É mais estranho ainda perceber como muitos vestiram a carapuça. Cada vez mais vemos técnicos que só faltam entrar em campo de fraque, carregando batuta debaixo do braço, nariz angulado em 45º ou mais.
Na tradição da música erudita o maestro é realmente a figura central nas orquestras. A música de concerto é toda estruturada, da composição à performance, a partir desta hierarquia. Nesta forma de arte não há improviso, variação ou adaptação de momento, tudo deve se passar conforme previamente planejado pelo Maestro.
Esta idéia porém, não cabe no futebol. Em uma sinfonia não pode haver drible, o spalla não pode sair improvisando melodias. Tudo deve ser feito conforme o ensaiado. Se é isso que querem do futebol, me avisem para eu mudar de esporte.
Futebol bom mesmo é dos técnicos discretos, quase imperceptíveis como os bons árbitros. Nos terreiros, campos ou "soccer cities", futebol é arte de se fazer na hora, ao gosto do momento, no calor da peleja ou ao som das vuvuzelas. Boa lição deu o técnico da Espanha. Ele fala? Ele ri? Está triste? Gostou da Larissa Riquelme? Ninguém sabe e nem quer saber. Na Espanha o assunto é Casilhas e sua namorada, Iniesta, Fábregas,....
Os verdadeiros maestros do futebol brasileiro foram Didi, Ademir da Guia, Pelé, Gerson, Rivelino, Zico, Sócrates, Rivaldo.... e se tiver que colocar na lista algum técnico que seja o Bernardinho!
M.U.C.C.
Fui a um concerto do Festival de Música de Londrina e fiquei pensando em futebol.
Um silêncio absoluto, confortável e raro. O maestro se prepara, a orquestra o obedece, o som rompe o silêncio e a música nasce.
Um concerto é um acontecimento extremamente estimulante, coloca meus ouvidos para pensar. Não consigo perder um minuto. Sem perceber, toda minha mente se põe a dançar.
Toda a cabeça se movimenta ao ver e ouvir a orquestra argumentar notas e mais notas com firmeza e eloquência. Debulho-me em epifanias e orgasmos intelectuais, tentando não me distanciar demais do próprio concerto.
Em um dado momento me lembrei do futebol.
É estranho como de uns anos pra cá os técnicos passaram a ser tratados como maestros. É mais estranho ainda perceber como muitos vestiram a carapuça. Cada vez mais vemos técnicos que só faltam entrar em campo de fraque, carregando batuta debaixo do braço, nariz angulado em 45º ou mais.
Na tradição da música erudita o maestro é realmente a figura central nas orquestras. A música de concerto é toda estruturada, da composição à performance, a partir desta hierarquia. Nesta forma de arte não há improviso, variação ou adaptação de momento, tudo deve se passar conforme previamente planejado pelo Maestro.
Esta idéia porém, não cabe no futebol. Em uma sinfonia não pode haver drible, o spalla não pode sair improvisando melodias. Tudo deve ser feito conforme o ensaiado. Se é isso que querem do futebol, me avisem para eu mudar de esporte.
Futebol bom mesmo é dos técnicos discretos, quase imperceptíveis como os bons árbitros. Nos terreiros, campos ou "soccer cities", futebol é arte de se fazer na hora, ao gosto do momento, no calor da peleja ou ao som das vuvuzelas. Boa lição deu o técnico da Espanha. Ele fala? Ele ri? Está triste? Gostou da Larissa Riquelme? Ninguém sabe e nem quer saber. Na Espanha o assunto é Casilhas e sua namorada, Iniesta, Fábregas,....
Os verdadeiros maestros do futebol brasileiro foram Didi, Ademir da Guia, Pelé, Gerson, Rivelino, Zico, Sócrates, Rivaldo.... e se tiver que colocar na lista algum técnico que seja o Bernardinho!
M.U.C.C.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Sobre o meu texto II
Quase sempre quando vou utilizar este espaço, sinto-me pressionado a cumprir corretamente as regras de nossa língua.
Ingenuidade minha, a linguagem nasceu antes da gramática!
M.U.C.C.
Ingenuidade minha, a linguagem nasceu antes da gramática!
M.U.C.C.
domingo, 11 de julho de 2010
Enfim, 15 dias vivendo como um eupátrida!!!!!
Hoje quando acordei tive vontade de escrever um texto aqui. Um texto que fosse nojento, que chocasse o leitor, que lhe causasse um desconforto como andar com o tênis molhado ou ficar com a mão melada e não ter onde lavar. Fiquei compondo metáforas escatológicas, pensei em usar palavrões, falar desavergonhadamente coisas que fariam Dercy Gonçalves corar. Pensei em escrever uma (micrô)nica de terror, víceras...feridas...sangue...grosélia...ketchup....
Você, meu improvável leitor, pergunta, mas a troco do quê? A troco de nada, sô! Violência simbólica gratuita! Vontade de fazer o papel do bandido, vontade de ser lobo-mau. Vontade de não receber apoio, de não ser compreendido, queria ser mal-interpretado! Tá chocada, bem? Está me estranhando?
Com um pouco de sinceridade intelectual você concordará comigo, isso não é tão raro. Não se trata de idiossincrasia minha. O que fazia lotar as arenas e coliseus de Roma? O que faz subir a audiência do BBB em dia de eliminação? O que nos faz rir das videocassetadas? Qual a origem do sucesso dos vídeos de autópsias na internet? E o gosto pelas fofocas? Quanto mais cabeluda, quanto maior o infortúnio, a vergonha, tanto melhor!
Essa maldade latente a mim parece uma espinha. Nasce de nossos problemas e desordens internas, crescem de nossa incapacidade de nos livrar das toxinas que absorvemos no dia-dia. A vida ordinária nos obriga a engulir tanta porcaria que chega uma hora que já não podemos mais as expelir. Produzimos então a espinha da alma, a maldade banal. O prazer em pisar o inseto encurralado, a risada depois da queda de uma senhora debilitada, o gosto pela ofensa, o palavrão, o difamar. É uma manifestação feia que de tão recorrente se torna transparente para nosso juízo moral. A maldade cotidiana no fluir da vida passa a não parecer má.
Esse texto, espero que você tenha percebido, de certa forma matou a minha vontade matinal. Domada a maldade, atenuada sua adstringência, ela até que serviu a um bom fim. Penso que a tendência é diminuírem minhas espinhas nos próximos 15 dias, começou hoje minhas férias!!!!!!!!!
M.U.C.C.
Você, meu improvável leitor, pergunta, mas a troco do quê? A troco de nada, sô! Violência simbólica gratuita! Vontade de fazer o papel do bandido, vontade de ser lobo-mau. Vontade de não receber apoio, de não ser compreendido, queria ser mal-interpretado! Tá chocada, bem? Está me estranhando?
Com um pouco de sinceridade intelectual você concordará comigo, isso não é tão raro. Não se trata de idiossincrasia minha. O que fazia lotar as arenas e coliseus de Roma? O que faz subir a audiência do BBB em dia de eliminação? O que nos faz rir das videocassetadas? Qual a origem do sucesso dos vídeos de autópsias na internet? E o gosto pelas fofocas? Quanto mais cabeluda, quanto maior o infortúnio, a vergonha, tanto melhor!
Essa maldade latente a mim parece uma espinha. Nasce de nossos problemas e desordens internas, crescem de nossa incapacidade de nos livrar das toxinas que absorvemos no dia-dia. A vida ordinária nos obriga a engulir tanta porcaria que chega uma hora que já não podemos mais as expelir. Produzimos então a espinha da alma, a maldade banal. O prazer em pisar o inseto encurralado, a risada depois da queda de uma senhora debilitada, o gosto pela ofensa, o palavrão, o difamar. É uma manifestação feia que de tão recorrente se torna transparente para nosso juízo moral. A maldade cotidiana no fluir da vida passa a não parecer má.
Esse texto, espero que você tenha percebido, de certa forma matou a minha vontade matinal. Domada a maldade, atenuada sua adstringência, ela até que serviu a um bom fim. Penso que a tendência é diminuírem minhas espinhas nos próximos 15 dias, começou hoje minhas férias!!!!!!!!!
M.U.C.C.
domingo, 27 de junho de 2010
a lógica da lagartixa encurralada
Usar animais como alegoria da vida é clichê eu sei, mas vou insistir na idéia sem medo de ser feliz, ou de soar como livro de auto-ajuda. Afinal os animais são ótimas fontes de inspiração, sem eles não teríamos Tom e Jerry, Papa-léguas, o ursinho Poo - esse era dispensável. O que seria das professoras infantis sem o lobo-mau, sem as raposas das fábulas de Esopo e Fedro, ou ainda como poderíamos dormir sem as ovelhas que incansáveis pulam cercas que não as separam de lugar algum? Aliás, essas ovelhas praticam hipismo?
Observar o comportamento dos animais pode ser grande fonte de reflexão se pensarmos bem. Diz-se que o sumô surgiu a partir da observação das brigas dos ursos, assim como nas técnicas de Kong-Foo da de outros animais (quem não entendeu veja: PANDA, Kong-foo. Nas melhores locadoras ou barraquinhas de filme pirata).
Ontem enquanto tomava banho tive um encontro inusitado. Vi sair do canto direito do box uma mínima lagartixa quase transparente. Ela deslocou-se rapidamente pelo chão, atravessando todo o espaço molhado em que tomava banho e se escondeu na outra extremidade. Fiquei meio espantado, seus movimentos lembram os de seus parentes répteis maiores. De repente um micro-jacaré atravessando seu banheiro é um fato meio incomum, convenhamos. O bicho se acomodou em seu novo espaço e eu continuei meu banho. Até esqueci de sua existência. Até que as meninas aqui de casa foram tomar banho... Travamos uma verdadeira cruzada contra a pequena forasteira para que os banhos terminassem.
Este evento é irrelevante e ordinário eu sei, mas algo me fez pensar. No meio da peleja contra a terrível fera ela perdeu a calda. Minha filha explicou, me fazendo lembrar o "Mundo de Beackmann", que as lagartixas fazem isso quando sentem-se extremamente encurradas. Fazem isso para confundir o predador. O estranho é que a multilação acaba levando o animal à morte. Ela não sobrevive por muito tempo depois de perder a calda. A pergunta é , por que perder a calda então? Calma biólogos, é só uma alegoria...
Essa reação é interessante. A lagartixa não faz como a abelha que como última alternativa fere seu adversário, mas também morre logo em seguida. A Abelha é como aquelas pessoas que quando percebem que vão ser jogadas na piscina não lutam para se salvar, mas para levar junto aquele que empurra. A abelha tem um quê de Kamikase. A lagartixa é diferente.
Ela percebe que não pode vencer seu opositor e ao invés de reagir passionalmente como a abelha adota uma racionalidade pragmática de retardar ao máximo o suspiro final.Se não posso vencer nem fugir ganho tempo. Ela não se entrega docilmente, nem estribucha amargurada e raivosa, ela procrastina o encontro com o pior. Retarda a dentada que a multilará, multilando-se calculadamente.
Os animais sempre criam maneiras de enfrentar a morte, além da abelha e da lagartixa, podemos pensar no cordeiro e sua aceitação estóica, no porco e sua resistência militante ou ainda no boi e sua pacividade alienada. Predadores não faltam em nossas vidas, uns vem de fora e outros crescem por dentro, será possível vencê-los todos? Se não, como você reage ? Como lagartixa, abelha, porco, boi ou cordeiro?
Confesso que nesta noite de sábado ao ver a pequena lagartixa dar seus últimos suspiros, me vi um pouco presente em seu comportamento.
M.U.C.C.
Observar o comportamento dos animais pode ser grande fonte de reflexão se pensarmos bem. Diz-se que o sumô surgiu a partir da observação das brigas dos ursos, assim como nas técnicas de Kong-Foo da de outros animais (quem não entendeu veja: PANDA, Kong-foo. Nas melhores locadoras ou barraquinhas de filme pirata).
Ontem enquanto tomava banho tive um encontro inusitado. Vi sair do canto direito do box uma mínima lagartixa quase transparente. Ela deslocou-se rapidamente pelo chão, atravessando todo o espaço molhado em que tomava banho e se escondeu na outra extremidade. Fiquei meio espantado, seus movimentos lembram os de seus parentes répteis maiores. De repente um micro-jacaré atravessando seu banheiro é um fato meio incomum, convenhamos. O bicho se acomodou em seu novo espaço e eu continuei meu banho. Até esqueci de sua existência. Até que as meninas aqui de casa foram tomar banho... Travamos uma verdadeira cruzada contra a pequena forasteira para que os banhos terminassem.
Este evento é irrelevante e ordinário eu sei, mas algo me fez pensar. No meio da peleja contra a terrível fera ela perdeu a calda. Minha filha explicou, me fazendo lembrar o "Mundo de Beackmann", que as lagartixas fazem isso quando sentem-se extremamente encurradas. Fazem isso para confundir o predador. O estranho é que a multilação acaba levando o animal à morte. Ela não sobrevive por muito tempo depois de perder a calda. A pergunta é , por que perder a calda então? Calma biólogos, é só uma alegoria...
Essa reação é interessante. A lagartixa não faz como a abelha que como última alternativa fere seu adversário, mas também morre logo em seguida. A Abelha é como aquelas pessoas que quando percebem que vão ser jogadas na piscina não lutam para se salvar, mas para levar junto aquele que empurra. A abelha tem um quê de Kamikase. A lagartixa é diferente.
Ela percebe que não pode vencer seu opositor e ao invés de reagir passionalmente como a abelha adota uma racionalidade pragmática de retardar ao máximo o suspiro final.Se não posso vencer nem fugir ganho tempo. Ela não se entrega docilmente, nem estribucha amargurada e raivosa, ela procrastina o encontro com o pior. Retarda a dentada que a multilará, multilando-se calculadamente.
Os animais sempre criam maneiras de enfrentar a morte, além da abelha e da lagartixa, podemos pensar no cordeiro e sua aceitação estóica, no porco e sua resistência militante ou ainda no boi e sua pacividade alienada. Predadores não faltam em nossas vidas, uns vem de fora e outros crescem por dentro, será possível vencê-los todos? Se não, como você reage ? Como lagartixa, abelha, porco, boi ou cordeiro?
Confesso que nesta noite de sábado ao ver a pequena lagartixa dar seus últimos suspiros, me vi um pouco presente em seu comportamento.
M.U.C.C.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
The last of my desires
Não escrevo neste blog faz muito tempo. Fazia tempo que não sentia necessidade de escrever. Fazia tempo que me sentia como se não tivesse o que falar. Escrevo aqui por necessidade sem dúvida, mas esta necessidade não se manifestou nos últimos tempos. Felizmente ela voltou! Felizmente para mim que escrevo, para você que lê não sei...
Confesso na verdade, que a vontade de escrever é maior do que a necessidade de escrever. Isto é, escrevo não por ter o que transmitir, mas por querer compartilhar algo com, sabe Deus quem...Querer não estar só.... Querer não ser uma ostra... Querer ver nascer da ostra uma borboleta, talvez mariposa seja mais macho, que passeie em frente uma multidão e chama-lhes a atenção encantadoramente.
Escrevo para me sentir mais belo. Escrever é fácil, não se pode ser interrompido. Não há conflito, dialética, réplica, tréplica....Sou só eu quem fala, e pronto! não tem mais, não tem mas, não tem ninguém que não seja eu, ou não tem ninguém que não seja meu. Ainda mais em um terreno baldio como este blog, posso falar irresponsavelmente. Posso ser tão inconseqüente como um recém-nascido que é capaz de dar um passo confiante em direção ao abismo. Posso ter a ilusão temporária da liberdade.
Não tenho que dar audiência, não tenho que agradar, não preciso ser suficiente... Posso me dar ao luxo de desejar o último dos meus desejos!
M.U.C.C.
Confesso na verdade, que a vontade de escrever é maior do que a necessidade de escrever. Isto é, escrevo não por ter o que transmitir, mas por querer compartilhar algo com, sabe Deus quem...Querer não estar só.... Querer não ser uma ostra... Querer ver nascer da ostra uma borboleta, talvez mariposa seja mais macho, que passeie em frente uma multidão e chama-lhes a atenção encantadoramente.
Escrevo para me sentir mais belo. Escrever é fácil, não se pode ser interrompido. Não há conflito, dialética, réplica, tréplica....Sou só eu quem fala, e pronto! não tem mais, não tem mas, não tem ninguém que não seja eu, ou não tem ninguém que não seja meu. Ainda mais em um terreno baldio como este blog, posso falar irresponsavelmente. Posso ser tão inconseqüente como um recém-nascido que é capaz de dar um passo confiante em direção ao abismo. Posso ter a ilusão temporária da liberdade.
Não tenho que dar audiência, não tenho que agradar, não preciso ser suficiente... Posso me dar ao luxo de desejar o último dos meus desejos!
M.U.C.C.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Guarde a sandália dela / História de um valente
detalhe importante: junto com Germano Matias neste vídeo, está Raul de Souza grande trombonista brasileiro!!!!!!
M.U.C.C.
Lembranças Protagonistas!
Existem, em minhas memórias, lembranças banais. Coisas que aconteceram, provavelmente, e que não servem para mais do que dar alguma linearidade aos retalhos que guardo no baú das reminiscências. Seriam como um diálogo rápido entre dois figurantes em uma peça de teatro que serve apenas para dar a deixa para a entrada dos protagonistas.
Mas existem lembranças que protagonizam meu passado. Existem momentos que escrevem as manchetes das memórias. Acontecimentos que brilham em meio a um amontoado de recordações cinzentas. Foi assim quando assisti Paulo Autran em "O Avarento" de Molière, praticamente última montagem do artista. Até hoje me recordo da luminosidade daquele dia. O Painel de Portinari na entrada do teatro Cultura Artística, toda a graça, a leveza da obra de Molière, a energia de Autran e todo elenco.
Existem momentos que rompem a monotonia do cotidiano e surpreendem, tornam-se inesperadamente eternos. Como no dia em que assisti sozinho "A lista de Schindler" no sofá de minha casa em uma tarde ordinária e fria muitos anos após o lançamento do filme. Nunca tinha chorado assistindo um filme, mas de repente romperam-se os diques dos meus olhos, chorei como uma criança, chorei assistindo os extras do DVD.
Ontem fui ao show de Germano Matias, SESC Mariana em São Paulo, saí com a nítida impressão de ter vivido mais um desses momentos. Temo não ter a oportunidade de ver este representante de uma cultura brasileira que quase não mais existe outra vez. Germano tem 76 anos, eu vou poucas vezes a São Paulo. Por isso passei o show interior consciente desta condição, sorvendo cada acorde, cada nota do trombone, cada piada. Não preciso ver novamente.
Somos seres muito breves. Morremos muito novos, isso vale até para aqueles que superam a idade do próprio Germano Matias. A cultura é o que se perpetua. Carregada e reproduzida nos lombos de muitas gerações, a cultura é o canal pelo qual nos conectamos com uma longa linha de conhecimentos, emoções e comportamentos que compõem a humanidade.
Que muitos outros momentos como este eu ainda possa viver, que você também muito improvável leitor tenha os sete buracos da sua cabeça abertos para a cultura brasileira.
M.U.C.C.
Mas existem lembranças que protagonizam meu passado. Existem momentos que escrevem as manchetes das memórias. Acontecimentos que brilham em meio a um amontoado de recordações cinzentas. Foi assim quando assisti Paulo Autran em "O Avarento" de Molière, praticamente última montagem do artista. Até hoje me recordo da luminosidade daquele dia. O Painel de Portinari na entrada do teatro Cultura Artística, toda a graça, a leveza da obra de Molière, a energia de Autran e todo elenco.
Existem momentos que rompem a monotonia do cotidiano e surpreendem, tornam-se inesperadamente eternos. Como no dia em que assisti sozinho "A lista de Schindler" no sofá de minha casa em uma tarde ordinária e fria muitos anos após o lançamento do filme. Nunca tinha chorado assistindo um filme, mas de repente romperam-se os diques dos meus olhos, chorei como uma criança, chorei assistindo os extras do DVD.
Ontem fui ao show de Germano Matias, SESC Mariana em São Paulo, saí com a nítida impressão de ter vivido mais um desses momentos. Temo não ter a oportunidade de ver este representante de uma cultura brasileira que quase não mais existe outra vez. Germano tem 76 anos, eu vou poucas vezes a São Paulo. Por isso passei o show interior consciente desta condição, sorvendo cada acorde, cada nota do trombone, cada piada. Não preciso ver novamente.
Somos seres muito breves. Morremos muito novos, isso vale até para aqueles que superam a idade do próprio Germano Matias. A cultura é o que se perpetua. Carregada e reproduzida nos lombos de muitas gerações, a cultura é o canal pelo qual nos conectamos com uma longa linha de conhecimentos, emoções e comportamentos que compõem a humanidade.
Que muitos outros momentos como este eu ainda possa viver, que você também muito improvável leitor tenha os sete buracos da sua cabeça abertos para a cultura brasileira.
M.U.C.C.
domingo, 30 de maio de 2010
Milton Nascimento Nada sera como antes in New York City
Num domingo qualquer, qualquer hora, ventania em qualquer direção!
Sei que nada será como antes, amanhã!!
Resistindo na boca da noite um gosto de sol!!!
Isto lhe soa familiar? Bom fim de Domingo!
M.U.C.C.
M.U.C.C.
Jazz Milton Nascimiento ( Circo Marimbondo )
Grande balanço, deste monstro brasileiro chamado milton!
Seus Mil Tons, seus mil Sons...
Soam e tocam nossas vidas de maneira incrívelmente única!
De onde terá vindo tanto talento?
Onde nasce está "força estranha"?
Este rei sem estirpe eou dinastia?
Do Brasil!
M.U.C.C.
M.U.C.C.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Banda 3+1 Colégio Universitário Londrina
Apresentação ainda mais precária, Grande Henrique!!!!
M.U.C.C.
M.U.C.C.
Carolina / Pretinha - Seu Jorge Cover Profº Colégio Univesitario
Apresentação precária, mas é uma homenagem ao meu grande amigo Henrique!!
Todos continuemos orando pela sua recuperação e que em breve possamos estar tocando outras tantas músicas!!!!!
M.U.C.C.
M.U.C.C.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
a day in the life
Quando um guitarrista fantasmagórico se encontra com uma canção ectoplásmica!!!!!!!
M.U.C.C.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Amor fati (ou porque eu aprendi a dar um beijo na boca do presente)
Você, como eu, aprendeu a acreditar em finais felizes. Você como eu aprendeu a torcer pelo mocinho. Você como eu tem dificuldade em ser o que é, tem dificuldade em não querer ser mais, melhor, maior.
E se eu te dissesse para ser exatamentte o que se é? Se não fosse possível mudar nada, absolutamente nada. Eis a postura mais lúcida possível, terrivelmente lúcida. Não se pode fazer mais do que aceitar o presente em sua inelutibilidade, dançar com ele, amá-lo, quem sabe até desejá-lo ardentemente.
Não há o que fazer a não ser viver o presisamente hoje, a não ser experimentar o imediatamente vivo, a vida não foi, nem será, a vida é. É duro, é insuportavelmente amargo, mas é o que é. A vida não se apreresenta como opção, como múltipla escolha. A vida acontece. Cabe a nós amá-la em tudo o que de bom ou ruim ela nos proporciona. Pois só nos resta amá-la, não cabe reagir com ressentimento, a grandeza está em moldar-se a ela e deixar que ela nos faça maior.
Nosso projeto de vida, formatado por estruturas de romances e folhetins, que vá para o inferno! Esqueça o projeto! Esqueça a estrutura! solte as rédeas e viva o presente. Ou melhor, viva!!!!!
M.U.C.C.
E se eu te dissesse para ser exatamentte o que se é? Se não fosse possível mudar nada, absolutamente nada. Eis a postura mais lúcida possível, terrivelmente lúcida. Não se pode fazer mais do que aceitar o presente em sua inelutibilidade, dançar com ele, amá-lo, quem sabe até desejá-lo ardentemente.
Não há o que fazer a não ser viver o presisamente hoje, a não ser experimentar o imediatamente vivo, a vida não foi, nem será, a vida é. É duro, é insuportavelmente amargo, mas é o que é. A vida não se apreresenta como opção, como múltipla escolha. A vida acontece. Cabe a nós amá-la em tudo o que de bom ou ruim ela nos proporciona. Pois só nos resta amá-la, não cabe reagir com ressentimento, a grandeza está em moldar-se a ela e deixar que ela nos faça maior.
Nosso projeto de vida, formatado por estruturas de romances e folhetins, que vá para o inferno! Esqueça o projeto! Esqueça a estrutura! solte as rédeas e viva o presente. Ou melhor, viva!!!!!
M.U.C.C.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
terça-feira, 18 de maio de 2010
Palmeiras, sempre surpreendendo!!!!!!
De uma coisa nós palmeirenses não podemos reclamar, o que não faltam são surpresas ao longo deste ano. Não dá pra saber o que vai acontecer semana que vem, quando parece que seremos aniquilados pelo Santos na vila, virada espetacular!!!! Quando parecia que iríamos para as finais da copa do brasil, desclassificação bizarra!!!! Quando parecia que a monotonia tinha tomado conta do elenco, depois daquele jogo grotesco contra o vasco, nova surpresa jogadores caem na esbórnia e depois saem na mão com o treinador. Time sem técnico e sem centroavante!!!!!
Não tem como apertar o botão de reset e iniciar o ano outra vez?
M.U.C.C.
domingo, 16 de maio de 2010
Amanhecer é uma lição do universo
Já disse o poeta Renato Teixeira, "amanhecer é uma lição do universo, que nos ensina que é preciso reviver, o novo amanhece.
Está é uma lição para todos, uns tem de aprender por que são forçados, outros aprendem junto com este.
M.U.C.C.
Está é uma lição para todos, uns tem de aprender por que são forçados, outros aprendem junto com este.
M.U.C.C.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Cicatriz e Ruga
Hoje fiquei pensando muito sobre as cicatrizes. Cicatriz é totalmente diferente de ruga.
Ruga é um vinco produzido pela repetição de um gesto, um movimento. A ruga é o sinal da mortalidade, é o desgaste natural de tudo o que se pode desgastar. Rugas são inevitáveis. As rugas são como aqueles barulhos que aparecem nos carros com o passar do tempo, um inhec-inhec de uma mola velha, o grunhido de uma porta desgastada, um chiado esquisito no motor. Me faz lembrar o tic-tac do relógio na barriga do crocodilo que perseguia o capitão gancho. Em uma terra onde ninguém queria envelhecer nenhum inimigo pode ser pior que um relógio, pois nos faz lembrar que estamos perdendo o jogo da vida, estamos jogando xadrez com a morte. A ruga nos faz lembrar que o fim sempre se aproxima cada vez mais. A ruga retira de nós a eternidade.
As cicatrizes são piores. São traumas. A cicatriz não representa o fluxo natural das coisas como as rugas, elas são justamente uma ruptura do que é natural. A cicatriz é uma intervenção dolorida que se fez eternizar em nós. Pode-se argumentar, em defesa das cicatrizes,que ela é a superação de uma ferida. Pode-se pensar, contrariamente, que na verdade a cicatriz é quando a ferida já faz parte do nosso corpo totalmente e definitivamente. Carregar uma cicatriz é ter uma bola de ferro presa aos pés. É ter de se lembrar com frescor de quem já não é mais, é ter de continuar a pagar as dívidas que já não são mais minhas, é ter de satisfazer-se com as memórias.
Cutucando mansamente minhas cicatrizes agora, penso que gosto delas. Não foi paixão a primeira vista é verdade. Foi como apegar-se a um vilão de uma história, como aprender a gostar de vinho seco. Se elas realmente são bolas de ferro presas as minhas pernas, talvez estejam lá para não me deixar andar depressa demais.
M.U.C.C.
Ruga é um vinco produzido pela repetição de um gesto, um movimento. A ruga é o sinal da mortalidade, é o desgaste natural de tudo o que se pode desgastar. Rugas são inevitáveis. As rugas são como aqueles barulhos que aparecem nos carros com o passar do tempo, um inhec-inhec de uma mola velha, o grunhido de uma porta desgastada, um chiado esquisito no motor. Me faz lembrar o tic-tac do relógio na barriga do crocodilo que perseguia o capitão gancho. Em uma terra onde ninguém queria envelhecer nenhum inimigo pode ser pior que um relógio, pois nos faz lembrar que estamos perdendo o jogo da vida, estamos jogando xadrez com a morte. A ruga nos faz lembrar que o fim sempre se aproxima cada vez mais. A ruga retira de nós a eternidade.
As cicatrizes são piores. São traumas. A cicatriz não representa o fluxo natural das coisas como as rugas, elas são justamente uma ruptura do que é natural. A cicatriz é uma intervenção dolorida que se fez eternizar em nós. Pode-se argumentar, em defesa das cicatrizes,que ela é a superação de uma ferida. Pode-se pensar, contrariamente, que na verdade a cicatriz é quando a ferida já faz parte do nosso corpo totalmente e definitivamente. Carregar uma cicatriz é ter uma bola de ferro presa aos pés. É ter de se lembrar com frescor de quem já não é mais, é ter de continuar a pagar as dívidas que já não são mais minhas, é ter de satisfazer-se com as memórias.
Cutucando mansamente minhas cicatrizes agora, penso que gosto delas. Não foi paixão a primeira vista é verdade. Foi como apegar-se a um vilão de uma história, como aprender a gostar de vinho seco. Se elas realmente são bolas de ferro presas as minhas pernas, talvez estejam lá para não me deixar andar depressa demais.
M.U.C.C.
domingo, 9 de maio de 2010
O Consolador
Quando a vida de Jesus na terra já chegava ao fim, Ele disse que iria para junto do Pai, mas deixaria o Consolador.
Hoje fico pensando que se a vida não fosse uma experiência eminentemente trágica, se nossa condição existencial não fosse incompleta, se não fossemos enquanto animais os mais infelizes por sermos exatamente os mais conscientes, Jesus talvez se referisse ao Espírito Santo com outro adjetivo.
Para aqueles, como nós, que vivemos este espasmo existencial da vida temporal, em que ainda não O vemos face à face, viver é um caminho doloroso. Temos maior condição de entender do que de transformar as coisas. Somos muitas vezes tetraplégicos da consciência, damos ordens que não podem ser cumpridas, criamos respostas que não encontram ouvidos, propomos soluções que não são efetivadas na realidade. Não estamos no controle do mundo como muitas vezes nossa "racionalidade" delirante gostaria.
Você me acha amargo, deve estar quem sabe fazendo ilações sobre prováveis problemas que eu possa estar enfrentando. Não se trata disto, falo com a tranquilidade de quem brinca com seu cachorro. Você pode estar pensando, isso é pessimismo existencial, coisa da filosofia do século XIX, ledo engano. O que dizer da mensagem de lamentações? O que dizer da mensagem de eclesiastes?
A vida dos que caminham diante do Deus Santo (kadosh - absolutamente outro) é a vida de quem se depara constantemente com os limites e as imperfeições a que nós e toda a criação estamos submetidos. Nos deparamos com o incompleto, o limitado, o imperfeito, deste mundo caído. O que fazer? se desesperar? Apelar ao radicalismo? Respire fundo.... Lembre-se do Consolador!!!
Que aceitemos antes de mais nada nossa condição, não como quem abusa da graça, mas como quem sabe, assim como Deus sabe, nos dar uma nova oportunidade!!! O antídoto contra o desconsolo é fraternidade é enfrentarmos juntos as dificuldades!!! Se somos seres limitados e imperfeitos, todos somos assim. Os sofrimentos nos nivelam, quebram nossas bareiras, nossas posições.
A maior mensagem a esse respeito talvez tenha sido a de Jó. Qual foi a resposta de Jó à calamidade? Após encontrar-se com o Consolador, Jó entendeu que o trágico pode nos aproximar de Deus, pode nos amadurecer como pessoas, pode nos tirar do surto antropocêntrico. Aceitar nossos limites é adoração a Deus, é reconhecer quem é vaso e quem é Oleiro! é também viver melhor, estar mais preparado para encarar a vida!!!!
A vida é doce e eu sou diabético.
M.U.C.C.
Hoje fico pensando que se a vida não fosse uma experiência eminentemente trágica, se nossa condição existencial não fosse incompleta, se não fossemos enquanto animais os mais infelizes por sermos exatamente os mais conscientes, Jesus talvez se referisse ao Espírito Santo com outro adjetivo.
Para aqueles, como nós, que vivemos este espasmo existencial da vida temporal, em que ainda não O vemos face à face, viver é um caminho doloroso. Temos maior condição de entender do que de transformar as coisas. Somos muitas vezes tetraplégicos da consciência, damos ordens que não podem ser cumpridas, criamos respostas que não encontram ouvidos, propomos soluções que não são efetivadas na realidade. Não estamos no controle do mundo como muitas vezes nossa "racionalidade" delirante gostaria.
Você me acha amargo, deve estar quem sabe fazendo ilações sobre prováveis problemas que eu possa estar enfrentando. Não se trata disto, falo com a tranquilidade de quem brinca com seu cachorro. Você pode estar pensando, isso é pessimismo existencial, coisa da filosofia do século XIX, ledo engano. O que dizer da mensagem de lamentações? O que dizer da mensagem de eclesiastes?
A vida dos que caminham diante do Deus Santo (kadosh - absolutamente outro) é a vida de quem se depara constantemente com os limites e as imperfeições a que nós e toda a criação estamos submetidos. Nos deparamos com o incompleto, o limitado, o imperfeito, deste mundo caído. O que fazer? se desesperar? Apelar ao radicalismo? Respire fundo.... Lembre-se do Consolador!!!
Que aceitemos antes de mais nada nossa condição, não como quem abusa da graça, mas como quem sabe, assim como Deus sabe, nos dar uma nova oportunidade!!! O antídoto contra o desconsolo é fraternidade é enfrentarmos juntos as dificuldades!!! Se somos seres limitados e imperfeitos, todos somos assim. Os sofrimentos nos nivelam, quebram nossas bareiras, nossas posições.
A maior mensagem a esse respeito talvez tenha sido a de Jó. Qual foi a resposta de Jó à calamidade? Após encontrar-se com o Consolador, Jó entendeu que o trágico pode nos aproximar de Deus, pode nos amadurecer como pessoas, pode nos tirar do surto antropocêntrico. Aceitar nossos limites é adoração a Deus, é reconhecer quem é vaso e quem é Oleiro! é também viver melhor, estar mais preparado para encarar a vida!!!!
A vida é doce e eu sou diabético.
M.U.C.C.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
E o Flamengo Salva a Noite!!!!
Mengão eô!!
Para esquecer a desclassificação do Palmeiras, só com a desclassificação do galático curintia!
M.U.C.C.
Para esquecer a desclassificação do Palmeiras, só com a desclassificação do galático curintia!
M.U.C.C.
Sobre o mais recente fracasso da Sociedade Esportiva Palmeiras
O post anterior já era, confesso, uma reação a pífia performance do meu glorioso palestra nesta noite. Mais não resisti a ser mais direto. Que não se irritem os irmãos palestrinos, se é que alguém vai se dar ao trabalho de ler isto aqui, mas aqui o primeiro alvo dos disparos é o próprio pé.
Os jogadores do Palmeiras vêm desde o início da presente temporada se comportando com o espírito do funcionalismo público brasileiro. Que me desculpem também os colegas que, assim como eu, são funcionários públicos, mas a impressão que tenho é que a qualquer momento verei um cartão ponto sendo instalado no túnel que dá acesso ao gramado. Quase posso ver os jogadores suados, pero no mucho, trocando camisas, concedendo entrevistas e ao chegar no túnel picando cartões, abraçando seus pertences e voltando para casa pacíficamente.
Talvez a solução seja incluir conquistas de campeonatos em seus planos de carreira, apesar de que todos eles parecem estar estudando para passar em concursos de times europeus. Neste caso a solução deve ser ou a terceirização do serviço ou a privatização da empresa.
M.U.C.C.
O momento em que se separam os meninos dos homens!
Todos temos que enfrentar durante o curso de nossas vidas situações incertas, arriscadas, de grande tensão e que geram ansiedade e nervosismo. Alguns sentem corar, outros se arrepiam, outros gelam, outros ainda chegam a tremer.
Quase sempre o que nos aflige é a combinação da incerteza com a impotência. Existem momentos em que a incapacidade de determinarmos o futuro somada a incapacidade de controlá-lo leva-nos a um estado de choque. Nossas modalidades racionais parecem sofrer espasmos paralizantes, tudo o que funciona de maneira mecânica, impensada, quase involuntaria passa a necessitar de um proceder zeloso e atento como o de um aprendiz. Estranha-se o que é mais certo, convulsiona-se o que está mais sedimentado, tem-se dúvida até do próprio nome.
Nestes momentos surgem dois tipos de gente. Os que se apequenam, se introvertem, se enrolam para dentro de suas próprias bocas como se fossem meias. E os que permanecem sendo o que são. Não acredito que as personalidades histórico-cósmicas, como diria Hegel, os homens e mulheres decisivos dos grandes momentos, os Michael Jordans do basquete da vida real sejam pessoas que apresentem um "algo mais" nos momentos difíceis. Eles não são iluminados naquele momento, apenas permanecem brilhando com o brilho que sempre tiveram.
No fundo o que essas pessoas tem é uma maturidade existencial maior, muito provavelmente sem até se dar conta disto. Pois se o motivo do nervosismo é a incerteza e a impotência, nada mais normal para quem já sabe que estas são companheiras de todas as horas!
M.U.C.C.
Quase sempre o que nos aflige é a combinação da incerteza com a impotência. Existem momentos em que a incapacidade de determinarmos o futuro somada a incapacidade de controlá-lo leva-nos a um estado de choque. Nossas modalidades racionais parecem sofrer espasmos paralizantes, tudo o que funciona de maneira mecânica, impensada, quase involuntaria passa a necessitar de um proceder zeloso e atento como o de um aprendiz. Estranha-se o que é mais certo, convulsiona-se o que está mais sedimentado, tem-se dúvida até do próprio nome.
Nestes momentos surgem dois tipos de gente. Os que se apequenam, se introvertem, se enrolam para dentro de suas próprias bocas como se fossem meias. E os que permanecem sendo o que são. Não acredito que as personalidades histórico-cósmicas, como diria Hegel, os homens e mulheres decisivos dos grandes momentos, os Michael Jordans do basquete da vida real sejam pessoas que apresentem um "algo mais" nos momentos difíceis. Eles não são iluminados naquele momento, apenas permanecem brilhando com o brilho que sempre tiveram.
No fundo o que essas pessoas tem é uma maturidade existencial maior, muito provavelmente sem até se dar conta disto. Pois se o motivo do nervosismo é a incerteza e a impotência, nada mais normal para quem já sabe que estas são companheiras de todas as horas!
M.U.C.C.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Palmeiras: um time de dieta
Se pudéssemos comparar um jogo de futebol a um banquete, o torcedor do palmeiras anda de dieta. Anda comendo gelatina e queijo cotage.
M.U.C.C.
M.U.C.C.
terça-feira, 27 de abril de 2010
O casamento
Pensando o casamento não como o relacionamento que se desenvolve entre duas pessoas, mas como o ritual que se encena em um dia específico e em um lugar específico, este parece ser uma das metáforas mais poderosas que se projeta sobre os homens e mulheres ainda contemporaneamente. Uma metáfora resistente ao tempo, que se transforma se moderniza e aparentemente preserva sua relevância. (soou careta, mas...)
Pense em quantos filmes e novelas você já viu terminando em casamento, quantas vezes já chorou ou pelo menos se arrepiou ao ver uma noiva rompendo alva, sorridente e chorosa os corredores de uma igreja. Existem outros rituais tão significativos quanto o casamento que perderam a força na sociedade contemporânea. Quem tem ido a batizados? Quando chega o Natal e a Páscoa, quais são os rituais praticados pelas famílias? Assistir a missa do Galo? Um filme sobre Jesus na sessão da tarde? Os casamentos continuam importantes.
Quem já se pegou nervoso nos preparativos de uma colação de grau? Quem já se emocionou com as paradas militares do sete de setembro? Quem passou um dia inteiro em um spa se preparando para o alistamento no exército?
Mas o casamento é transtorno que acomete a toda uma vasta parentela de gentes que não se esgotam. É impressionante como as vidas se convulsionam com a eminência do evento, o casamento suga a atenção os planos e o esforço de pessoas quase no limiar da exaustão. O gasto financeiro implicado é distribuído em estrutura piramidal dos noivose seus pais até os convidados mais modestos, todos gastam com um casamento seja para não repetir a gravata ou o vestido ou comprar uma geladeira. Empresas e mais empresas refestelam-se em grandes montantes de lucros obtidos com serviços prestados aos noivos para a realização do ritual.
O mais curiosos porém, é que as pessoas se comportam como se estivessem diante de um ovo de páscoa. Pois, assim como é o caso desta calórica guloseima, o casamento parece importar mais pela casca do que pelo que há em seu interior. Eu não me lembro de encontrar uma noiva que em conversas dias antes do casamento queixe-se da incerteza da vida à dois, ou que confesse estar nervosa por encarar novas responsabilidades. As aflições referem-se ao buffet, a floricultura, o vestido, os convites, .... O caso é tão bizarro como seria se um vestibulando se preparasse para o vestibular unicamente comprando canetas ou apontando lápis.
Ao mesmo tempo que se observa esta histeria coletiva em relação ao casamento como mise en scène, esta hipertrofia de luzes e brilhos, esta espetacularização do rito de passagem. O casamento como aliança, concórdia, compartilhamento de si se esvazia cada vez mais. Talvez a própria hipertrofia do rito seja uma medida compensatória da atrofia do fenômeno relacional. Esta é a metáfora do casamento comtemporâneo, passamos a amar o símbolo e a desprezar o seu significado. Admiramos a dentadura, sua brancura, brilho e simetria, mas já não temos boca. Limpamos a casa, compramos móveis novos, camas de rei, banheiras de princesas e passamos o dia fora trabalhando como escravos!
Mais uma psicosociopatia contemporânea.
M.U.C.C.
Pense em quantos filmes e novelas você já viu terminando em casamento, quantas vezes já chorou ou pelo menos se arrepiou ao ver uma noiva rompendo alva, sorridente e chorosa os corredores de uma igreja. Existem outros rituais tão significativos quanto o casamento que perderam a força na sociedade contemporânea. Quem tem ido a batizados? Quando chega o Natal e a Páscoa, quais são os rituais praticados pelas famílias? Assistir a missa do Galo? Um filme sobre Jesus na sessão da tarde? Os casamentos continuam importantes.
Quem já se pegou nervoso nos preparativos de uma colação de grau? Quem já se emocionou com as paradas militares do sete de setembro? Quem passou um dia inteiro em um spa se preparando para o alistamento no exército?
Mas o casamento é transtorno que acomete a toda uma vasta parentela de gentes que não se esgotam. É impressionante como as vidas se convulsionam com a eminência do evento, o casamento suga a atenção os planos e o esforço de pessoas quase no limiar da exaustão. O gasto financeiro implicado é distribuído em estrutura piramidal dos noivose seus pais até os convidados mais modestos, todos gastam com um casamento seja para não repetir a gravata ou o vestido ou comprar uma geladeira. Empresas e mais empresas refestelam-se em grandes montantes de lucros obtidos com serviços prestados aos noivos para a realização do ritual.
O mais curiosos porém, é que as pessoas se comportam como se estivessem diante de um ovo de páscoa. Pois, assim como é o caso desta calórica guloseima, o casamento parece importar mais pela casca do que pelo que há em seu interior. Eu não me lembro de encontrar uma noiva que em conversas dias antes do casamento queixe-se da incerteza da vida à dois, ou que confesse estar nervosa por encarar novas responsabilidades. As aflições referem-se ao buffet, a floricultura, o vestido, os convites, .... O caso é tão bizarro como seria se um vestibulando se preparasse para o vestibular unicamente comprando canetas ou apontando lápis.
Ao mesmo tempo que se observa esta histeria coletiva em relação ao casamento como mise en scène, esta hipertrofia de luzes e brilhos, esta espetacularização do rito de passagem. O casamento como aliança, concórdia, compartilhamento de si se esvazia cada vez mais. Talvez a própria hipertrofia do rito seja uma medida compensatória da atrofia do fenômeno relacional. Esta é a metáfora do casamento comtemporâneo, passamos a amar o símbolo e a desprezar o seu significado. Admiramos a dentadura, sua brancura, brilho e simetria, mas já não temos boca. Limpamos a casa, compramos móveis novos, camas de rei, banheiras de princesas e passamos o dia fora trabalhando como escravos!
Mais uma psicosociopatia contemporânea.
M.U.C.C.
Assinar:
Postagens (Atom)